Capítulo VII

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Calcei os saltos que Marcus tinha me dado de presente de aniversário hoje pela manhã. Ele havia me acordado com o café na cama e uma caixa vermelha com o nome Louboutin escrito na tampa. Eu não gostava que Marcus gastasse dinheiro comigo, mas, em tempos como esse, onde ele estava curando-se de um péssimo término de namoro, eu não iria impedi-lo de fazer nada. Se ele quisesse que eu nadasse pelada no mar gelado no meio da madrugada, eu faria. Tiraria até uma foto para que ele emoldurasse e colocasse na cabeceira de sua cama.
E como se não bastasse os sapatos caros, Marcus tinha reservado o espaço VIP de uma boate para que eu aproveitasse ao máximo meu dia e esquecesse tudo que tinha acontecido. O que Marcus não sabia era que eu não podia deixar minha raiva passar porque se eu o fizesse provavelmente estaria do outro lado do corredor jogada na cama do seu vizinho usando nada mais que o lençol que cobria meu corpo nu. Eu até tinha pensado na possibilidade de conversar com ele, entender o motivo de tudo que ele havia feito, mas todas as vezes que eu me lembrava de Sansa sozinha naquele hospital eu deixava o ódio dominar meu corpo outra vez.
- Você está pronta? - Marcus perguntou entrando em meu quarto. Virei-me para ele, sorrindo sem os dentes. - Mais do que pronta pelo o que estou vendo, já em posição de ataque.
- Você sabe que não vou ficar muito tempo naquela boate, certo? - andei em direção a ele. - Eu quero voltar pra casa cedo.
- Para quê? - ele saiu do meu quarto e o segui. - Para ficar chorando e assistindo àquela droga de filme que nem é um romance depressivo?
- Ei! - falei, seguindo-o pelo corredor. - Se você for analisar em um todo o fato de que Anakin querer proteger Padme ao máximo, mesmo que, para isso, ele tenha que se tornar um Sith e ela ter morrido depois que descobriu no que ele se transformou para protegê-la, é romântico depressivo.
- Tanto faz. - ele disse abrindo a porta, virando-se para mim em seguida. - Por favor, pelo amor de Deus, tente se divertir.
- Eu não estou muito para festa.
- Na verdade, você não está muito pra vida. - abri a boca, incrédula - O quê? Estou mentido? Você fica trancada nessa casa e a única coisa que faz é assistir aqueles filmes nerds idiotas. - Ele soltou a porta e andou em minha direção - Já faz um mês, Alana. Você precisa reagir, precisa sair dessa casa , ver pessoas, beijar pessoas.
- Marcus.
- Eu aceitaria até que você fosse ver aqueles seu pirralhos no hospital.
- Marcus!
- O que eu estou querendo dizer é: você precisa sair. Nem quando você terminou com aquele imbecil, que até agora eu não decorei o nome, você ficou assim. E pelo amor de Deus, Alana, ele não é tão gostoso assim. - Marcus abriu a porta e olhou para mim - Vamos minha filha, que a noite é uma criança e eu não pretendo dormir tão cedo. - Passei por Marcus indo em direção ao elevador e apertando o botão. Encostei-me na parede ao lado vendo Marcus fechar a porta e olhar para mim.
Quando a porta do elevador se abriu Marcus me puxou pela mão para dentro do mesmo.
- Tenho uma surpresa para você. - ele falou tirando um pedaço de pano preto de dentro da sua jacketa - Mas para isso, você tem que está vendada.
- O quê? Nem morta! - falei vendo a porta do elevador se abrir fazendo com que eu saísse do mesmo e adentrasse o hall da portaria.
- Nossa, Alana, como você é seca. - Ele falou me seguindo até a saída - Eu estou gastando minha noite na qual eu poderia estar em uma boate gay, pegando tudo que é homem, para ir a uma boate cheia de hétero apenas para lhe fazer feliz e você me trata assim? Tudo bem, então, sua mal agradecida, sem coração... Meu Deus, como é que você cuidava daquelas crianças mesmo? - Parei, virando-me para ele.
