Capítulo X

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Fazia uma semana que estávamos em Londres e segundo Marcus, nossas saídas escondidas estavam apenas começando. Senhora Francielli quase teve um treco quando nos pegou saindo no meio da noite de fininho, porém, segundo ela não estávamos muito diferentes dela quando adolescente. Ela então sugeriu que o se motorista nós levássemos para onde quiséssemos. Marcus aceito na mesma hora e depois que Marcus decidia alguma coisa parecia que nada que eu falasse o faria mudar de ideia. Senhora Francielli prometeu nos ajudar se nós prometêssemos sermos os turistas perfeitos para Sansa, que fazia questão de nós levar para todos os pontos turísticos de Londres.
E por isso estávamos no jogo anual da família Francielli, Sansa estava pulando na lateral do campo com uma camisa maior do que ela com o nome do seu irmão nas costas. E essa era a única coisa que eu tinha prestando atenção porque logo depois todas as tequilas que eu bebi na noite anterior decidiram fazer efeito em forma de uma ressaca.
E como se ainda não pudesse piorar, as "líderes de torcidas" dos times faziam questão de gritar os gritos de guerra o mais alto que suas vozes permitissem.
- Eu já comentei que eu não suporto líderes de torcidas? - falei, dando um gole em minha água - E parece que nem com os anos elas melhoras, pelo contrário, estão mais irritantes.
- Você estudou com algumas delas? - Marcus perguntou apontando para as garotas ao lado do campo.
- Não, mas todas as líderes de torcidas são igualmente irritantes. - ele riu.
- Eu sem quis ser líder de torcida. - Marcus começou e eu olhei com o olhar desaprovador - O que? Era apenas um passo dos gatos do time de futebol e todo mundo gostava de ficar perto deles.
- Eu não. - me apoiei no batente atrás de mim - Eu apenas não os achava interessantes, eles eram como todos os outros.
- Como todo os outros? Isso só pode ser brincadeira! Eles eram deuses gregos do Olímpio e você dizendo que eles eram como todos os outros?
- Você não estudou comigo no colégio então não tem como saber se eles eram deuses ou não.
- Ah, mas tem sim. Não importa o colégio, os caras do time de futebol sempre são os mais gatos.
- Marcus, você é tão clichê.
- Ah não, você que é a clichê aqui, chefe das líderes de torcida. - eu sorri.
Por mais que eu quisesse, Marcus nunca iria esquecer do primeiro dia em que conversamos e eu lhe contei minha história de vida porque segundo ele era a vida que ele queria ter se fosse uma mulher. Não era que eu não gostasse de ser líder de torcida, na verdade, eu até gostava pois era a única coisa perto de ginástica rítmica que tinha naquele colégio, mas a atenção desnecessária que eu recebia por causa disso fazia com que eu rolasse os olhos até a parte de trás da minha cabeça.
- Você não tem vontade de voltar?
- A ser líder de torcida? - perguntei, olhando para ele - Claro que não.
- Não, a fazer ginástica rítmica.
- Não.
- Por que não?
- Porque não.
- Mas porque não, não é resposta.
- Tanto é como é a única coisa que você vai conseguir.
- Mas nós dois sabemos que tem mais dessa história. - ele olhou para mim. Eu juro que estava a ponto de formular o maior discurso carregado de palavras mal criadas quando senti um impacto fazendo com que eu batesse as costas na arquibancada atrás de mim. Quando abri os olhos pude ver uma cabeça em meu colo, o garoto então saiu do mesmo e começou a se desculpa.
- Oh, me desculpe. Você está bem? Eu te machuquei?
- Não, não. Eu estou bem.
- Tem certeza? Eu te acertei bem feio. - ele sorriu de lado e naquele momento eu percebi o quão bonito era o cara que provavelmente tinha deixado um roxo até na minha alma.
- Tenho sim. - balancei a cabeça.
- Se você sentir qualquer dor, me chame. - ele pegou minha mão e a beijou - Eu sou Fred e não precisa dizer seu nome porque todo Francielli sabe quem você é. Até depois, Alana. - ele voltou para o campo, porém o juiz deu como terminado pois não queria que mais ninguém se machucasse.
- Graças a Deus! - falei, me levantando - Não tem nada que me impeça de não me jogar naquela cama maravilhosa e dormir nem que seja por meia hora.
