8-LEONARDO

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- Olá Leonardo. Giulia já saiu para se preparar para o desfile, e agora é a sua vez de se preparar. Esses são Rony, Harry e Flávia, seus preparadores. Eles serão indispensáveis pelo seu sucesso na missão de encontrar patrocinadores. - Falava Bruna.

- Tudo bem, mas qual será a minha roupa? - Pergunto.

-Isso você só saberá na hora certa. Vamos lá para nós te prepararmos. - Dizia Harry.

    Fui encaminhado para uma sala longa e obscura. Lá eles ajeitaram meu corpo, cortaram meu cabelo, fizeram em si uma higienização completa. Foi um pouco doloroso, mas nada para que se preocupar. Olhava pelas brechas das janela a luz e a pequena paisagem que ali fora se encontrava. Apenas concreto era visto com pequenas árvores artificiais, totalmente diferente do Distrito 9 que mesmo por ser urbano tinha sua paisagem natural.

-Chegou a hora garotão. Espero que goste de sua roupa. - Dizia Flávia enquanto tirava a roupa com cuidado.

- O que é isso?- Me assustei ao ver a minha roupa toda feita de massa de macarrão. Era super criativa mais um pouco nojenta. Imagina ser vestido de macarrão. Deve ser pegajoso.

-Sim Leo, a sua roupa é feita de massa de macarrão. Nós tivemos essa ideia, pois seu distrito nos disponibiliza grãos e trigo, que seria uma das composições principais do macarrão.

-Se isso vai me fazer ganhar patrocínios então eu aceito. Tem alguma outra surpresa? - Pergunto já assustado para que algo mais estranho venha acontecer.

-Sim. Esse dispositivo vai fazer com que a aparição de vocês seja mais fenomenal e gostosa de ser vista e de ser cheirada. Agora chegou a hora de colocá-la em você. Vai ficar esplêndido em você. - Dizia Rony entregando o dispositivo e me encaminhando para o banheiro.

     A roupa era revestida de detalhes, sua cor de trigo resplandecia criatividade e brilho. Demonstrava-nos uma roupa em farrapos, com trechos impressionantes entrelaçados na área do ombro. A roupa chegava a ser bem chamativa com acessórios incríveis totalmente feitas através de macarrão, ainda mostra de modo expandido todas as qualidades do Distrito 9 e também a sua pobreza em relação ao estilo da roupa.

- Obrigado por fazerem isso tudo por mim. Agradeço a cada um de vocês, pela magnífica roupa. - Dizia a eles.

-Nós só fizemos nosso trabalho meu querido. Estou apostando minhas fichas em vocês dois. Agora desça e encontre com sua irmã. Ela também está linda e como podemos dizer, saborosa. - Dizia Flávia.
                                         [...]


     Entro no elevador. Ao sair encontro Giulia, ela estava linda e irresistível. Sua roupa estava esplêndida. Mesmo toda feita através de pão sua roupa estava fenomenal, com seus detalhes e seus acessórios ainda mais instigantes. Ela devia estar se divertindo com toda a sua roupa e pelo jeito, estava se segurando para não comer porque ela adorava pão.

    Depois Giulia veio até mim com seu sorriso para baixo. Seu rosto agora havia mudado de forma, pequenas lágrimas saiam pelos seus olhos lindos. Ela parecia desesperada. Algo sério acabara de acontecer.

- Snow matou a Mary, Leo.

- O que? Não pode ser? - Dizia tentando segurar meu choro. - Então o bebê também...

     Não podia chorar naquele momento, acabaria estragando toda a minha roupa, ou melhor, a pouca maquiagem que usava. Não acreditava naquilo, mais um inocente, ou melhor, dois mortos por nossa causa. A imensidão de raiva agora já se manifestava em meu peito, agora iríamos arrasar lá na frente de todos para mostrar que nós somos capazes de ganhar os jogos e merecedores de patrocínios. Mostrar que não somos simples criancinhas.