- Tudo bem, mas vê lá o que você vai me aprontar.
- Prometo que essa noite vai ser do seu agrado. - ele colocou a venda em mim e me guiou até o carro.
Marcus não falou nada o caminho inteiro, o que era muito estranho já que durante qualquer caminho, de qualquer festa, ele passava o tempo todo no telefone ligando para varias pessoas. Estranhei mais ainda quando paramos e não escutei nenhum barulho de música alta, e então pensei na possibilidade de Marcus ter me levado para um daqueles armazéns abandonados onde aconteciam raves.
- Marcus, para onde você está me levando? - perguntei segurando mais forte em seu braço.
- Calma, Alana.
- Marcus, por que está tão silencioso? O que você fez, Marcus? Marcus! Quando eu tirar essa venda, eu juro que vou enfiar esses sapatos na sua goela.
- Pronto, chegamos. - Ele tirou a venda de meus olhos e tudo que eu pude ver foi um clarão branco e um grito de surpresa e logo em seguida alguns braços em volta de mim. E quando eu pude enxergar melhor, olhei em minha volta e vi que estava no hospital, na ala onde as crianças se recuperavam.
Eu não poderia estar mais feliz nesse momento, era como se o sorriso não conseguisse desaparecer de meus lábios. Oh, como eu sentia saudades das minhas crianças.
Levantei meu olhar vendo que perto da janela havia uma mesa toda enfeita, e balões por toda a ala. Olhei para baixo e vi que todas as crianças que eu cuidei estavam tentando me abraçar e estavam falando todas aos mesmo tempo, fazendo com que eu não entendesse nada do que eles estavam falando. Abaixei-me na sua altura para poder abraçar um de cada vez.
- Como eu senti falta de vocês, meu pimpolhos. - Falei apertando cada em um abraço - Vocês não acham que é muito tarde pra vocês estarem fora da cama? - Perguntei me ajoelhando em sua frente.
- Ai, meu Deus, tia Alana! - Jeremy falou. - Nem parece que nós somos quase adolescente quando você nos trata como criança.
- Mas vocês são minhas crianças.
- Tudo bem, só porque hoje é seu aniversário.
- Claro, senhor pré-adolescente.
- Você gostou do seu aniversário, Alana? - Jenny perguntou segurando meu rosto.
- Claro que sim.
- A Rose nos ajudou. - Jenny apontou para enfermeira Rose, que estava ao lado de Marcus. - Vem! - Jenny me pegou pela mão fazendo com que eu ficasse em pé outra vez e me arrastou em direção a mesa. - Nós fizemos um bolo com nossa foto em cima, essa foi ideia da Sansa. - Ela parou em frente a mesa apontando para o bolo que tinha uma das fotos que nós tiramos meses depois que eu comecei a cuidar deles. Algumas das crianças da foto já tinham tido alta e provavelmente nunca mais iriam voltar aqui, outras estavam apenas alguns dias de irem embora também e quando eu voltasse nenhuma delas estaria aqui. - Também tem o quadro de fotos, a Sansa estava cheia de ideias nesse dia. - Ela apontou para um quadro de fotos que estava pendurado na parede. Eram tantas fotos que quase não cabiam no quadro, que era razoavelmente grande. Jenny apontava para as fotos e me lembrava de cada uma delas como se tivessem sido tiradas naquela mesma semana.
- Como você sabe disso tudo? Você nem chegou a conhecer algumas das crianças que estão nesse quadro. - perguntei olhando pra ela.
- Bem, Sansa lembrou.
- E onde está Sansa agora?
- Estou aqui! - Escutei um grito no vindo do corredor, onde Rose e Marcus estavam parados. Virei-me esperando que ela aparecesse e quando ela o fez, um sorriso brotou em meu rosto. Sansa não estava usando roupas de hospital, o que indicava que essa ala já não era mais sua casa. Ela também parecia bem mais saudável, até suas bochechas estavam um pouco vermelhas.
Soltei a mão de Jenny e dei alguns passos em sua direção, Sansa porém veio correndo e pulou em meus braços e eu a abracei tão forte que eu jurei que ela poderia explodir a qualquer momento.
