Capítulo XIV

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  Por Ian.

Os dois dias que nós tínhamos planejado em ficar separados se transformou em uma semana. Minha avó teve a brilhante ideia de visitar alguns parentes na Itália porque eles estavam loucos pra ver Sansa. Engraçado, quando Sansa estava no hospital nenhum deles teve a decência de visitá-la, e sei que eu não estava muito atrás, mas de certo modo eu tinha um motivo. Alana não ficou chateada com isso, apenas disse que esperava que eu voltasse logo porque estava com saudades. Pode apostar, ela não era a única.
Óbvio que quando eu coloquei os pés no meu prédio, antes mesmo de abrir a porta de casa, eu bati em sua porta apenas pra encontrar uma Alana com cara de sono e o cabelo bagunçado. Ela esfregou os olhos e depois sorriu pra mim, jogando os braços ao redor do meu pescoço.
- Seria muito carente da minha parte dizer que eu senti sua falta? – ela disse, sussurrando em meu ouvido.
- Não, porque eu senti a sua também. – falei, me separando dela pra poder beijá-la.
- Eu devo está com uma cara péssima. – ela falou colocando as mãos no rosto – Rose pediu minha ajuda pra treinar a nova estagiária, fiquei no hospital até quase hoje de manhã.
- Está mesmo. – falei e ela olhou pra mim incrédula.
- Idiota! – ela deu um soco em meu braço e se separou de mim – Onde está Sansa?
- Decidiu se mudar de vez pra casa dos nossos avós por parte de mãe. Segundo ela, prefere ter uma vida sem todo esse luxo.
- E sua avó aceitou isso?
- Você sabe como Sansa é, sempre consegue as coisas que quer. Sansa merece um pouco de paz depois de tudo que aconteceu.
- E como merece. – ela cruzou os braços – Eu vou tomar banho, pode ficar à vontade. – ela começou a andar em direção ao corredor.
- Não quer companhia?
- Não, senta aí e me espera, Jones. E nada de gracinhas, viu?! – ela desapareceu no corredor e eu me joguei no sofá, ligando a tv. Não demorou muito pra eu escutar o barulho de chave na porta e logo depois Marcus e Fred entrarem no apartamento aos beijos. Pigarreei alto, mas os dois pareceram não me escutar até que liguei a televisão no último volume e os dois pularam para lados oposto.
- Porra, Ian! Que merda você está fazendo aqui? – Fred falou, se virando pra mim.
- Devo lhe fazer a mesma pergunta já que você disse que ia ver os preparativos da festa.
- Nós dois sabemos que isso era mentira, claro que eu vim ver Marcus. – Fred rolou os olhos – Pelo menos pra alguma coisa serviu meu pai não vir pra esse baile idiota.
- Baile idiota? – Marcus perguntou.
- É, uma festa anual da empresa pra comemorar as metas alcançadas. Esse ano a filial daqui bateu a meta antes das outras então eles ganharam uma festa.
- E você já falou com a Alana ?
- Não.
- Por que não?
- Porque eu não vou, prefiro ficar com ela.
- Mas você não pode ficar com ela lá na festa?
- Marcus, por que o interesse? – cruzei os braços.
- Não, por nada. – ele deu de ombros.
- Você estragou tudo, Jones. – Fred falou, me olhando furioso.
- O que foi que eu fiz?
- Fica calado. – ele se virou pra Marcus – Eu ia fazer isso depois, mas certas pessoas estragam tudo – ele se virou pra mim – então você quer ir pra festa comigo? A gente pode ir jantar antes, se você quiser.
- Claro que eu quero. – ele sorriu e depois olhou pra mim – Você tem que levar a Alana também.
- Me levar pra onde? – Alana apareceu na sala com os cabelos molhados – Fred, não sabia que você vinha. – ela andou até ele, o abraçando – Vocês vieram juntos? – ela perguntou andando até mim e parando ao meu lado.
- Sim.
- Então, do que vocês estavam falando?
- Da festa que vai ter hoje lá na empresa, onde Ian deveria ir, mas se recusa.
- Por quê? – ela olhou pra mim.
- Prefiro ficar com você. – passei o braço por seus ombros. Ela sorriu, dando um beijo na minha bochecha.
- Ele tem realmente que ir? – ela perguntou olhando pra Fred.
- Tem.
- Se o problema é passar mais tempo comigo, eu vou com você.
- Sério? Eu pensei que depois desses dias separados a gente podia passar um tempo sozinhos, só nós dois.
- Claro, eu faço o esforço de colocar um salto e um vestido. – ela me abraçou pela cintura.
- Que lindo. – Marcus disse andando até a porta – Agora Ian, dá pra você levar a Alana pro seu apartamento?
- Por quê? – olhei pra ele confuso e Alana começou a rir.
- Vamos, amor. – ela pegou na minha mão, me arrastando até a porta – Vê se não quebra nada você dois. – ela disse antes de sair do apartamento.
- Faço das suas palavras, as minhas. – Marcus fechou a porta soltando um 'finalmente'. Peguei a chave de dentro do bolso e abri a porta, Alana passou por mim parando no meio da sala.
