XIX

613 33 3
                                    

A primeira coisa que senti foi cócegas no meu pescoço, depois foi um aperto ao redor da cintura. Demorou um tempo para eu me dar conta do que estava acontecendo, mas quando eu dei, foi impossível não sorrir. Me virei na cama, abrindo os olhos, dando de cara com Ian, sorrindo para mim.
- Bom dia. – ele disse, dando um beijo no topo da minha cabeça.
- Definitivamente um bom dia. – respondi, o abraçando pela cintura. Em todas as noites que eu sonhei em acordar nos braços de Ian outra vez, nenhuma delas era comparada ao que eu estava sentido agora. Meses ocupando a maioria do meu tempo com alguma atividade para não pensar nele, para quando a noite chegasse ele atormentasse meus sonhos, mostrando que eu o tinha perdido e que não existia uma chance de eu conquista-lo de volta. O amor aguentava uma quantidade certa de dor, e eu o tinha machucado tanto que não tinha como esse amor voltasse a ser o que era antes. Eu acordava sentindo como se alguém tivesse dado uma facada em meu coração, mas hoje era diferente, eu sentia que meu coração está livre das torturas e meu corpo estava mais leve. Ficar perto de quem a gente ama, especialmente depois de tanta tragédia, realmente fazia um bem danado.
- No que você está pensando?
- Em como é bom acordar com seus braços ao redor de mim. – O apertei outra vez – Eu senti muito a sua falta.
- Eu também. – Ele respirou fundo e disse: – Eu tentei te procurar, sabia?
- O que? – Perguntei surpresa, levantando a cabeça para olhar para ele – Eu pensei que você me odiava, eu tentei te procurar no seu apartamento, mas você estava em Londres. Meu pai disse que você o ignorou quando perguntou por mim, eu pensei que você nunca mais ia querer olhar na minha cara depois que descobrisse o que eu fiz.
- E eu não ia. – Ele disse, se sentando na cama fazendo com que eu fizesse o mesmo – Demorou três semanas até que eu percebesse que eu precisava te escutar; mais uma semana para eu criar coragem para perguntar ao Marcus se eu podia falar com você, só para ele me dizer que você tinha se mudado, trocado de celular, estava muito ocupada com seu novo emprego e ele não sabia onde você morava. – Ele começou a fazer padrões na minha coxa com seus dedos – Eu falava com ele toda semana, para ver se eu conseguia descobrir o seu paradeiro, mas o máximo que você fazia era dizer que estava muito ocupada e remarcava. – Ele olhou para mim – Depois de um tempo, o restaurante começou a tomar conta do meu tempo e eu pensei que seria uma boa concentrar na minha vida já que você claramente estava seguindo com a sua.
- Eu não fazia ideia. – Eu abaixei a cabeça – Todo esse tempo eu me ocupei para tirar você da minha cabeça quando você estava atrás de mim. A gente podia ficar conhecido como o casal com o pior timing.
- Mas tudo isso valeu a pena, Alana, esse tempo que a gente passou separado foi bom para nós dois. – Ele me puxou para o seu colo, fazendo com que eu passasse os meus braços por seus ombros – Já ouviu dizer o tempo cura todas as feridas?
- Então todas as suas feridas estão curadas?!
- Talvez você devesse dar um beijinho, ainda dói um pouquinho. – Ele fez biquinho.
- É mesmo? – Perguntei, sorrindo – E onde dói?
- Aqui! – Ele apontou para os seus lábios. Eu apenas sorri, lhe dando um selinho. Ian passou as mãos por debaixo da sua blusa da qual eu estava usando, aprofundando o beijo. E foi aí que eu percebi que eu poderia viver com acordar em seus braços, beijos demorados e conversas profundas porque o cara do qual eu estava beijando como se não houvesse amanhã valia a pena.
- Agora vamos. – Ele disse, se separando de mim, me colocando na cama. – Eu vou fazer um café da manhã para a gente. – Ian pulou da cama, caçando sua samba canção pelo chão.
- Que tal, café na cama? – Perguntei, me jogando na cama. Ian colocou sua samba canção e sorriu pra mim.
- Você está resistindo ao meu pedido de tomar café, vizinha?
- Ex-vizinha. – Falei, levantando o dedo pra ele – E sim, eu estou resistindo. O que você vai fazer? – Ian apenas sorriu de orelha a orelha, andando até a cama e me pegou no colo. Eu soltei um grito, colocando as mãos ao redor do seu pescoço enquanto ele me levava para a cozinha, chegando lá ele me colocou sentada no balcão e sussurrou um "fica aqui" enquanto ia em direção a minha geladeira. Ian não deixou que ajudasse a fazer o café, ele disse que eu só ia o atrapalhar o que rendeu uma cara de indignada da minha parte e uma risada da dele. Eu o assistia se movimentar pela cozinha e toda vez que ele passava por mim roubava um beijo. Meu Deus se isso era céu, eu nunca mais queria voltar para a terra.
