Capítulo IV

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- Alana, acorda. - Alguém me balançava. - Alana, acorda.
- Vai para o inferno. - Falei, colocando o travesseiro em meu rosto.
- Alana, a casa está pegando fogo. Acorda. - Abri os olhos rapidamente e me sentei na cama. Ian estava sentado ao meu lado gargalhando alto enquanto olhava pra mim. - Sua cara foi hilária. - Olhei para ele incrédula, dando um soco em seu ombro - Ouch! Precisava ser tão forte?
- Precisava sim, Jones. - olhei para o meu despertador ao lado da cama, que marcava oito e meia - Que tipo de brincadeira é essa? Por que você me acordou a essa hora? Você tem noção do quanto eu esperei para poder acordar tarde? Eu vou te matar, Jones. - falei ficando ajoelhada na cama e começando a dar socos em seu braço - Seu idiota, eu te odeio. - inclinei-me para cima dele dando socos por todo seu peitoral nu.
Eu não tinha percebido logo de primeira, mas Ian estava sem blusa, usando apenas a boxer de ontem.
Não que eu quisesse ter visto - o que obviamente eu não queria -, mas o que eu podia fazer se eu tinha ido buscar um copo d'água na cozinha e por acaso Ian estava tirando a blusa e mostrando aquelas costas perfeitamente definidas e musculosas e, depois, tirando as calças e ficando apenas de boxer em um segundo? Se eu jogasse para o outro time eu não tinha olhado, mas que mulher resistiria a um homem extremamente charmoso ficando com pouquíssimas roupas em sua sala de estar? Eu sei, o Jones não era o homem que todas as mulheres desejavam para passar pelo resto da vida, mas nada evitava o fato de que quando seus pais o estavam fazendo, fizeram com muito amor. Eu já havia visto homens bonitos, mas Ian superava qualquer um deles com aquele corpo de deus grego e olhos esverdeados.
Falando em olhos, aqueles poderiam atrair qualquer mulher para sua rede de conquista e, por um instante, eu até pude entender porque as mulheres se jogavam pra cima dele. Não era apenas o corpo que fazia dele um objeto de desejo, eram seus olhos. E eu podia jurar que todas as vezes que ele olhava em meus olhos com aqueles globos esverdeados, todo o meu corpo entrava em colapso e eu logo estava boba, sorrindo para ele. Eu me jogaria em cima dele com toda a certeza, pensei balançando a cabeça.
- Isso dói, Alana. - ele falou segurando meus pulsos, fazendo com que eu o olhasse em seus olhos.
- Espere até eu usar o abajur que está na sala. - falei entre dentes.
- Que mulher marrenta.
- Seu... - e antes que eu pudesse terminar a frase, Ian se levantou, ficando em minha frente na cama e ainda me segurando pelos pulsos e fazendo com que eu ficasse em pé - O que você está fazendo?
- Tentando dizer obrigado. - ele se aproximou de mim, ficando a altura da minha barriga, fazendo com que eu sentisse sua respiração perto de meu umbigo. Prendi minha respiração enquanto sentia todos os pelos do meu corpo se arrepiarem, já imaginando o que viria pela frente, mas antes que eu pudesse sentir sua língua fazer as mesmas maravilhas que aconteceram na jacuzzi, seus braços rodearam meus joelhos, me colocando em seus ombros e fazendo com que meu rosto encontrasse com suas costas.
- O que você está fazendo? Me coloca no chão. - falei dando socos nas suas costas. - Jones, quando eu descer daqui eu vou arrebentar a sua cara.
- Eu quero ver você tentar, você briga como um anão. - Ele riu enquanto me carregava pelo corredor.
- Ai, Jones, eu te odeio. Por que diabos eu decidi te ajudar?
- Porque você não queria que Alfred perdesse o emprego dele.
- Ou eu poderia só deixar o senhor Dargos te pegar, o comitê do condomínio iria ver que era melhor que você fosse expulso do prédio e eu não teria que sair todas as sextas porque você não consegue controlar o seu pinto.
