Capítulo XIII

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- Vejo que a noite foi maravilhosa. – Marcus falou assim que eu entrei em seu quarto.
- Vejo que isso não é da sua conta. – disse me sentando na cama – Mas sim, a noite foi maravilhosa.
- Eu nem acredito que você e o nosso vizinho se entenderam, melhor ainda, são um casal. – ele se sentou ao meu lado – Quem diria que seria alguém como Ian que lhe faria feliz.
- Alguém como Ian?
- É. Tão fodido quanto você.
- Esse papo outra vez? – falei, me levantando.
- Vai rolar esse papo até você contar a verdade pra ele.
- Marcus, eu vou contar, só preciso de tempo.
- Contando que esse seu tempo não seja igual ao de James, pra mim já é de bom tamanho. Vocês namoraram por quase dois anos e o cara nem te conhecia direito, Alana.
- É, mas com Ian vai ser diferente. É diferente! Poxa Marcus, tem uma grande chance de eu estar completamente apaixonada por ele.
- Tipo de falar as três palavrinhas?
- Tipo de falar as três palavrinhas e muito mais. Marcus, até família eu 'tô pensando em ter com o cara, coisa que eu nunca imaginei com nenhum dos meus namorados.
- Então é sério.
- Bota sério nisso. – cruzei os braços – Não quero perdê-lo, não quando eu acabei de recuperá-lo.
- E você não vai. – Marcus segurou em meus ombros – Eu vou parar de falar desse assunto, prometo. – ele me soltou – Agora vamos – ele arrumou os peitos que ele gostaria de ter – que eu tenho em britânico pra conquistar nessa fogueira.
- Alguém já te disse que você não tem peitos?
- Eu gosto de fingir que sou mulher às vezes, mulheres são tão poderosas. – Marcus jogou o cabelo que ele também gostaria de ter e saiu rebolando para fora do quarto. Segui Marcus até o corredor e logo que saí encontrei Sansa vindo com uma de suas primas.
- Alana! – Sansa correu até mim e me abraçou pela cintura.
- Oi, minha linda. – abracei-a de volta – Às vezes eu tenho a sensação de que quase não vejo você nessa viagem.
- Você ter vindo nessa viagem foi só uma desculpa pra você e Ian ficarem juntos, e já que vocês estão, é bom que aproveitem.
- Sansa!
- Mas é verdade! Londres não é Paris pra ser a cidade do amor, mas tem algo sobre essa cidade.
- É, realmente. – começamos a descer as escadas – Eu ainda acho que eu deveria passar mais tempo com você.
- Quando voltarmos pra Califórnia, nós podemos passar mais tempo juntas. Eu ainda quero visitar o resto que ficou no hospital.
- Somos duas então. Nós podemos ir juntas, que tal?
- Eu vou adorar.
- Vai adorar o quê, pirralha? – Ian falou pegando-a e rodopiando Sansa pela sala.
- Me solta, Ian! Eu não sou mais criança. – Sansa falou irritada.
- Claro que você é, sua pirralha.
- Eu vou te socar.
- Tão valente. – Ian colocou-a no chão – Tudo bem, vai lá, super adulta, eu rodopio outra pessoa. – Ian olhou pra mim e começou a andar na minha direção.
- Sai daqui, Jones. Ao contrário de Sansa, eu quebro a sua cara. – levantei as mãos.
-Quebra nada. – Ian me puxou pelas mãos e me abraçou pela cintura, começando a dar beijos no pescoço.
- Sai, Jones, isso faz cócegas. – falei, entre risos, tentando me desfazer do seu abraço.
- Vem agora quebrar a minha cara.
- Eu quebro mesmo.
- Só se for de tanto dar beijo. – Marcus falou descendo as escadas.
- Se for de beijo eu quero. – ele fez biquinho.
- Não tem beijinho aqui.
- Vocês dois são tão fofos, bateu até aquela ânsia de vômito agora. – Marcus falou revirando os olhos – Vocês não têm outro lugar pra ir não?
- Mas que mau humor!
- Na verdade, temos sim. – Ian se separou de mim – Acho até que estamos atrasados.
- Aonde vocês vão? – Fred perguntou.
- Jantar com meu pai e a nova namorada dele.
- Mentira! Seu pai tem namorada? – Marcus falou com a boca aberta – Ela é bonita? Ela é uma cobra? Ela vai ser sua madrasta? Será que ela vai ser boazinha ou malvada?
- Uou, Marcus, isso aqui não é um dos contos de fadas da Disney. Pelo o que eu vi dela, ela é bonita sim. Esse jantar é justamente pra isso, pra nós nos conhecermos melhor.
