Capítulo IX

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Londres estava do jeito que eu esperava: fria e chuvosa. Papai que não escute meus pensamentos, mas eu não era fã número um do frio dessa cidade. Normalmente quando eu vinha para cá e ficava na casa de meu pai, aumentava o aquecedor a quase uma temperatura de uma praia no Havaí. Los Angeles era fria no inverno, mas nunca perto o suficiente de Londres em qualquer dia do ano.
Marcus veio o voo inteiro falando das festas que nós teríamos que ir e os antigos amigos que ele queria reencontrar e provavelmente o caso que ele teria com algum britânico super gostoso e rico.
- Não se esqueça que você prometeu me levar em alguma boate gay cara. - Ele disse descendo do carro.
- Mas eu não disse boates inglesas.
- Ah, não! Promessa é promessa, Alana. Em Los Angeles, em Londres, não faz tanta diferença assim.
- Pensei que Londres fosse diferente. - Falei, virando-me para ele.
- E é! Porém, não tão diferente assim. Você acha que eu sou o primeiro americano que vem atrás de um inglês gostoso para me perder nos braços? Aposto que deve ter mais americano que britânico. Oh sina essa que eu carrego. - Ele fechou a porta e nós olhamos para a mansão a nossa frente. Eu já tinha visto muitas mansões nesses programas que falam da vida das celebridades, mas eu nunca imaginaria que um dia chegaria perto de uma ou muito menos ser convidada para passar um tempo dentro de uma. Eu sabia que os Fontinelli eram ricos, mas não ao ponto de ter uma mansão parecida com a de Darcy de Orgulho e Preconceito.
Sansa estava descendo do carro enquanto Ian a ajudava. Nós não nós falamos o voo inteiro, mas isso não significa que não tenhamos trocados olhares algumas vezes.
- Mas a sua é ainda pior.
- Minha o quê?
- Sua sina. - Ele fez sinal com a cabeça. - Acho que não foi uma boa ideia você ter aceitado vir.
- Mas foi você que insistiu que eu viesse. "Você mesma disse que estava querendo ir à Londres." - Imitei-o.
- Mas eu posso mudar de ideia.
- E eu também! E eu acho que foi uma ótima ideia a gente ter vindo.
- Acha? - Ele olhou para mim. - Você acha! Alana, você quer nosso vizinho gostoso de volta?
- Bem, eu não sei. E não me pergunte como não sei, mas eu apenas não sei.
- Com isso eu posso ajudar. Temo duas opções, a primeira: você quer apenas ficar na boa com ele por causa da Sansa ou a segunda: você não apenas quer ficar de boa com ele por causa da Sansa, mas porque você está apaixonada por ele?
- E u não sei. - Marcus rolou os olhos.
- Deveria existir uma lei que te proibisse de falar "eu não sei".
- Digo, eu poderia conhecê-lo melhor nessa viagem e saber o porquê dele ter feito o que fez. - Ele me olhou com os olhos arregalados.
- Uau! Isso é que eu chamo de um pulo.
- O que isso deveria significar?
- Você não queria ver o cara nem pintado de ouro e agora quer saber os motivos dele? Me desculpe, mas eu acho que isso é muito vindo de você, a senhora "eu não faço nada de errado". Isso foi inesperado, pode até descartar minhas opções vou ter que pensar em outras.
- Vou fingir que você não disse isso.
- Mas isso não quer dizer que eu estou menos certo.
- Às vezes eu te odeio!
- Mas você me ama que eu sei. - Ele me abraçou de lado. - E eu só digo essas coisas porque eu lhe amo e quero que você seja feliz.
- Eu sei disso.
- Mesmo que você tenha pegado o nosso vizinho gostoso antes de mim.
- Marcus! - Dei um empurrão nele - Controle sua língua. - Sansa se aproximou e seu irmão veio logo atrás.
- Você vai adorar todo mundo, Alana. - Ela me pegou pela mão, me puxando em direção a casa. - Vovó disse que a família toda virá pra nossa festa de boas vindas.
- Festa de boas vindas? - Perguntei entrando no hall da casa. Do lado direito tinha uma sala com uma lareira e do lado esquerdo uma sala de estar com um número maior de sofá do que o normal, o que não era de se estranhar, já que a sala dava duas das do apartamento do Marcus. A frente tinha um corredor que parecia levar para a parte de trás da casa, do lado do mesmo havia uma escada que levava para os quartos, que aparentavam ser muitos.
- Vovó disse que é minha, mas também um pouquinho sua por tudo o que você fez por mim durante todo o tempo que eu passei no hospital.
- Alana está precisando mesmo de uma festa. - Olhei para trás, vendo Marcus ao lado de Ian, que riu do comentário do meu amigo. Por um momento eu esqueci o insulto que estava na ponta da minha língua e apenas me concentrei naquele sorriso que parecia não habitar aqueles lábios por um bom tempo.
- Vovó chamou todos os amigos dela. - Sansa fez com que minha atenção voltasse para ela novamente, enquanto ela me levava pela escada - Parece até que é aniversário de alguém, eu hein.