- Sabia que moças não deveriam ter um vocabulário de baixo calão? - ele falou parando em frente à mesa da cozinha.
- Agora você quer se fazer de cavalheiro? - dei um sorrio sarcástico.
- Eu sou um cavalheiro. - ele me colocou no chão fazendo com que eu ficasse em sua frente. Cruzei os braços olhando para cima, Ian era muito mais alto que eu e bem mais forte, ele poderia me agarrar e fazer coisas bem piores do que fez comigo dias atrás... O que não seria má ideia, pensei.
- Oh, mas é claro que é. - falei me libertando dos meus pensamentos e me virando para trás. Meus olhos percorreram toda a mesa da cozinha, eu estava abismada - O que é isso? - perguntei olhando para ele. Havia uma variedade de comidas em cima da mesa, havia pedaços de bolos, sanduíches, sucos, frutas e outras coisas que eu não consegui analisar no momento. O meu café da manhã não passava de um pão com alguma coisa ou um pacote de bolachas, o que estava em cima da mesa estava mais para um café da manhã no Hilton. - Como você fez isso?
- Eu sou cozinheiro. - ele andou até a mesa pegando algumas vasilhas onde tinham sanduíches, pedaços de bolos e frutas, diminuindo o número de comida que tinha na mesa.
- Isso é um modo de dizer que você é gay?
- Eu não sou gay, Alana. - ele riu pelo nariz - Eu só achei outra maneira de dizer obrigado. - a capainha tocou. - Deixa que eu atendo. - ele falou andando em direção a porta, abrindo-a.
- Bom dia, senhor Jones. - Alfred falou entrando em meu apartamento. - Bom dia, senhorita Bittencourt.
- Bom dia, Alfred. - falei acenando para ele.
- Está tudo aqui, Alfred, espero que eles gostem. - ele entregou as vasilhas para Alfred, que deu um breve aceno antes de sair pela porta do apartamento.
- Por que você deu aquelas vasilhas para o Alfred?
- Ah, você sabe. - ele passou a mão pelos cabelos e eu pude jurar que ele estava envergonhado.
- Você está com vergonha? - perguntei sorrindo. - Marcus não vai acreditar quando eu disser isso para ele.
- Eu faço lanches pras crianças do prédio. - ele ignorou meu comentário. - Alguns dos pais delas não têm como pagar por seus lanches, então eu faço.
- Você? - apontei para ele. - Fazendo lanchinho para crianças? - peguei um prato em cima da mesa colocando alguns sanduíches. - Mãe de quem você está pegando para fazer isso? - falei colocando café em uma xícara. Peguei o prato e a xícara e fui em direção ao sofá, me jogando por lá mesmo. Liguei a televisão comendo o primeiro sanduíche.
- O que te faz pensar que eu estou dormindo com alguma mãe pra poder fazer isso? - ele se sentou ao meu lado no sofá. - Eu posso ser um mulherengo, mas mulher casada não é comigo, principalmente se ela tiver crianças e especialmente se elas são pequenas. Por que você nunca confia em mim?
- Por que eu deveria acreditar em você? - olhei para ele.
- Você sempre julga as pessoas sem nem ao menos conhecê-las?
- Não. Eu julgo pessoas que não fazem nada da vida e tiram o meu sono porque suas vidas são tão vazias que pensam que bebidas e garotas é a melhor forma de preenchê-lo.
- Desculpe por isso, mas isso também é sua culpa.
- Minha culpa? - olhei incrédula para ele.
- É sim. Se você tivesse falado que as festas lhe incomodavam, eu...
- Iria parar? - completei.
- Iria pensar sobre o assunto. - rolei os olhos. - Eu iria pensar com carinho, se serve de consolo.
- Por que você não vai viver em uma casa nas montanhas? - ele olhou pra mim cruzando os braços e jogando a cabeça para trás, soltando uma gargalhada e fazendo com que eu sorrisse também. Controle-se, Alana. Sem mais cafajestes na sua vida, pensei antes de continuar: - Eu estou falando sério, Ian. Seria perfeito. Você poderia dar as festas que você quisesse, trazer as vadias que você quisesse e deixaria todos os moradores daqui felizes.