- Desculpe o atraso - ela disse se soltando de mim -, nós perdemos noção do tempo.
- Tudo bem. - Falei segurando em seus braços, reparado que ela estava usado a jaqueta que eu a dei no dia em que fui embora. - Eu sei que sua avó mora longe.
- Eu não moro com minha avó. - Sansa falou e eu a olhei confusa. - Eu moro com meu irmão agora. - Olhei para Marcus, que sorria, mas bastou olhar para o lado que seu sorriso desapareceu. Ele me olhou assustado e bastou apenas um segundo para que o sorriso em meu rosto também desaparecesse. Eu poderia jurar que meu coração iria sofrer algum tipo de colapso nervoso em apenas vê-lo de longe, fazia algum tempo que isso não acontecia e eu poderia jurar que eu estava quase curada desse tipo de sentimento. Oh Deus como eu estava enganada. - Não é incrível? Somos vizinhas! - ela falou fazendo com que eu desviasse o olhar para ela.
- Incrível! - Falei me levantando - Que tal nós cantarmos os parabéns? Aposto que seus pais não estão gostando muito da ideia de vocês ficarem acordados até tão tarde. - falei andando em direção à mesa. - Marcus, você poderia vir acender a vela? - Falei ficando atrás da mesa, de frente para os convidados. Marcus se pôs ao meu lado tirando um isqueiro do bolso e acendendo a vela. Os pais dos meninos se puseram ao redor da mesma e logo começamos os parabéns.
- Eu retiro o que eu disse. - Marcus sussurrou ao meu ouvido.
- O quê? - perguntei vendo o parabéns chegar ao fim.
- Quando eu disse que ele não era tão gostoso, ele conseguiu ficar mais ainda. - Ele falou, fazendo com que eu sorrisse.
- Vamos cortar esse bolo então? - A enfermeira Rose falou pegando a faca e começando a cortar o bolo. - Para quem vai o primeiro pedaço? - Ela me entregou um prato com um pedaço enorme de bolo. As crianças todas gritaram.
- Deixa eu ver. - Falei olhando em volta reparando no par de costas saindo da ala de pediatria. - Hum... Acho que vai pra enfermeira Rose, por ser incrivelmente paciente com todos nós. - Falei entregando o prato para ela. A mesma me abraçou e sussurrou um obrigada em meu ouvido. As crianças a rodeavam enquanto pediam por bolo, Marcus me arrastou para o lado fazendo com que sentássemos em uma cama que estava vazia.
- Gostou da surpresa? - Marcus perguntou fazendo com que eu olhasse pra ele.
- Nem em um milhão de anos eu esperaria por isso.
- Por quê? O que você acha que eu iria fazer?
- Bem, para começar, iria fazer com que eu enchesse a cara de bebida, depois me jogaria para cima de alguém e depois que eu ficasse com essa pessoa acabaríamos sentados numa mesa com strippers masculinos dançando em nossos colos.
- Nós ainda podemos fazer isso.
- Acho que não. - Falei encostando a cabeça em seu ombro. - Quem sabe amanhã? Nós podemos ir naquele strip club do qual você vive falando, mas nunca vai por que é muito caro e nenhum dos seus amigos tem dinheiro para ir.
- Você está falando sério? - Ele se afastou fazendo com que minha cabeça saísse de seu ombro.
- Eu até pago para eles se for preciso. - Falei, me virando para ele.
- Eu nem acredito nisso. - Ele me abraçou tão forte que eu pude jurar que iria explodir. - Vou lhe trazer mais pra ver esses pirralhos, quem sabe da próxima vez você me compre uma passagem para Amesterdã só de ida.
- Não abusa, Marcus. - Falei me separando dele. - Eu só acho que você merece, principalmente porque você me comprou esses sapatos supercaros e nós não estamos em uma boate para estreá-los.
- Nem foram tão caros, eles estavam na promoção. Falando em promoção, você sabe quem deveria sair pra comprar roupas novas? Meu vizinho adorável. Naquelas calças, eu posso jurar que consigo ver o...