- E pro teu pai ficar de olho no Jones aí. – Marcus apontou para Ian.
- Ele sabe que eu vou cuidar bem da filha dele.
- Oh se sabe! – Marcus deu uma piscadela. Peguei uma almofada no sofá e joguei na cara dele – Ai, Alana.
- É pra você aprender a ficar de bico calado. – Marcus deu língua.
- Acho melhor nós irmos antes que isso aqui vire uma luta de MMA. – Ian me pegou pela mão – Tchau para os que ficam, até mais tarde.
- Tchau Sansa, meu amor. – dei um abraço forte nela – Tchau Fred, tchau Marcus.
- Não façam nada que eu não faria. – Marcus disse e eu mostrei-lhe o dedo do meio. Marcus fez uma cara de chocado e mostrou o dedo pra mim também.
- Vocês dois são fogo. – Ian falou abrindo a porta da mansão.
- Intimidade, meu caro Jones, é uma merda.
- Há quanto tempo vocês dois se conhecem?
- Nossa, na verdade, eu nem sei direito. Eu conheci Marcus logo quando eu entrei na faculdade, ele era amigo de uma das meninas com quem eu andava. Com a gente foi logo de cara, sabe? Foi questão de meses pra gente virar melhores amigos, Marcus sempre me fazia rir e, naquela época, rir era o que eu mais precisava. – ele abriu a porta do seu carro – Então somos praticamente inseparáveis desde então.
- Marcus também é publicitário? – ele perguntou ligando o carro.
- Não, na verdade, Marcus é formado em artes.
- Artes?
- Ele sempre disse que era só uma desculpa pra ver homens pelados, mas ele é muito bom. Ele deu aula por um tempo, mas aí percebeu que odeia adolescentes, então foi ser curador de uma galeria.
- Nunca imaginei Marcus como curador.
- Ele é muito bom com pessoas, só não dando aula, ele pode vender uma coleção inteira em um piscar de olhos. Ele convenceu o meu pai a um quadro super caro que ele tinha achado a coisa mais feia da exposição. Às vezes eu acho que Marcus foi uma bruxa na outra vida. – nós dois rimos – E como assim, publicitário também?
- O quê?
- Você perguntou se Marcus era publicitário também. Como é que você sabe que eu sou publicitária?
- Seu pai me disse. Ele sempre pediu sua ajuda com os assuntos da empresa e depois falava que um dia ia trazer você pra perto dele. – ele olhou pra mim de relance – Sabe o que eu sempre me pergunto? Como nós não nos conhecemos antes. Porque faz pelo menos uns três anos que eu conheço seu pai e ele nem ao menos mostrou uma foto sua atualmente. As que ele tem são de pelo menos anos atrás, e você era totalmente diferente. O cabelo, pelo menos.
- Ai Jesus! Eu vou matar o meu pai! Eu só não gosto de foto, e as únicas que ele tem de mim são de sete anos atrás. Eu era diferente, um diferente ruim.
- Olha, eu lembro de pouca coisa, mas que você era feia eu tenho certeza de que não era. – ele estacionou o carro.
O problema era que eu não estava falando de beleza, na verdade, por ser líder de torcida e a garota mais popular do colégio, eu sempre me cuidava. Cabelo, maquiagem e roupas eram as únicas coisas que passavam pela minha cabeça na época. O diferente que eu me referia era sobre o de dentro, da pessoa. No caso, da minha pessoa e o que ela fez anos atrás.
- Seu pai mora naquele prédio do outro lado da rua. – ele saiu do carro e eu o segui. O prédio ficava no final da rua.
- Ele se mudou? – perguntei olhando para o prédio, Ian estava pegando algo dentro do carro.
- Ele e Charlie agora moram juntos. – ele parou um instante – Ei, olha pra cá! – virei-me para trás e um flash me cegou.
- O que é que você está fazendo, Jones?
- Dando uma repaginada no seu álbum de fotos. – outro flash – Dá um sorrisinho aqui, faça amor com a câmera. – outro e mais outro – Vai, vizinha, dá um sorrisinho.
- Ian, quer parar? – tentei impedi-lo de continuar – Jones, para com isso!
- Tudo bem, eu paro. – ele falou abaixando a câmera. Era uma polaroide, daquelas de fotos instantâneas. Ian pegou as fotos e as colocou dentro da jaqueta.
- Jones, joga isso fora que eu aposto que está uma mais feia que a outra.
- Claro que não, vou guardar todas. – ele se aproximou – Agora vem cá, vamos tirar uma juntos.
- Eu não gosto de foto.