- Você é sempre tão chata assim?
- Eu sou adorável, você é o inconveniente aqui.
- O que eu fiz pra você me odiar tanto?
- Eu não lhe odeio. - respondi me virando para a televisão novamente. - Eu só não gosto de você por perto, só isso.
- Eu sou tão repugnante assim? - olhei para ele. - Ou é por que eu faço você se sentir diferente? - ele aproximou o rosto do meu, inclinando seu corpo pra frente. - Vamos lá, eu sei que você sente algo diferente por mim. - ele falou colocando uma de suas mãos em minha cintura. Prendi minha respiração tentando não me deixar afetar por ele, enquanto seus lábios mexiam lentamente. Como seria bom se eu pudesse mordê-los nem que fosse por um segundo, pensei balançando a cabeça. Oh, o que diabos está acontecendo comigo? - Eu sei o efeito que eu causo nas mulheres, você não é tão diferente. - ele colocou uma de suas mãos em meu rosto, aproximando seus lábios dos meus - Por que você não admite que me quer o tanto que eu lhe quero? - olhei para seus olhos e eles brilhavam como eu nunca tinha visto antes, nem mesmo quando ele estava levando aquelas vadias ignorantes para o seu apartamento. Era algo diferente, algo que eu me negava a aceitar.
- Você, alguma vez, respeitou o sentimento de amizade que uma mulher pode ter por você?
- Quem te disse que eu te quero como amiga? - ele disse dando um sorriso. Eu estava pronta para dar uma tapa em sua cara quando o interfone tocou, fazendo com que eu me levantasse o mais rápido possível do sofá e fosse atendê-lo - Alô? - falei com a voz meio rouca.
- Senhorita Bittencourt, James acabou de subir. - Alfred falou do outro lado.
- O QUÊ? - gritei sentindo toda a raiva ferver por entre minhas veias. - O que esse filho da puta está fazendo aqui? Como isso aconteceu?
- Eu deixei o faxineiro aqui enquanto eu ia ao banheiro e James se aproveitou disso. Você quer que eu chame a segurança?
- Não, eu mesma vou expulsar ele daqui e dessa vez vai ser pra sempre. - joguei o interfone no canto e bufei com raiva - Idiota, eu vou... - virei para o lado vendo Ian me olhando assustado. - Perdeu alguma coisa, Jones? - escutei a campainha tocar, fazendo com que eu revirasse os olhos.
- Alana, abre a porta, meu amor. - James falou do outro lado da porta.
- Você tem um namorado? - Ian perguntou se levantando.
- Eu... - e minha fala foi interrompida por James abrindo a porta do meu apartamento. Ele sabia que a primeira coisa que eu fazia pela manhã era abrir a porta do apartamento para ir à portaria conversar com Alfred.
- Alana, meu amor, você não acha que deveria fechar a porta? - ele disse entrando em meu apartamento e fechando a porta pela qual havia acabado de passar.
- E você não acha que deveria me deixar em paz?
- Meu amor, eu já não lhe expliquei que aquilo que você viu não foi importante? Aquilo que aconteceu com Stacie não foi nada importante, não é ela que eu amo, é você.
- E eu pensei que eu era um idiota. - Ian se pronunciou pela primeira vez, fazendo com que nós virássemos para ele.
- Você me chamou de quê?
- Idiota. - Ian respondeu, cruzando os braços - Você quer que eu soletre?
- E você pensa que é quem pra me chamar de idiota?
- Eu sou o viz...
- Meu novo namorado. - falei, interrompendo Ian.
- O quê? - os dois gritaram olhando para mim.
- Meu namorado. Ian é meu - respirei fundo - namorado. - completei andando em direção a ele e parando ao seu lado. Passei um de meus braços pela cintura de Ian, abraçando-o de lado.
- Mas nós terminamos um dia desses.
- Nós terminamos há seis meses, James.
- Você precisava de, pelo menos, um ano pra se recuperar do nosso término, é sempre assim.