- Vocês vão querer bolo? - Sansa chegou com dois pratos na mão, fazendo com que Marcus parasse de falar.
- Claro. - Peguei os pratos de sua mão. - Acho que o tio Marcus está precisando de um pouquinho de açúcar no sangue. - Entreguei um prato para ele.
- Do que vocês estavam falando? - Sansa perguntou, sentando-se na cama a nossa frente.
- De como sua querida tia Alana adorou a surpresa, ela pensou que eu iria arrastá-la para um lugar que ela não queria ir.
- E onde seria isso? Em uma boate?
- Não. Para a casa do seu irmão. - Engasguei com o bolo.
- Alana, você está bem? - Não sei bem de onde ele saiu, mas quando me dei conta estava olhando em seus olhos agora tão perto dos meus. Sua mão estava sobre a minha perna e seu polegar fazia carinho em minha coxa enquanto eu perdia o fôlego lentamente. Eu não estava preparada para vê-lo de tão perto ou muito menos sentir seu toque, mas com tudo isso acontecendo eu até esqueci que estava prestes a morrer engasgada.
- Ela está bem. - Marcus falou me puxando para ficar em pé fazendo com que eu ficasse de frente para ele. - Acho que precisamos ir pra casa, já que todo mundo está indo embora. - ele me puxou para longe de Ian. - Pelo o que me lembre, essas crianças não podem ficar acordadas até tarde, não é Alana? - Assenti.
- Nós podemos dar uma carona para vocês. - Sansa falou fazendo eu desviar o olhar para ela.
- Nós não queremos incomodar.
- Nem que você quisesse você seria um incomodo. - Ele disse sorrindo.
- Vamos, Alana. - Sansa pegou minhas mãos - Por favor. - Olhei para ela e vi aquele olhos castanhos brilhando e por mais que eu quisesse distância de seu irmão, eu não podia dizer não.
- Mas é claro que sim.
- Eba! - Ela me abraçou. - Eu disse que ela não te odiava, Ian. - Ela me puxou pela mão deixando um Marcus boquiaberto e um Ian envergonhado. Sansa me arrastou pelo corredor com a força não esperada para uma criança do seu tamanho.
- Sansa, você não acha que deveríamos esperar por seu irmão e Marcus?
- Acho que não. - Ela atravessou a porta automática parando em frente ao estacionamento e virou-se para mim. - Por que você o odeia?
- Como? - Perguntei esperando que ela deixasse o assunto para lá.
- Por que você odeia o meu irmão?
- Sansa...
- Eu sei que ele pisou na bola, mas eu já o perdoei, por que você não o perdoa então?
- Sansa, é complicado.
- Na verdade, não é, vocês adultos que complicam tudo. Você gosta dele, ele gosta de você o que impede vocês de ficarem juntos?
- Sansa... Seu irmão e eu não temos nada em comum.
- Oh, mas isso é a maior mentira de todos os tempos.
- O que é a maior mentira de todos os tempos? - Ian perguntou fazendo com que eu olhasse pra trás.
- A idade dela. - Marcus falou. - Aposto que ela está dizendo pra Sansa que ainda tem 18 anos. Dá para nós irmos embora? - Ele me puxou em direção ao carro. - Já que eu não vou pegar ninguém hoje, quero ao menos assistir Grey's Anatomy antes de dormir. - Ele se virou para Ian. - Vamos, Ian! Abre logo esse carro ou você quer que sua amada- - dei um beliscão nele. - Ai, Alana! - Ele massageou o seu braço. - Quero dizer, que a gente morra de frio. - Ele abriu o carro e depois pegou Sansa pela mão. Ela cochichou algo no ouvido dele fazendo com que ele olhasse para mim, virei-me rapidamente abrindo a porta do carro e quase pulando para dentro do mesmo.
Olhei para Marcus que segurava o riso ao meu lado e antes que eu pudesse xingá-lo com o máximo de palavrões possíveis, Sansa e seu irmão entraram dentro do carro fazendo com que eu me calasse e começasse a rezar para que chegássemos logo em casa.

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