Capítulo XVIII

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- Alana? – Eu pisquei algumas vezes, sem nem ao menos saber o que dizer. Isso está mesmo acontecendo? – Alana? – ele chamou mais uma vez, mas da minha boca não saía nada. Acho que era assim que você fica quando o cara que você ama aparece na sua porta, esperando uma explicação de um dos momentos mais tenebrosos da sua vida. Eu tinha sim imaginado que eu um dia Ian iria aparecer na minha porta pedindo uma explicação, mas nada se comparava ao momento em si. Ian olhou pra mim, passando as mãos pelo cabelo – Eu vou embora. – ele se virou para ir embora.
- Não! – gritei, fazendo com que ele parasse e se virasse para mim – Você quer entrar? – Ian balançou a cabeça e eu dei espaço para que ele entrasse em meu apartamento – Você quer alguma coisa? Algo pra beber? – perguntei, vendo-o andar em direção a uma das cadeiras que ficava em frente ao sofá.
- Eu deveria pedir a coisa mais forte que você tem, mas não seria uma ideia muito boa misturar álcool e dirigir. – ele disse, sorrindo, antes de se sentar.
- É, coisas ruins podem acontecer. – respondi, andando em direção ao sofá em sua frente. Ian encarava a mesa de centro enquanto eu o encarava, pela primeira vez eu não sabia o que dizer, nem ao menos por onde começar. Como é que você diz pro cara por qual você está apaixonada um dos seus momentos mais obscuros que te levou a anos de terapia?
- Eu...
- Você... – falamos os dois ao mesmo tempo – Você primeiro. – ele continuou.
- Eu vou falar tudo logo de uma vez antes que eu perca a coragem. – eu disse e ele assentiu – Como você sabe, minha avó é Ravenna Bennet, herdeira da rede de hotéis, Benniert Hotel, minha mãe, Amelia, era sua filha. Ravenna sempre teve tudo que sempre quis e, não sei se você percebeu trabalhando com ela, ela adora controlar tudo e todos ao redor. Não foi muito diferente quando se tratou da vida da minha mãe, ela praticamente tinha a vida da filha toda planejada desde o dia que ela nasceu. Tirar notas boas, entrar em uma faculdade de administração para que ela viesse administrar aos hotéis algum dia, casar com herdeiro pra ficar ainda mais rica. Só que minha mãe sempre quis viver sua vida do jeito que ela mesma planejou e as coisas começaram a desandar quando ela decidiu fazer faculdade de publicidade. Ravenna foi relutante no começo, mas achou que poderia vir a convencer minha mãe a mudar de ideia depois que a faculdade acabasse. Só que o que ela não esperava era que ela conhecesse meu pai e se apaixonasse por ele, no começo Ravenna não o viu como ameaça até que minha mãe começou a falar de montar sua própria empresa e até montar sua própria família. Ravenna quis acabar com o romance de todas as maneiras possíveis, não queria que minha mãe terminasse com um Zé ninguém que não tinha nada no bolso. Essa mania de Ravenna de se meter na vida dos outros fez com que minha mãe fizesse de tudo pra se distanciar ao máximo do nome dela, quando ela se casou com meu pai, deixou o sobrenome Bennet de lado e adotou o sobrenome do meu pai. – olhei para ele, que escutava tudo atenciosamente, antes de continuar – Meus pais decidiram então montar sua própria empresa de publicidade, mamãe sempre amou a sua profissão, mas fazer com que Ravenna mordesse a língua era um dos melhores sentimentos que ela poderia sentir. Papai sempre disse que ela não deveria sentir tão bem em provar que sua mãe estava errada, porém, minha mãe sempre me disse que ele não a conhecia com ela conhecia. – me encostei no sofá – Depois que eu nasci, a empresa dos meus pais já estava indo muito bem, a medida que os anos foram passando eles dois foram criando um nome para eles, se tornando uma das maiores empresas de publicidade do mercado. Minha mãe, mesmo não tendo uma relação boa com Ravenna, decidiu que não a privaria de ver a sua neta, só que isso fez com Ravenna quisesse me controlar do mesmo jeito que ela fez com minha mãe, o que ela conseguiu fazer durante alguns anos. Eu sempre pensei que Ravenna fosse a melhor avó do mundo, ela sempre me dava tudo que eu queria, me mimava e aos poucos ela conseguiu me distanciar dos meus pais. Minha mãe nunca falou uma coisa ruim sobre minha avó, eu tive que descobrir tudo sozinha. Começou quando um namorado meu foi conhecê-la e no dia seguinte ele terminou comigo, outra vez foram minhas amigas que de repente decidiram me excluir do grupo, depois o diretor me proibindo de participar das atividades do colégio até que um dia eu escutei uma discussão da minha mãe com Ravenna e eu lembro exatamente das palavras dela "Se você não tomar cuidado, sua filha vai terminar igual a você: casada com um Zé ninguém, morando em um bairro de classe média, com uma filha adolescente que é uma receita pra desastre". Depois disso eu cortei Ravenna da minha vida completamente, e foi aí que as coisas começaram a desandar. – respirei fundo – Era meu último ano do colégio e eu decidi que ia me juntar a um grupo de amigos e viajar durante um ano em vez de ir logo pra faculdade, minha mãe ficou paranoica, mesmo que ela não gostasse de admitir, tudo que Ravenna falava ficava guardado no seu inconsciente e dessa maneira ela me prendia como forma de me proteger do mundo, do mesmo jeito que Ravenna fez com ela. Eu era jovem, não sabia o que eu queria da vida, eu estava me descobrindo, ter minha mãe me pressionando a cada segundo da minha vida com o plano que ela escolheu pra mim só fez com que a nossa situação piorasse. Eu passei a deixar todas as frustrações que eu tinha dentro de mim refletirem do lado de fora, fazendo com que eu me tornasse uma pessoa que eu mesma não conhecia. Eu comecei a sair para as festas, desaparecer nos finais de semana, criei um hábito de beber e dirigir fazendo com que minha relação com minha mãe fosse de mal a pior. No dia do acidente eu tive uma das piores brigas com ela, tudo porque ela tinha achado o dinheiro que eu tinha juntado com o trabalho do qual ela não fazia ideia que eu tinha arrumado e um mapa com todas as futuras localizações que eu iria visitar. Foi uma das piores brigas que eu tive com ela, eu disse tantas coisas que eu sabia que iria feri-la. – limpei as lágrimas que teimavam em cair – Aconteceu tudo tão rápido, ela tinha acabado de dizer que estava trabalhando com Ravenna pra que eu tivesse as melhores acomodações, depois o sinal abriu e quando eu menos esperei o nosso carro estava capotando.

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