- Quem foi que disse que para comemorar precisa ser aniversário de alguém? - Falei, subindo as escadas correndo. - Vai ver sua avó quer mostrar a todos a sua história de superação. Quantas garotas conseguem voltar a andar depois de um acidente como o seu? Requer muita força de vontade.
- Acho que você tem uma parcela de culpa nisso.
- Tenho?
- Mas é claro que tem. Você é forte e você consegue passar essa força para os outros e não sou só eu que acho, todos lá no hospital diziam a mesma coisa, principalmente as crianças.
- Eu nunca pensei nisso dessa forma.
- Vai ver foi porque você não sabia que era capaz. Do mesmo jeito que você pensa que não é capaz de perdoar meu irmão, mas nós duas sabemos que isso não é verdade. - Sansa abriu a porta do quarto e me puxou para dentro. Às vezes, eu achava que Sansa tinha o poder de entrar no inconsciente das pessoas e arrancar aqueles pensamentos mais profundos e considerados loucos. Mas quando ela falava, com aqueles olhos esverdeados lhe encarando, apenas não parecia uma má ideia.
- Perdoar é um processo.
- E como está o seu processo em relação ao meu irmão? Está o favorecendo ou prejudicando?
- Favorecendo. - Olhei para frente e vi o amplo quarto. Havia uma cama de casal e em cada lado tinha uma grande janela que levava a uma varanda.
- Puta merda! - Marcus falou fazendo com que eu pulasse.
- Marcus! - Falei, me npara trás. - Por que você faz isso?
- É força do hábito. Você viu o tamanho desses quartos? Minha cozinha e minha sala cabem aqui dentro fácil e, se duvidar, o seu quarto também. - Ele se virou para Sansa. - Quando é que começam as inscrições para entrar na sua família? Aposto que devem ter aberto uma vaga depois do que seu irmão fez.
- Marcus! - Falei, dando um beliscão nele. Ian, que estava logo atrás, abaixou a cabeça. - Ele não...
- Está tudo bem. - Ele levantou a cabeça. - Meu quarto é aqui do lado caso você... Vocês precisem de alguma coisa. Com licença!
- Espera que eu vou com você. - Sansa correu em direção ao irmão, antes parando em minha frente. - Coloque um vestido bem bonito para hoje à noite. - Sansa pegou na mão do irmão e desapareceu pelo corredor.
- Marcus, eu ainda corto essa sua língua. - Falei me virando para ele, que estava jogado em cima da cama.
- Você sabe como eu sou, né?
- Sei. - Respondi, andando em direção a cama. - Mas isso não lhe da o direito de falar assim com ele.
- Eu não faço de propósito, eu juro. - Deitei ao seu lado. - É porque às vezes eu falo as coisas sem pensar.
- Eu sei.
- Sabe o que é mais engraçado de tudo isso? - Ele olhou para mim. - Há um mês você estava condenando o ser humano que tocasse no nome do nosso querido vizinho em questão e agora está defendendo-o.
- Eu sei. - Falei, me sentando na cama. - O que há de errado comigo? Será que eu estou ficando louca? Uma pessoa não pode mudar de opinião tão rápido, principalmente sobre alguém que você jurou odiar pelo resto da vida. Eu jurei não apenas para mim, mas para enfermeira Rose que no dia que eu encontrasse o irmão da Sansa ia enchê-lo de porrada até que ele começasse a chorar.
- Então por que você não vai?
- Porque eu não consigo! - Coloquei as mãos no rosto. - Não sei o porquê, mas eu simplesmente não consigo. Eu já pensei várias vezes em bater na porta dele e dar um soco no meio da cara dele, mas quando eu chego na porta do seu apartamento eu não consigo sair.
- Vai ver o problema não é ele, e sim você. - Olhei para ele.
- Mas não fui eu que deixei minha irmã no hospital sozinha.
- Mas por que você foi trabalhar de voluntária naquele hospital em primeiro lugar?
Eu... Eu não quero falar sobre isso.
- Mas deveria porque a única coisa que está entre você e sua felicidade é a sua culpa. - Ele deu um beijo no tipo da minha cabeça - Vá se arrumar, nós temos uma festa para ir. - Ele andou até a porta.

~•~

A festa estava rolando há mais ou menos duas horas e como Sansa disse, todos pareciam gostar de mim. Sansa me apresentou para todos os membros da sua família, alguns até me agradeceram pelo o que eu havia feito e eu simplesmente os lembrei que existiam muitas outras pessoas que elas deveriam agradecem além de mim, porém, parecia que nenhum deles estava me ouvido. Sansa disse que eles eram desse jeito mesmo, diretos e algumas vezes meio falsos.
- Você não deveria dizer isso da sua família. - Falei em seu ouvido.
- E me diz quem não tem problema com sua família. - Sansa passou a festa me levando de familiar a familiar, meus pés já doíam mais do que qualquer vez que Marcus me obrigava a ir em uma daquelas festas. Falando em Marcus, ele estava há mais de meia hora conversando com os primos de Sansa, Garret e Fred e estava se dando assustadoramente bem com eles. O que era bom para ele, já que ele estava em processo de esquecer aquele idiota do Sam.