- Deixa de besteira. – ele me abraçou pela cintura e posicionou a câmera – Pronta? – assenti e ele posicionou a câmera. Eram típicas fotos de casais, abraçados, fazendo careta, outra eu beijando sua bochecha, outra ele beijando minha testa.
- Até que não ficaram ruins. – peguei a câmera de suas mãos enquanto ele via as fotos. Ainda tinha rolo na câmera quando eu decidi ter uma recordação do meu vizinho safado – Ei, Jones! – Ian levantou o olhar e eu tirei uma foto sua.
- Ah não, Alana.
- Você pode tirar foto minha e eu não posso tirar foto sua? – peguei a foto e coloquei dentro do meu casaco – Agora estamos quites. – estendi a câmera para ele, que a pegou e colocou dentro do carro.
- Você é muito engraçadinha, vizinha. – ele passou o braço por meus ombros.
- Você também não fica longe, vizinho. -falei, o abraçando pela cintura.
- Você acha que vamos ficar bem quando voltarmos pra casa?
- Claro que vamos, Ian. – olhei pra ele – Por que a pergunta?
- Sei lá, em casa a atmosfera é diferente.
- É, mas vai tudo ficar bem, você vai ver. – entramos no prédio.
- Senhor Jones, há quanto tempo. – o porteiro falou – Vejo que trouxe sua namorada dessa vez. O apartamento do senhor Bittencourt?
- É sim, podemos subir?
- Podem ficar à vontade. – fomos em direção ao elevador e Ian apertou o botão do quinto andar.
- Nervosa?
- Um pouco, já pensou se ela não gosta de mim?
- Eu acho que ela está pensando a mesma coisa. – ele riu – Relaxa, vocês duas vão se entender. E, além do mais, quem não gosta de você hein, minha vizinha pentelha?
- Eu sei, sou apaixonante mesmo, pode dizer, vizinho. – abracei-o pela cintura, saindo do elevador. Ian olhou pra mim com um sorriso no rosto, e depois beijou meu nariz.
- Às vezes eu acho que você nem sabe o quanto. – Ian tocou a campainha e eu me ajeitei. Meu pai abriu a porta com um sorriso no rosto e Charlie estava atrás dele, com um sorriso no rosto também.
- Vocês estão atrasados.
- O que são quinze minutos pra quem esperou meses pra ver a filha, hein? – abracei-o pelo pescoço – E a casa de vocês está com um cheiro ótimo. – soltei-me dele entrando em sua casa.
- Seu pai que cozinhou, ele disse que era seu prato preferido. – Charlie falou.
- Meu pai cozinhou? A cozinha ainda está intacta? – parei em frente a ela.
- Por incrível que pareça, sim.
- Eu sou Alana. – estendi a mão para ela.
- Eu sou Charlie. – ela ignorou minha mão e partiu para o abraço – Eu ouvi muito sobre você.
- Engraçado, eu não ouvi nada sobre você. – eu falei me afastando. Ian a cumprimentou.
- Isso é minha culpa, eu pedi pro seu pai não falar nada. Queria que nós nos conhecêssemos pessoalmente.
- Tudo bem. Acho que tudo tem uma hora certa pra acontecer. – meu pai parou ao lado dela com o maior sorriso no rosto. Eles formavam um belo casal.
- Não sabia que vocês dois namoravam, seu pai nunca mencionou esse pequeno detalhe.
- Vai ver é porque eu não sabia que a garota por qual Ian se dizia apaixonado era minha filha.
- Então você não sabia?
- Descobri quando fui na casa dos Franciellis e vi Alana lá.
- Uau! Que coincidência.
- Muita, mas, por favor, não se beijem na minha frente, ainda é meio perturbador. – meu pai fez careta – E então, vamos jantar?
- Vamos, estou louca pra provar essa sua comida, paizinho.

O jantar tinha sido maravilhoso, e a medida que tudo tinha acontecido e eu conheci Charlie melhor, eu pude ver que ela fazia meu pai muito feliz. Ela era uma mulher encantadora, e pelo jeito que eles se olhavam, dava até gosto de ver eles dois juntos. Não vou mentir que eu não senti uma pontada de ciúmes, mas meu pai merecia ser feliz, principalmente depois de tudo que eu fiz.
- Pai, eu não acredito que vou dizer isso, mas você está cozinhando divinamente. – falei jogando o guardanapo na mesa – Eu estou até assustada.
