3-LEONARDO

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"A verdadeira família é aquela unida pelo espírito e não pelo sangue."

--Luiz Gasparetto



    Acordo meio atrasado, já eram onze horas da manhã, corro para a mesa como um pão e já saio indo em direção ao banheiro para tomar um bom banho. Com a esponja esfregava todo meu corpo que estava com cheiro forte do perfume que Snow usava. Tudo passava pela cabeça, todos os momentos bons que tive ao lado de Al e de Mary. O treinamento de será de grande ajuda.

     Vou em direção ao meu quarto, coloco uma blusa azul e uma calça cinza para combinar. Desço em direção á cozinha. Lá se encontrava Mary e Al com Giulia ao seu lado. Mary já havia conversado com Giulia sobre todo o esquema, ela não reagiu muito bem, chorou muito, mas infelizmente essa seria nossa realidade.

   Giulia, ao me avistar, vem em minha direção correndo com seus olhos jorrando lágrimas. Ela me abraça e então choramos juntos. Era muita coisa acontecendo tão de repente. Teríamos que ser muito mais fortes do que nossa idade permite para não chorar.

- Irmã, eu lutarei por você. Não sei o que sou sem você. Você é a pessoa mais importante e farei o impossível para fazer você viver. - Enquanto falava essas lindas palavras, Al e Mary vinham até nós também chorando e nos abraçaram.

- Nós acreditamos em vocês! Leo, com sua habilidade em facas e em machados que te ensinei, você conseguirá uma grande vantagem. Giulia com sua habilidade medicinal e com facas que a Mary a ensinou, você também será indispensável, uma grande concorrente. Vocês dois juntos serão um grande time.Vocês conseguirão. - Dizia Al com todo entusiasmo, tentando não lembrar que só um de nós poderia ganhar. - Nós te amamos.

    Saímos juntos em direção a praça central, onde será realizada a nossa colheita. Mesmo sabendo que iríamos se voluntariar, fomos para a fila para colocarmos nossos nomes, para assim Al e Mary recebam suprimentos, que serão de grande ajuda, ainda mais agora que ela está grávida. A picada do pequeno aparelho não transmitia nenhuma dor. Eu permanecia totalmente instável psicologicamente. Nunca pensei que com míseros doze anos iria passar por isso. Sonhava em estudar, ser alguém dedicado, jogar meus vídeo games, mas infelizmente não foi como esperado.

   Todos nós nos posicionamos, eu ficava ao lado dos garotos, enquanto Giulia, das garotas. Uma moça apareceu em frente ao palco. Usava uma peruca vermelho vivo e esplandecia ironia. Já estava acostumado com todo aquele colorido, pois passei a vida toda convivendo com eles, e até vestindo que nem eles.

- Olá! Sejam bem vindos á colheita do Distrito 9. - Falava ela com um tom de desdém. - Agora vamos passar o vídeo que todo ano passamos para mostrá-los o significado dos jogos vorazes.

   Já vi muitas vezes esse vídeo nas aulas de história, lá até dava vontade de dormir, mas aqui creio que ninguém vá. Pois estão a deriva da morte. É meio irônico dizer isso, pois nenhum deles vão para os jogos, pois nós vamos se voluntariar. Ao término do filme a moça volta ao seu microfone e anuncia:

-Chegou a hora que vocês mais esperavam. A hora de saber quem vai morrer. Opa, desculpa. Quem vai para essa nova edição dos jogos vorazes.

    Aquela misera piada fez todos se assustarem, ninguém botava fé nesse distrito e era o nosso papel reverter isso.

-Começamos pelas meninas. - Dizia ela enquanto pegava míseros papeis que sentenciavam a vida de qualquer jovem que ali se encontrava. - Karoline Marie.

  A garota devia ter apenas 13 anos ia em direção ao palco. Era alta e bonita, poderia ter alguma chance, mas nós tínhamos que fazer isso. Lancei um olhar para Giulia e logo ela se manifestou.

- Eu, Giulia Toledo, sou voluntaria como tributo.

   Todos que estavam em volta começaram a ter pena de Giulia. Uma garota tão pequena que acabou arriscando sua vida, mas aquilo tudo tinha um propósito, só que ninguém sabia. Ela ia em direção ao palco chorando, mas forte como sempre.

-Olá garotinha qual é o seu nome mesmo? - Perguntava a moça colorida. Ela estranhava o porquê de uma garotinha tão nova ter se voluntariado.

-Giulia Toledo.

-Senhoras e senhores essa foi Giulia Toledo a mais nova tributo feminino da nova edição dos jogos vorazes. Agora vamos aos rapazes.

-Samuel Viruez. - Falava enquanto procurava o garoto entre o grupo de rapazes.

Um garoto magricelo apareceu chorando e foi em direção ao palco até que...

-Eu me ofereço como tributo .- Vou determinado em direção ao palco. Nenhuma lágrima. Apenas subo com meu sorriso falso. Olho para trás e vejo Al e Mary chorando, isso me comove, mas consigo segurar o choro.

-Qual seu nome garoto? Vocês dois são parecidos, são irmãos?

-Leonardo Augusto. Sim, somos.

-Senhoras e senhores e é assim que me despeço de vocês. Anunciando os novos tributos do Distrito 9 da 18° edição dos jogos vorazes. Os irmãos Giulia Toledo e Leonardo Augusto.

   Fomos levados á uma pequena sala, escura, tensa e tenebrosa. Pequenos filetes de raios de sol passavam pela janela. Estávamos abraçados num canto, ela não parava de chorar e eu como bom irmão tentava acalmá-la. Os raios sonoros do choro foram interrompidos pelo barulho da porta se abrindo. De lá Al saía ofegante.

-Crianças boa sorte á vocês dois. Sei que vocês conseguem. Não há muito que falar, o que tinha, já falamos em casa, mas eu vim aqui para trazer uma informação muito boa para vocês.

-Qual é então? - Perguntava para ele.

-Recebi a informação que seus pais foram vencedores. Só que de edições diferentes. Foi o máximo de informação que consegui. Mas sei que vocês dois conseguirão achá-los antes de irem para arena. Eu acredito em vocês.

   "Eu acredito em vocês". Foram as ultimas palavras que escutei vindas de Al, até que um pacificador abriu a porta e atirou em sua cabeça. Sim pessoal. Ele acabara de morrer na nossa frente, só porque ele me disse uma informação sigilosa. Essa capital é um monstro. Mais um filho viverá sem seu pai. Al era uma pessoa super do bem, sempre se preocupava conosco. Era realmente um pai para nós. Não aguentei, apenas chorei ao lado de minha irmã. Porque disso tudo? Para que tanta morte? Porque não podemos viver na paz? Nunca chorei tanto, ver aquele que me ajudou a treinar, que realmente nos amou como se fôssemos seus próprios filhos, acabar morrendo ,era muito desesperador.

   Os pacificadores nos pegaram e nos arrastaram até o trem, jogando-nos dentro dele. Chorar era o que fazíamos. Uma mulher que parecia ter 25 anos veio até nós e nos acolheram. Devia ser a nossa mentora, mas não conseguia pensar em nada disso. Só pensava nele, na última coisa que ele havia falado antes de sua morte.

"Eu acredito em vocês."


Distrito 9. O recomeço do inevitável.Donde viven las historias. Descúbrelo ahora