- O que você estava fazendo no hotel de Ravenna? – Ian perguntou depois de um tempo. Ele tinha acabado de cozinhar e tinha insistido que eu ficasse na mesma posição enquanto nós comíamos. Aparentemente, ele detestava comer sentando. Levantei a cabeça, olhando para ele – Por que você estava chorando? Ela fez alguma coisa para você?
- Na verdade, eu fiz pra ela. – Respondi, colocando o prato ao meu lado no balcão – Você lembra que eu te contei que ela costumava me mandar cartas e que essas cartas eram uma das razões que eu não conseguia seguir em frente? – Ele assentiu – Eu resolvi dar um basta nisso! JJ me chamou no escritório dele, depois que vocês foram embora para dizer que eu tinha perdido o meu cliente mais importante, o dono do Venamour, Mikael. Aparentemente alguém tinha ligado para ele e mostrado "quem eu era de verdade."
- Eu não acredito que ela fez isso. – Ian abaixou a cabeça.
- Eu não ia fazer nada, ia ignorar o que aconteceu, mas JJ me disse que eu ainda tinha que encarar o meu maior medo de todos, no caso, Ravenna, pra poder seguir em frente e ser feliz. As palavras deles ficaram enterradas na minha mente até que eu peguei uma caixa com todas as cartas que Ravenna tinha me mandando ao longo dos anos e queimei todas na frente delas. Era por isso que eu estava chorando porque eu finalmente me livrei do que estava me segurando para trás.
- Sua avó tentou mudar o jeito que eu pensava sobre você, sabia? – Ele disse, passando as mãos por minhas coxas – Ela viu o jeito que eu olhei para você. Quando eu fui deixar sua avó no hotel, ela pediu que eu descesse para conversamos sobre o restaurante, só que logo Ravenna mudou o assunto tendo você como tema. Eu fiquei logo puto e disse que ela não tinha direito de falar de você daquele jeito, você já não era a pessoa que ela conheceu há anos atrás. Quando eu te encontrei eu estava indo embora.
- Você me defendeu?
- Claro que defendi, Alana. Ninguém fala da mulher que eu amo daquele jeito, como você fosse um monstro que não merecesse uma segunda chance. Se sua avó tirasse pelo menos um tempo para te conhecer, iria ver o quão incrível que você é.
- Cuidado, Jones, quem te escutar pode até afirmar que você está apaixonado.
- Tá aí um coisa que eu cansei de negar. – Ele colocou as mãos ao meu lado no balcão – Eu espero que você saiba disso, que eu te amo e que dessa vez, a gente vai fazer tudo certo.
- Mesmo depois de tudo que aconteceu? Mesmo de você saber tudo que eu fiz?
- Sim. Eu fico feliz por você ter passado por tudo que passou, fez de você a pessoa que você é hoje. – Ele deu um beijo em minha testa – E não vou dizer que fico feliz pela gente ter passado por todos esses obstáculos no nosso relacionamento, mas definitivamente fez com que a gente ficasse mais forte e provasse que nosso amor é muito mais do só implicância de vizinhos. – Sorri, mordendo meu lábio.
- Quem pensou que eu te salvando daquelas algemas, nós estaríamos aqui hoje, declarando nosso amor um para o outro.
- Eu sempre soube. – Ele respondeu, passando a mão por minhas costas por debaixo da minha blusa. Eu puxei seu rosto com as mãos para que nossos lábios de tocasse, Ian me abraçou pela cintura, aprofundando o beijo e eu pude jurar que eu estava no céu e ninguém ia acabar com o meu momento. Porém, a campainha logo tocou fazendo com que eu grunhisse alto.
- Quem ousa atrapalhar o momento como esse?! – Eu disse jogando as mãos para o alto. Ian olhou para mim, gargalhando alto.
- Você quer que eu atenda a porta?
- Quero sim, eu vou colocar um short. – Dei um último selinho nele antes de pular do balcão e andar em direção ao quarto. Procurei no meu guarda roupa, pegando o primeiro short que eu vi. Quando eu voltei para sala, Lily estava entrando dentro de casa enquanto Ian fechava a porta. Ela olhou para mim de boca aberta e olhos arregalados e depois sorriu de lado.
- Lily! – Eu disse, andando até ela, a abraçando – O que você veio fazer aqui? Especialmente tão cedo?!
- Eu... – ela olhou para Ian e depois pra mim – Hum, eu vim falar com você.
- Se vocês quiserem, eu posso ir pro quarto. – Ian começou apontando em direção ao meu quarto.