- Eu também fiquei quando ele fez a primeira refeição sozinho. – Charlie era chef de um restaurante, sua paixão pela comida foi como eles se conheceram. Ele foi jantar em seu restaurante com um amigo e, logo quando tudo acabou, ele decidiu dar parabéns ao chef. Foi amor à primeira vista e ele passou a frequentar o restaurante até criar coragem pra chamá-la pra sair. No terceiro encontro meu pai decidiu que iria cozinhar para Charlie, o que foi um completo desastre, já que meu pai não sabia fritar nem um ovo. Eles terminaram a noite com pizza, vinho e provavelmente muito sexo, mas essa parte eu decidi fingir que não sabia.
- Quando você for pra Califórnia, vou te obrigar a cozinhar pra mim.
- Ou o Ian pode cozinhar pra você.
- Você também é um chef, Ian? – Charlie perguntou.
- Só nas horas vagas.
- Nunca pensou em seguir carreira não?
- Já, mas você sabe, as coisas nem sempre saem como o planejado.
- Ainda dá tempo, você ainda é novo.
- É né, quem sabe.
- Quem sabe na próxima vez seja você cozinhando pra gente.
- É, quem sabe.
- Alana, você me ajuda a tirar a mesa? – meu pai perguntou.
- Claro. – levantei-me começando a recolher os pratos.
- Tem uma coisa que eu quero muito perguntar, mas sempre esqueço. Quem é aquela do quadro? – Ian perguntou, olhando para o quadro que ficava em cima da lareira no outro cômodo.
- É minha mãe.
- Você quase nunca fala da sua mãe, Alana. Vocês dois, na verdade.
- Ela faleceu faz alguns anos em um acidente de carro. – meu pai começou e eu abaixei o olhar – Alana estava terminando o colegial, faz uns três ou quatro anos.
- Cinco, na verdade. – falei, levantado o olhar.
- Desculpa, eu deveria saber que esse ainda é um assusto delicado.
- Não tem problema, faz muito tempo. Acho que posso arriscar dizer que já não dói tanto quanto antes. Volto já. – falei, me retirando da sala. A cozinha não ficava tão longe, graças a Deus, era capaz de eu cair com tudo pelo o estado em que minhas pernas se encontravam.
- Você deveria contar pra ele. – larguei os pratos em cima da pia – Ele merece saber.
- Eu sei, mas não agora.
- Que melhor hora do que agora? – meu pai colocou o resto da louça em cima do balcão – Você acabou de perdoá-lo pelo o que ele fez com Sansa, fica mais fácil dele te entender.
- Exatamente por isso que eu não quero contar. – olhei para ele – Olha o que eu fiz com ele, pai! Eu o torturei por semanas pelo o que ele fez com Sansa quando o que eu fiz nem chega a se comparar. Se eu falar, ele nunca mais vai olhar na minha cara, e eu não quero isso. Eu gosto muito dele, não quero perdê-lo outra vez.
- Se você acha que é o certo a fazer.
- Eu acho. Vou esperar a poeira baixar um pouco aí sim eu conto. – dei uma pausa – Não pense que só porque eu não contei que isso não me mata por dentro, na verdade, está me corroendo, mas agora não é a hora certa.
- Não estou julgando, só acho que ele precisa saber.
- Saber do quê? – Ian apareceu atrás de nós. Olhei para o meu pai assustada – Quem precisa saber do quê?
- Marcus. – olhei confusa para ele – Precisa saber que eu quero que Alana se mude pra Londres.
- O quê? – nós dois falamos – Por quê? – Ian completou.
- Ah, agora que eu tenho a Charlie, queria que Alana ficasse um tempo aqui para conhecê-la melhor. – olhei para ele – Uns meses, talvez.
- Mas Alana tem as crianças do hospital, não é? E Marcus.
- E você também né, seu bobo. – falei, andando até ele. Coloquei meus braços ao redor do seu pescoço e ele sorriu, colocando os seus ao redor da minha cintura – Acho que a gente já passou tempo demais separado, você não acha?
- Eu tenho certeza, agora não tem quem me faça ficar sem você. – ele deu um beijo estalado na minha bochecha.
- Isso seria tão bonito se você não fosse minha filha. – meu pai fez uma careta – Você dois deveriam ir, já está tarde.
- Claro, papito. – respondi me soltando de Ian – Vou só ver se Charlie ainda precisa de ajuda. – saí da cozinha e fui em direção à sala de jantar – Quer ajuda?
- Não precisa, hoje é o dia do seu pai lavar a louça, ele tira. – ela disse olhando pra mim – Olha Alana, eu quero te dizer que eu tenho as melhores intenções com seu pai. Ele é um cara incrível, um dos melhores, quero que você saiba que eu gosto muito dele.