- Alana, - Sansa apareceu em minha frente - meus primos estão indo até o campo de videiras, você quer ir?
- Agora?
- Sim. - ela juntou as mãos - Por favor, por favor, vamos!
- Mas é claro, meu anjo. - respondi, dando um beijo no tipo da sua cabeça.
- Você vem também, Marcus? - ela olhou para ele que fez uma careta.
- Eu vou passar essa.
- Você que sabe, não sabe o que está perdendo. - Sansa me puxou para fora da arquibancada em direção ao campo.
- Sansa, eu fico impressionado com sua habilidade de arrastar as pessoas. - olhamos para o lado vendo Fred, o primo de Sansa, ao nosso lado - Você tem muita força pra alguém do seu tamanho.
- Ou deve ser o fato de que a Alana está de ressaca. - arregalei os olhos.
- Como? Eu não estou de ressaca, eu...
- Oh, me poupe! - Sansa soltou minha mão - Óculos escuros e muita agua? Você acha que eu não conheço? - ela apontou com a cabeça para Ian que conversava animadamente com um de seus primos - Não se preocupe, eu não vou contar pra ninguém. - ela deu de ombros e saiu saltitando em direção ao seu primo.
- Eu posso explicar. - falei, me virando para Fred - Antes que você pense que eu sou uma daquelas garotas que se aproveitam da boa vontade dos outros, vou logo esclarecendo que não sou. Eu juro que só saio toda noite por causa do Marcus pra ver se ele tira a cabeça dele do idiota do ex-namorado que o traiu. - ele arregalou os olhos - Ok, um pouquinho por causa de mim também, se você soubesse...
- Uou! - ele me interrompeu - Ei, eu não estou te julgando não. - ele colocou a mão em meu ombro - Você tem todo o direto de querer sair um pouco, aliás, a noite de Londres é uma das melhores de toda a Europa. Você não precisa me explicar motivo algum, eu já sei.
- Sabe? - perguntei olhando para ele.
- Não é muito difícil de perceber, sabe? - ele olhou para o lado fazendo com que eu olhasse também. Respirei fundo e olhei para frente, nós já estávamos a alguns passos dos campos de videira que se estendia até o final da propriedade dos Franciellis - Mas eu não vou falar sobre isso, vamos falar sobre você.
- Sobre mim?
- É. O que você faz da sua vida?
- Bem, eu sou publicitária, mas no momento estou desempregada porque minha mãe deixou uma herança para mim que eu da para resto da minha vida e meu pai me pede ajuda uma vez ou outra para ter uma desculpa pra colocar dinheiro na minha conta. Pode rir, eu sou um clichê.
- Clichê seria se você realmente tivesse que trabalhar como todas as outras pessoas do mundo. - o olhei incrédulo dando-lhe um empurrão - Outch! Eu não estou em posição de lhe julgar, eu trabalho na mesma empresa que todos da minha família. De pai para filho, sabe como é que é.
- Imagino. - o cheiro de uva ficava cada vez mais forte e logo todos ja estavam parados dando atenção para um homem que parecia ser o encarregado das plantações.
- Então como você foi trabalhar naquele hospital? - olhei para frente - Foi da bondade do seu coração ou ordem de um juiz? - ele riu.
- Fred! - o homem falou fazendo com que nossa atenção voltasse para ele - Deixe a moça em paz, é a primeira vez dela aqui e eu quero que ela saia daqui conhecendo um pouco dos Franciellis. Vá arrumar alguma coisa pra fazer!
- Desculpe! - Fred saiu e se perdeu entre as videiras. O senhor começou a explicar a história da família Francielli e de como eles fizeram sua fortuna antes de entra no meio da beleza feminina, segundo ele tudo aconteceu no século XIX quando os ancestrais de Sansa decidiram começar as fabricações de vinho para as festas que os Franciellis costumavam dar até que um dia, cheios de dívidas os Franciellis decidiram comercializar seus vinhos e conseguiram quitar as dívidas e até fazer mais algumas.