- Sansa - me agachei ao seu lado -, eu vou até o bar, tudo bem para você?
- Aham. - Ela balançou a cabeça. - Mike estava me chamando para ir brincar de qualquer jeito.
- Tudo bem, então. - Falei dando um beijo em sua cabeça. Pedi licença das tias de Sansa (que eram muito chatas, devo ressaltar) e fui em direção ao bar. Minha cabeça doía de tanta baboseira que aquelas mulheres falavam.
- Uma dose de uísque, por favor. - Apoiei-me no balcão, massageando minhas têmporas.
- Você não acha que uísque é uma bebida muito forte para uma mulher, não? - Algum imbecil, provavelmente um dos primos meio machista que Sansa tinha, falou.
- Não tão forte quanto o soco que a mulher que vos fala pode dar. - Falei, me virando para trás. Porém não foi nenhum primo machista de Sansa que eu encontrei e sim um homem, nos seus 40 e pouco anos que eu conhecia antes mesmo de saber falar e que eu estava morrendo de saudades.
- Isso é jeito de falar com seu pai, menina? - Ele disse, abrindo os braços. Pulei com tudo em seu pescoço, quase o derrubando no chão. - Você já não é mais criança para ficar pulando no meu pescoço assim.
- Mas isso não significa que eu não sou mais a garotinha do papai. - Falei, soltando-o. Olhei para o lado, vendo Ian virar seu copo de wiskhy de uma só vez. - O que o senhor está fazendo aqui?
- Eu sou amigo da família. Eu fiz algumas campanhas para empresa. - Ele franziu o cenho - E você? O que está fazendo aqui?
- Eu sou amiga da família também. Sansa foi uma das garotinhas que eu cuidei quando era voluntária no hospital.
- Então você conhece o Ian aqui? - Ele colocou a mão no ombro dele.
- Pode-se dizer que sim.
- Jimmy! - A senhora Francielli apareceu do nada, abraçando meu pai pelo pescoço. - Que bom que você veio! - Ela olhou pra mim. - Vejo que conheceu a nova queridinha da família.
- Não só conheço, como ela é minha filha.
- Sua filha? Oh, isso é incrível!
- Ela é a minha consultora particular. - Meu pai me abraçou de lado. - Tão talentosa quanto a mãe.
- Essa menina não deixa de me surpreender. Melhor você correr em, Ian, se não vem outro e rouba esse tesouro de você. - senhora Francielli bateu nas costas do neto e saiu deixando para trás um Ian engasgado e um "tesouro" mais do que surpresa.
- Ian, você está bem? - Perguntei, batendo de leve na suas costas.
- Eu vou buscar outra bebida. Com licença. - Ele disse antes de se retirar.
- Eu perdi alguma coisa aqui, tesouro? - Meu pai perguntou, cruzando os braços.
- Ah, nada. Ian é meu vizinho. - Ele arregalou os olhos. - O que foi, pai?
- Então você é a garota que ele estava falando agora há pouco... Você o pegou de jeito, hein?
- Eu não diria isso.
- Claro e nem precisa, seus olhos lhe entregam. - Ele se apoiou no bar. - Ian não é uma má pessoa, na verdade, ele é um dos melhores rapazes que eu já conheci. - Ele levou o copo a boca. - Você deveria perdoá-lo, ele não fez por mal.
- Ele a abandonou sozinha naquele hospital. Eu entendo que ele tenha se assustado no começo, mas por que não voltou depois?
- E o que lhe fez ir trabalhar naquele hospital em primeiro lugar? - Abaixei a cabeça. - Todo mundo tem suas razões, seus medos e você deveria saber disso mais do que ninguém. Você, mais do que qualquer um, deveria entendê-lo.
- São duas histórias totalmente diferentes.
- Mas a culpa é a mesma. - Ele olhou para o seu relógio de pulso - Eu tenho que ir. - Ele me abraçou forte. - Se cuida, minha filha. - Ele me segurou pelos ombros. - E não seja uma filha desnaturada, ligue para o seu pai.
- Eu ligarei. Amo você.
- Eu também. - E assim ele foi embora.
- Seu pai já foi?
- Pelo amor de Deus, Marcus! - Virei-me para ele, dando-lhe um soco no ombro.
- Que isso,Alana? Para que essa violência?
- Para ver se você para de chegar de fininho e assustar os outros. - Sentei-me no banco do bar. - O que você quer?
- Tem um táxi esperando lá fora para nos levar para o maior clube gay dessa cidade. Falei com uns amigos meus e eles disseram que não tem como não superar aquele que não deve ser nomeado depois de receber uma lap-dance do stripper Raul.
- Agora?
- Agora! - Ele me puxou em direção à saída.
- Por que os strippers tem sempre que se chamar Raul? - Perguntei, colocando a mão na curva de seu braço.
- Porque todo gay que se preze adora um Raul.

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