- Engraçado que você sempre passou tanto tempo no meu apartamento e eu quase nunca vim no seu. – ela se virou pra mim – Só daquela vez que você estava na cama, algemado, e aquelas garotas roubaram você e o seu amigo.
- Quando você sujou meus lençóis com seus tênis sujos. – andei até ela, colocando as mãos em sua cintura.
- Já ouviu falar em lavanderia, Jones? Nunca é tarde pra usar. – ela passou os braços pelo meu pescoço, me dando um selinho – Então, o que você quer fazer?
- Não sei, não planejei nada, eu só quero ficar com você. – eu falei vendo-a sorrir.
- Você tem pipoca?
- Acho que deve ter alguma na dispensa, por quê?
- Coloca no micro-ondas. No seu quarto tem televisão?
- Tem.
- Tá certo. – ela se separou de mim e foi em direção ao corredor.
- Ei, pra onde você vai?
- Vou conectar no Netflix. Se prepara, Jones, que hoje nós vamos fazer programinha de casal.
- Programinha de casal?
- É. – ela andou até mim, passando os braços pelo meu pescoço – Você sabe, coloca um filme meloso, comer uma pipoca, dar uns amassos e essas coisas. Você nunca fez programa de casal?
- Nunca fiquei com uma menina por mais de uma noite.
- Nem quando você era mais novo?
- Não, eu nunca fui do tipo que namorava.
- Hum, mas agora vai aprender, lindinho. – ela me deu selinho e saiu – Estou te esperando no quarto e não esquece da minha pipoca.
Se algum dia alguém me dissesse que passaria uma tarde inteira jogado na cama, alternando entre dar uns amassos e assistir filmes melosos com uma garota, eu provavelmente gargalharia alto. Só que foi exatamente isso que nós fizemos, Alana trazia esse lado romântico que eu nem sabia que eu tinha, e mesmo que eu não quisesse admitir, fazer programinha de casal não me parecia uma má ideia se toda vez fosse com ela.
Era noite quando nós decidimos nos levantar da cama, pode ter certeza que teve muito protesto da minha parte. Alana jogou um terno que estava no meu guarda roupa na minha cara antes de sair do meu quarto anunciando que ia pra casa tomar banho e se arrumar. Fred entrou no meu apartamento tempo depois anunciando que também ia se arrumar, claro que depois dessa eu tive que fazer o mesmo.
Acho que fazia muito tempo que eu não me sentia assim tão completo e feliz. Eu finalmente tinha enfrentado os meus medos – não dá melhor forma possível, mas mesmo assim – e estava tentando ao máximo compensar, não só Sansa, mas Alana também por todo o tempo perdido. Claro que eu insisti para Sansa vir morar comigo, mas ela insistiu que eu não precisava fazer isso, que preferia morar com nossos avós. E disse também que já havia me perdoado e que entendia um pouco a minha falta de responsabilidade com ela depois do acidente, até dizia que isso a tinha feito mais forte do que nunca. Agora imagina, uma pirralha de 12 anos, que quase não saiu das fraldas, falando como se fosse gente grande e mandando eu ir atrás da pessoa que mais precisava escutar as minhas sinceras desculpas.
Não era que eu não quisesse. Na verdade, o perdão de Alana era a coisa que eu mais queria no mundo. Mas vamos combinar, Alana era cabeça dura e não iria me perdoar assim tão fácil.
- Por isso que você tem que contar tudo pra ela, Ian. – Sansa falou enquanto eu me arrumava para ir ao encontro do Anastasia, uma velha amiga.
- E você acha que é fácil chegar perto da Alana ? Sansa, aquela mulher mata só com um olhar. Ainda mais depois de tudo.
- Você é mais frouxo que as calças que você consumava usar.
- Você fala isso porque não foi você que abandonou a irmã sozinha em um hospital.
- Mas você voltou, não voltou? – olhei para ela.
- Não por conta própria, você sabe. – abaixei a ela – Desculpe por isso.
- Ian, se as suas desculpas fossem dinheiro, dava pra eu dar entrada em um carro, a essa altura. – ela segurou meu rosto – Eu sei por que você não voltou, foi a mesma razão pela qual eu não perguntava por você: medo. Acho que é de genética, sabe? Papai tem, mamãe tinha, até a nossa avó tem dentro daquele buraco negro que ela chama de coração.
- Sansa!
- Vai me dizer que você não a detesta nem um pouquinho?
- Na verdade, mais do que eu deveria. – me levantei, e ela se levantou também, me abraçando pela cintura.
- Eu não te odeio. Claro que eu odiei por um tempo, mas acho que o tempo foi passando e eu fui entendendo aos poucos o seu lado. Principalmente, o que eu vi naquele Natal. – ela falou com a voz chorosa.
- Ah, baixinha! – me abaixei, dando-lhe um abraço – Eu vou atrás dele, tudo bem? Prometo que dessa vez seremos uma família.
- Mas a nossa avó...
- Pode vir quem vier, mas nós vamos ser uma família de novo. E se a Alana quiser, ela pode fazer parte também.
- Alana e Ian se beijando debaixo de uma árvore.
- Algo assim.

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