A fabricação de vinho está na família desde então, até que a avó de Sansa, senhora Francielli ou simplesmente Joanna decidiu que queria seguir um caminho diferente e foi fazer faculdade de moda e anos depois montou sua própria marca. Segundo Martin, Joanna fez tudo sozinha e não esperava crescer tanto no mundo da moda ou muito menos que sua família a apoiasse tanto a ponto de ajudá-la abrir lojas e quitar algumas dívidas.
A marca de Joanna agora tinha não só uma marca de roupa, mas também de acessórios, sapatos e até de cosméticos. O que fazia me lembrar da campanha na qual eu estava ajudando meu pai a bolar antes de vir a Londres.
- Então, - Martin se aproximou de mim com um copo de suco de uva em mãos - gostou de conhecer um pouco da história da família de Sansa?
- Sim! - falei, pegando o copo de suas mãos e bebendo um pouco do conteúdo - Obrigada! Sansa nunca falava muito da sua vida do outro lado do oceano então conhecer um pouco do passado dela é muito bom.
- Então você não sabe sobre os pais dela? - olhei para ele.
- Não! O que aconteceu com os pais dela?
- Alana! - Sansa apareceu do nada fazendo com que eu pulasse - Nós queremos voltar pra casa, mas não conseguimos achar o Fred, tem como você ajudar?
- Claro meu amor. - quando me virei para Martin, ele já não estava mais lá porém me deixou com uma dúvida: o que tinha acontecido com os pais de Sansa? Digo, eu já tinha vistos os seus avós tanto os vindos de Londres quanto os de Los Angeles, porém, nunca seus pais. Sansa também nunca tocou no nome deles e, devo admitir, eu nunca tive a curiosidade de perguntar. Eu apenas presume que eles já não estavam mais entre nós já que seus avós eram os únicos que a visitavam e ela morava com seu irmão antes do acidente.
- Você vai por aquele lado, e eu vou por esse. - Sansa disse apontando para que eu fosse na direção oposta. Andei por entre os vinhedos olhando para os lados na esperança de encontrar Sam, porém, a medida que eu andava a única coisa que eu conseguia escutar foram alguém que aparentava ofegar.
Eu deveria saber, eu já tinha flagrado Sam e Marcus muitas vezes, porém, acho que não vezes o suficiente porque quando olhei para o lado vendo Fred e um dos empregados fazendo o que eu tanto flagrei Marcus fazendo, eu soltei um grito fazendo com que eles se ajeitassem. Fred olhou para mim com um olhar suplicante e eu entendia exatamente o que estava acontecendo.
- Alana, você está bem? - Sansa perguntou começando a andar em minha direção.
- Eu só me desequilibrei. - falei, olhando para ela - Agora que eu lembrei: Fred disse que ia voltar para casa porque não estava se sentido bem. E nós deveríamos fazer o mesmo. - empurrei Sansa pelos ombros para fora do campo.
- Você tem razão. Nós temos que nos arrumar pra fogueira mais tarde.
- Fogueira? - perguntei, olhando para ela - Nessa casa a festa nunca acaba não?
- Não. - ela riu - É uma tradição de família e já como estão todos os primos presentes fica tudo mais fácil.
- E você está gostando de passar esse tempo aqui? - perguntei, colocando o braço em seu ombro - Rever sua família, seus primos e essas coisas?
- Mas é claro! Eu sempre sinto falta de Londres, eu queria poder voltar a morar aqui.
- Voltar? Você já morou aqui?
- Já sim. Meu pai é inglês e minha mãe era americana.
- Era? Sua mãe... Ela morreu?
- Faz um tempo. Acho que uns três anos.
- Eu... Eu sinto muito, Sansa.
- Por que?
- Porque nesse tempo todo que eu fiquei com você lá no hospital eu nem tive a curiosidade de perguntar sobre você. Eu estava muito ocupada suprimindo o ódio pelo seu irmão.
- Pois não deveria! Ian é uma pessoa boa que tomou algumas decisões não tão boas. Vai me dizer que você nunca fez alguma coisa que se arrependesse? - abaixei a cabeça. Será que todo mundo estava fazendo complô pra falar do assunto que eu mais tentava evitar?
- Acho que todo mundo já fez.
- Então pronto! Conheça o Ian mais um pouco, aí você vai ser o quão bom é o coração dele e pode até ser que vocês fiquem juntos.
- Sansa...