- Não precisa, isso também envolve você. – Lily se sentou no sofá, respirou fundo e começou: – Você está no noticiário da manhã.
- O que? – Eu juro que eu não queria gritar, mas foi inevitável – Do que você está falando?
- É só do que todo mundo está falando. – Ela ligou a televisão, fazendo eu me virar para a mesma.
- "A milionário Ravenna Bennet, dona da rede de hotéis Balnort foi atacada na noite dessa sexta-feira. As testemunhas falaram que Ravenna estava sentada em uma das mesas do bar apreciando uma boa taça de vinho quando a intrusa entrou carregando uma caixa. As duas discutiram por alguns minutos até que a moça colocou fogo na caixa na frente da milionária." – Nessa parte, a televisão mostrou um vídeo gravado pela câmera de segurança do hotel, para a minha felicidade, eu estava de costas para a câmera fazendo com que meu rosto não aparecesse. – "A acessória do hotel disse que Ravenna passa bem e que a mesma não vai prestar queixas. Parece que nem todos gostaram da volta da milionária a sua cidade de origem. No próximo bloco..." – Lily desligou a televisão e se virou pra mim.
- Eu sou sua fã! – Lily de jogou no sofá – Eu sei que você odeia conflitos, mas porra Alana, por que diabos você se segurou por tanto tempo? Isso foi a coisa mais incrível que você já fez!
- Eu agi por impulso. – Me sentei no braço da poltrona.
- Você deveria agir por impulso mais vezes, aparentemente te leva a lugares mais incríveis. – Ela apontou com a cabeça para Ian – Vocês formam um belo casal.
- Obrigada Lily. – Ian disse, passando sua mão por minhas costas. – Espero que vocês não se importem, mas eu tenho que ir.
- Lançamento da nova marca de vinhos que você trouxe da Itália certo?! – Lily disse, fazendo com que eu a olhasse surpresa – O que? A Brit vive stalkeando a página do restaurante do seu namorado só pela oportunidade de esbarrar nele. – Ela deu de ombros – Pena que a partir de agora ele já tem dona né?! – Lily disse, fazendo com que eu ficasse vermelha. Ian apenas deu um beijo no topo da minha cabeça e disse:
- Pelo o visto vocês duas tem muito o que conversar, eu vou só no quarto pegar minhas coisas pra eu poder ir embora.
- Eu vou com você. – Eu disse me levantando e o seguindo em direção ao quarto. Quando chegamos no mesmo, Ian fechou a porta e logo em seguida me pegou pela cintura, me beijando de um jeito que fez os cabelos da minha nuca se arrepiarem.
- Vai ser uma tortura passar o dia inteiro longe de você. – Ele disse, colocando seu rosto em meu pescoço.
- Você pode vir logo depois desse lançamento, eu não me importo.
- Ou você pode vir pro lançamento e depois nós podemos ir para o meu apartamento. – Ele me deu um selinho – Eu posso dizer para o Ash reservar uma mesa para minha namorada e a amiga dela.
- Sua namorada? – Perguntei, surpresa, mas não conseguindo conter o sorriso – Em que momento da noite passada e nessa manhã você pediu para que eu fosse sua namorada?
- Pensei que quando eu disse que te amava já estava incluso que eu quero que nós fiquemos juntos para sempre. Namorada agora, noiva em um futuro bem próximo, minha mulher daqui a alguns anos.
- Acho que você vai ter que explicar detalhadamente porque eu não funciono direito antes das dez da manhã.
- Eu – ele deu um beijo na minha bochecha – quero – na outra bochecha – que – ele deu um beijo no meu pescoço – você – ele abriu minha blusa, dando um beijo entre meus seios – seja – ele levantou minha blusa, se aIanlhando em minha frente, dando um beijo em minha barriga fazendo com que eu risse – minha namorada? – Ele pegou minhas mãos, olhando para mim debaixo para cima – Você aceita?
- Eu vou pensar no seu caso.
- Ah, eu tenho jeito de te convencer. – Ele abriu o botão no meu short e disse: – Lembra disso?
- E como lembro. – Eu disse, colocando minhas mãos em seus ombros – Mas acho que nós deveríamos deixar isso para depois, você tem outras preocupações.
- Eu sou multitarefas. – Ele sorriu de lado antes de se levantar – Mas eu entendo o que você está dizendo. – Ele deu um beijo no topo da minha cabeça antes de sair pelo quarto catando suas roupas. Ele se virou para mim logo que terminou de calçar os sapatos e apontou para sua blusa – Eu vou precisar dela para sair daqui.
- Ou você pode pegar uma das suas que você deixou comigo no meu guarda-roupa. – Apontei para o guarda-roupa. Ele sorriu para mim, abrindo o mesmo e tirando uma blusa lá de dentro.