- Desculpe, amigo - Ian começou, passando o braço por meu ombro -, mas a Alana não é que nem as outras. O erro foi seu em deixá-la escapar.
- É impossível. - James começou a andar de um lado para o outro, - Você estava devastada quando terminamos, você ainda gostava de mim.
- Isso mudou quando ela me conheceu, acho que você não é tão inesquecível assim. - Ian falou com um sorriso no rosto, - Bem - ele se separou de mim, andando até James parando em sua frente -, acho que você deveria ir agora. Você interrompeu um momento muito importante, se é que você me entende. - Ian cruzou os braços, olhando para James com um sorriso de lado. Olhei para James, que me olhava incrédulo, e subitamente uma vontade de rir tomou conta de mim.
James - de certa forma - estava certo. Se ele houvesse me procurado há alguns meses atrás eu, provavelmente, estaria sentada no sofá chorando enquanto assistia ao Titanic pela décima vez no mesmo dia, mas algo havia mudado dentro de mim desde que eu tinha me mudado para a casa de Marcus. Algo que eu me negava a aceitar.
Ian olhou para mim dando um sorriso de lado e uma piscadela, fazendo com que eu sorrisse para ele, mas logo o meu sorriso se transformou em uma cara assustada quando o punho de James foi com tudo em direção ao rosto de Ian.
- James! - gritei incrédula andando em direção a Ian que massageava o local que James tinha acabado de acertar. - Você perdeu a cabeça? - falei levantando o rosto de Ian entre minhas mãos vendo o que estrago que James tinha acabado de fazer. - Está vendo o que você fez?
- Ele desonrou você, Alana.
- Não, James, você me desonrou no dia em que me traiu com uma vadia na minha própria cama. - falei olhando para ele. - Eu quero que você saia da minha casa e faça o favor de nunca mais voltar. - andei até a porta abrindo-a. - Você pode viver sua vida sem mim a partir de agora. - ele andou até a porta e parou em minha frente.
- Alana... - ele chamou baixinho.
- Nem tente, James. - olhei para ele. - Acabou.
- Na verdade - Ian falou fazendo com que olhássemos para ele -, não acabou ainda. - e com um movimento rápido, Ian pegou James pelo colarinho arrastando-o para fora do meu apartamento, dando um soco em seu rosto em seguida - Agora sim acabou. - Ian entrou de volta em meu apartamento, fechando a porta com força. Olhei incrédula para ele, que andou em direção à cozinha. - Você namorava esse cara? - ele perguntou parando em frente à geladeira, abrindo-a. - Sério, Alana? - ele virou o rosto para mim antes de meter a cabeça dentro da geladeira e tirar uma cerveja de lá. - E depois você me odeia.
- Você é igual a ele, nem tente argumentar.
- Não, eu não sou igual a ele. Eu não tenho nada parecido com ele. - ele falou colocando a cerveja em seu rosto.
- Os dois são mulherengos do mesmo jeito.
- Não, Alana, o seu namorado é um verdadeiro idiota. - ele parou em minha frente. - Se eu namorasse alguém, eu não trairia. Qual é o ponto de ter um relacionamento se você vai trair? Nenhum.
- Isso não muda o fato de você saí por aí transando com qualquer uma.
- Eu saio por aí "transando" com todo mundo porque eu sou solteiro, é isso que todos os solteiros fazem. E não são só homens, mas mulheres também. E eu posso até ficar com qualquer uma, mas pelo menos eu sei os valores de um relacionamento. - ele abriu a cerveja e tomou um gole andando até o sofá. Virei meu rosto para ele e o vi colocando as calças.
- Aonde você vai? - perguntei vendo abotoar os botões.
- Vou fazer aquilo que eu sei fazer de melhor. - ele calçou os tênis. - O que foi mesmo que você disse que era? - ele andou até a porta do meu apartamento. - Ah, lembrei. Ser um riquinho mimado que não faz absolutamente nada da vida e que promove festas e orgias. Foi isso, não foi? - ele completou abrindo a porta.
- Ian... - tentei falar, mas ele já tinha batido a porta do apartamento.

Stay With MeWhere stories live. Discover now