- Apenas tente. - ela disse entrando na casa - Por mim. - ela colocou o braço em volta da minha cintura - Você não ficou com raiva dele por minha causa?
- Não foi por sua causa.
- Mas foi por causa do que ele fez comigo. - ela falou enquanto subíamos a escada - Você acha que eu não fiquei com raiva quando ele não voltou? Ele é meu irmão, pelo amor de Deus, obvio que eu jurei nunca mais olhar na cara dele. Porém eu percebi que Ian precisava de tempo pra entender tudo. Era ele que estava dirigindo o carro, você não acha que ele não se culpa todos os dias por causa disso? Eu sei que sim porque eu vejo isso nos olhos deles. - entramos no corredor dos quartos - Eu sei que eu sou só uma criança, mas eu também não sou burra né. Eu observo as coisas.
- Olha que para uma criança você está mais sensata que um adulto. - respondi, sorrindo - Eu não vou prometer nada, mas eu juro que vou tentar.
- Então o Ian ja está perdoado. - ela disse quando paramos na porta do meu quarto.
- Como assim?
- Lembra daquela vez que você disse que não conseguia mais fazer aquelas cambalhotas iguais as líderes de torcidas do filme?
- Mas ali era diferente, eu já sabia fazer aquilo desde criança.
- E você sabe que já o perdoou. - Sansa saiu pelo corredor saltitante e eu me perguntava seriamente se aquela criança tinha algum poder psíquico porque essa era a única explicação para a sua habilidade de ler meus pensamentos antes mesmo que eu tentasse entende-los. Sansa era uma criança genial e não iria me assustar se ela fosse estudar em uma dessas faculdades como Harward, Yale ou Oxford.
Entrei no quarto e logo dei um pulo para trás porque sentando em minha cama estava Fred com os olhos vermelhos abraçado em um travesseiro.
- Eu posso explicar! - ele falou, se levantando - Você tem que saber, você precisa saber que eu não escolhi ser assim.
- Fred, isso não é uma coisa que você escolhe, você já nasce assim.
- Meu pai não pensa desse jeito. Ai meu Deus, Alana você não pode contar pra ele. Ele vai me matar! - ele começou a andar de um lado pro outro.
- Fred, - falei segurando-o pelos ombros - eu não vou contar pra ninguém, eu não tenho esse direito. É uma coisa sua, você é que tem que fazer a escolha de contar pra quem você quiser. Eu não estou aqui pra te julgar, eu estou aqui pra te ajudar. - ele me abraçou.
- Oh Alana! Como eu queria que todo mundo pensasse que nem você, mas infelizmente, eles não pensam. Especialmente as pessoas da minha família, e principalmente, depois do que aconteceu com o William. - ele me soltou e sentou-se na cama.
- Quem é William? Seu primo? Namorado? Irmão? - perguntei, cruzando os braços.
- Não, tio William, pai de Sansa. - ele olhou para mim - Você não sabe o que ele fez?
- Não. O que ele fez?
- Ele foi expulso daqui.
- Expulso? Por que?
- Porque ele se apaixonou outra vez. Por um homem. - eu provavelmente fiquei com a expressão surpresa por mais tempo do que eu deveria pois Fred começou a estalar os dedos na minha cara pra que eu acordasse do transe - Eu vou me arrumar pra fogueira. - Fred passou por mim tão rápido que eu nem pude nem ao menos pensar na hipótese de segura-lo pelo braço e faze-lo explicar essa história direito.
E tão rápido como Fred, Marcus entrou no meu quarto com o maior sorriso que eu o já vi usar desde Sam.
- Nossa! Parece até que você viu um fantasma. - ele disse fechando a porta - O que você está fazendo ai parada?
- Que?
- Vai se arrumar, mulher! - Marcus começou a me empurrar em direção ao banheiro.
- Marcus, - falei, me virando para ele - eu preciso te dizer uma coisa.
- Diz ué. - olhei para ele lembrando da situação em que Fred estava há apenas alguns minutos. Acho melhor não contar para Marcus, não agora.
- Nada não. Escolhe ai uma roupa pra mim.
- Serio?
- Serio.
- Finalmente! - ele jogou as mãos pro alto - É hoje que o nosso vizinho gostosão se apaixona por você de novo.
- Menos Marcus, bem menos.


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