- E eu me perguntando onde essa camisa estava. – Ele disse, andando até mim, depois de colocar a camisa. Ele passou os braços pela minha cintura, me puxando para a perto – Te vejo hoje à noite?
- Com toda a certeza. – Respondi, ficando nas pontas dos pés, dando um selinho nele – Acho melhor nós irmos, Lily deve pensar que nós estamos fazendo amor com essa demora.
- E você pode culpa-la? Esses meses foram uma tortura sem você, nós temos que recuperar o tempo perdido.
- Você é insaciável. – Me afastei dele, indo em direção ao corredor.
- Quando se trata de você, eu sou mesmo. – Ele disse, passando o braço por meus ombros. Lily estava no seu celular, com um copo de suco na mão.
- Foi um prazer te ver novamente, Lily. – Ian disse, tirando o braço dos meus ombros e o colocando na minha cintura.
- Você também.
- Espero vocês hoje à noite então?! – Ele perguntou, olhando para mim.
- Claro. – Respondi, o acompanhando até a porta – Você acha que vai poder ter um tempinho para mim?
- Vai ser uma noite louca, mas eu posso sempre tentar dar uma escapada. – Ele disse, abrindo a porta e se virando para mim – Eu te amo.
- Também te amo. – Fiquei na ponta dos pés, dando um selinho nele – Até mais tarde.
- Até mais tarde, amor.  – ele disse, antes de correr para o elevador que tinha acabado de chegar no meu andar. Eu o vi dá uma piscadela para mim antes das portas do mesmo fechar.
- Aí Lily, eu acho que estou no céu. – Eu falei, me jogando ao lado dela no sofá.
- Se eu tivesse um boy daquele, eu estaria no céu também.
- O que aconteceu com aquele cara do marketing?
- Leão em pele de cordeiro.
- Esses são os piores. – Ela se encostou no sofá de um modo que ela pudesse olhar para mim – O que?
- Como assim o que? Pode ir contando tudo que aconteceu porque eu vim correndo quando eu vi você tacando fogo naquela caixa em frente à sua avó, esperando uma explicação, para o babado ainda ficar mais forte quando eu encontro nada mais nada menos que Ian Jones atendendo a porta da sua casa SEM CAMISA. – Ela disse, quase sem fôlego – Quando as pessoas dizem que sua Eu estava prestes a responder quando meu celular começou a tocar, eu o atendi sem nem ao menos olhar quem era.
- Me diz que não era você queimando aquela caixa na frente da sua avó? – A voz, que eu logo reconheci como a voz de meu pai, disse.
- Avó não, Ravenna. – Eu o corrigi, colocando o celular no viva voz.
- Alana, você não deveria ter feito isso, você não deveria dizer isso. Ela é mãe da sua mãe, ela é família.
- Engraçado, se eu me lembro bem eu parei de ser neta dela logo depois que a mamãe morreu. – Respirei fundo – Eu não quero brigar, pai. Eu sei que você aprova o que eu fiz, mas eu não me arrependo. Na verdade, eu só me arrependo de não ter feito antes. – Eu me levantei, começando a andar de um lado para o outro.
- Ela me ligou. – Ele deu uma pausa – Você exigiu a sua parte na herança que sua mãe te deixou, Alana? Eu pensei que você não queria nada com o dinheiro que vinha da sua avó.
- E não quero, eu vou usar esse dinheiro pra ajudar os outros, a quem precisa. Era isso que a mamãe gostaria que eu fizesse. – Meu pai respirou fundo e respondeu:
- Eu estou muito orgulhoso da mulher que você se tornou, mas não pense que nós não vamos discutir sobre isso, mocinha. – Antes que eu pudesse responder, escutei a voz de Charlie do outro lado da ligação, mas eu não consegui entender o que ela dizia – Charlie acha que você fez certo e que merecia uma medalha por colocar a sua avó no lugar dela. Ela também está dizendo que estamos atrasados para a consulta.
- Pra consulta? Você está doente? Charlie está doente? O bebê está bem?
- Calma, Alana. – Ele riu – Está tudo bem com todos nós, é uma consulta rotineira e segundo o médico, nós já podemos ver um pouco do seu irmãozinho ou irmãzinha.
- Me manda uma foto?!
- Claro, mas agora eu tenho que ir. Se cuida e tente não queimar mais nada.
- Farei o meu melhor, paizinho. Te amo.
- Também te amo. Até logo, filha.
- Até logo, manda um beijo pra Charlie.
Desliguei o celular e me joguei no sofá ao lado de Lily.
- Agora que tudo isso acabou, você pode me contar tudo que aconteceu nessas últimas 24 horas?
- Começou depois que JJ me chamou no escrito dele...

Stay With MeWhere stories live. Discover now