- Você fala como se eu fosse a mãe dele. – me aproximei dela – Meu pai tem todo o direito a felicidade e, se a mesma é com você, quem sou eu pra impedi-los? Se vocês se amam do jeito que eu acho que vocês se amam, eu apoio de todo o coração. Eu sei que eu tenho uma cara meio de enjoada e ele já deve ter te contado o que eu fiz, mas eu só quero o melhor pro meu pai. E sem falar que vocês formam o belo casal.
- Eu não te julgo pelo que aconteceu.
- Acho que não precisa, eu já faço isso diariamente. – abaixei a cabeça e depois olhei para ela novamente – Quando forem à Califórnia, nós podemos fazer o jantar no apartamento do Ian.
- Eu iria adorar.
- Pensei que você tinha vindo ajudar Charlie a tirar o resto da mesa. – virei-me para trás e vi meu pai e Ian.
- Isso foi antes de descobrir que é a sua vez de lavar a louça.
- Charlie! Eu ia fazer Alana fazer metade do trabalho.
- Acho que não foi dessa vez. – parei ao lado do Ian, entrelaçando nossas mãos – Vamos?
- Claro. Obrigada pelo jantar, foi realmente muito bom. – andamos até a porta.
- Vamos ver se você cozinha tão bem quanto eu, hein Jones?! – meu pai abriu a porta.
- Isso aqui não é master chef, pai.
- Você é que pensa.
- Tchau pai. – abracei-o forte – Vou sentir saudades.
- Eu também, pirralha. Lembre que tem pai. – ele me soltou – E você, cuide da minha filha.
- Tchau, Charlie. – abracei-a também – Foi um prazer te conhecer, obrigada pelo jantar.
- Sempre que quiser vir, pode avisar. – ela me soltou – Foi um prazer. – andamos até a porta e eu dei um último abraço em meu pai.
- Se cuida, velhote. – falei andando até o elevador.
- Respeito, pirralha. – ele gritou antes que eu entrasse no mesmo.
- Eu não disse que ia dar tudo cedo?
- Ainda bem, Charlie é uma mulher incrível e eles fazem um casal muito lindo, você não acha?
- São mesmo. – ele passou o braço por meus ombros – Mas nós dois somos mais. – saímos do elevador se despedindo do porteiro.
Tudo estava correndo bem, as coisas finalmente pareciam estar no caminho certo. Exceto o fato do que não só meu pai, mas Marcus, insistirem para que eu contasse a verdade para Ian. Não era que eu não queria, eu queria, mas só não agora. Ou talvez eles estivessem certos e fosse melhor contar logo tudo de uma vez.
- Ian, eu tenho que falar uma coisa com você.
- Pode falar.
- É que é mais complicado do que parece porque eu tenho certeza de que quando eu te contar, eu tenho uma grande chance de te perder.
- Você está me assustando.
- Ian, há alguns anos eu... – meu celular começou a tocar – Eu não acredito! – peguei o celular no bolso e vi que Marcus ligava. Tinha pelo menos umas dez mensagens só dele. – O quê? – perguntei irritada.
- Nossa, que humor do cão! – Marcus disse do outro lado da linha – Nós temos que voltar pra casa, deu um problema na empresa e eu preciso que você me ajude.
- Com o quê, Marcus? Eu não sei nada sobre arte.
- Meu chef pediu pra eu fazer uma propaganda pra promover a galeria, mas eu esqueci totalmente. Eu preciso apresentar isso daqui dois dias.
- Você quer que eu faça uma propaganda pra uma galeria em dois dias?
- Ah Alana, por favor. A gente faz tudo no avião, já vi você fazer muita coisa com prazo mais curto. – soltei o ar pela boca. Tudo bem que eu queria ficar em Londres, mas nada iria mudar se eu voltasse pra Califórnia agora. Ou iria?
- Tudo bem.
- Eu vou ver se consigo nos colocar em um voo pra Califórnia ainda hoje. Muito obrigada, Alana! Eu te amo.
- Tchau, Marcus. – desliguei o telefone colocando-o de volta no bolso. Ian me olhava confuso com as mãos no bolso – Eu vou ter que voltar pra Califórnia hoje.
- Hoje? Mas por quê?
- Marcus teve um problema no trabalho e precisa da minha ajuda.
- Você não pode ajudar daqui?
- Nós dois sabemos que isso seria impossível. – aproximei-me dele, colocando meus braços ao redor do seu pescoço – Você não pode vir com a gente?
- Não, nós vamos amanhã pro interior pra casa de uma tia. Ela não pode viajar porque está presa no trabalho. – ele passou os braços por minha cintura – São só dois dias, dá pra aguentar.
- É mesmo, o que pode acontecer em dois dias? 


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