    Ao chegarmos na ala de espera nós éramos os mais chamativos dentre os tributos. Uns usavam roupas de pescadores, outros de caipiras, mas a nossa realmente era a mais criativa, mas não bastava isso, não podíamos subestimar nossos adversários. Nossa carruagem estava decorada de acordo com a nossa roupa. Ela era revestida de um dourado com detalhes tom cor de trigo. Os cavalos estavam espetaculares, seus pelos sedosos e lindos, as suas armaduras, tudo lá era espetacular. Sempre via o desfile pela televisão, mas com certeza a beleza é maior ao vivo.

- Tributos se preparem, o desfile vai começar. - Anunciava o carinha pela caixa de som.

    As lindas carruagens entravam numa velocidade inconstante. Por ser do Distrito 9 seríamos um dos últimos. Subimos na carruagem e se preparamos para entrar. Já estava com o dispositivo em minha mão que já estava para ser ativado. Assim que entramos vimos a vasta platéia. Todos gritavam num tom bem elevado, ainda mais quando nós passamos, pois o grito ficava cada vez mais alto. Acionei o dispositivo. Algo parecido com um odor de pão quentinho com fiapos de trigo saia da carruagem fazendo com que nossa aparição fosse cada vez mais chamativa e gostosa. Os nossos rostos apareciam para todos pelos telões, nunca pensara que um par de tributos do distrito 9 ganharia tanta atenção como esse ano.

    Já estávamos chegando ao centro para o anúncio do presidente Snow até que algo começou a acontecer. A nossa roupa começou a ficar num tom esverdeado, parecia que toda a nossa roupa estava se apodrecendo. O tom esverdeado puxado pro musgo e o cheiro horrível fez com que Giulia acabasse vomitando. Eu olhava diretamente ao Snow e ele como sempre ria de nós.

- Tributos sejam bem vindos. Parabéns pelo grande espetáculo que nos proporcionou. Que a sorte sempre esteja ao seu favor na arena. - Dizia Snow num pequeno discurso.

    Quando chegamos de volta na plataforma inicial via Flávia e Rony vindo em minha direção. Seus olhos estavam espantados por tudo que havia acontecido. Eles traziam duas peças de roupa para que possamos nos trocar mais rápido possível, e assim não sermos prejudicados em relação á saúde.

- Não sei o porquê de isso acontecer. Nós nunca faríamos isso. - Dizia Rony.

-Já sei quem foi. Foi o presidente Snow. Só pode ter sido ele, ele quer nossa ruína. - Dizia a eles.

-Subam e se vistam. O importante que no início vocês chamaram bem a atenção de todos, assim conseguiremos bons patrocínios. - Dizia Flávia.

     Subíamos para o nosso andar. Não me sentia bem, o enjoo já me atacava internamente, logo acabaria vomitando. Fui direto ao meu quarto, estava cansado até demais, precisava de um lindo e breve descanso. Mas porque de ele fazer tudo isso? Para que tudo isso? Porque nos prejudicar, se não fizemos nada? Para que matar uma família que queria ter uma simples vida com seu bebê? Porque tantas injustiças de uma só vez? Porque o mundo é assim? Todos sonhamos com um mundo perfeito, mas sempre nos remetem a essa desgraça.

    Algo inesperado aconteceu, um telefone que nem sabia que existia no meu quarto acabou tocando. Mas porque estão ligando para mim? Será que é minha irmã? Fui em direção ao telefone e atendi.

- Alô. - Dizia enquanto escutava apenas ruídos. - Alô, Giulia?

-Leonardo? É você? Filho, você está me escutando? - Dizia um estranho num tom meio emocionado.

- Quem? Filho? Pai? É algum trote? Quem está falando? - Falava enquanto tentava entender quem estava do outro lado da linha.

-Não é um trote. Sou eu seu pai, Thiago do Distrito 4, vencedor da 5ª Edição dos Jogos Vorazes. Que bom escutar sua voz. - Falava ele. - Preciso fala...co...vo.. - De repente toda a ligação ficou ruim, não conseguia escutar mais nada.

-Pai, pai, pai, você está aí? - Gritava, mas não recebia uma resposta.

      Nunca pensei que naquela noite conseguiria falar com meu pai, pelo tom que ele falou comigo sabia que estava preocupado conosco e que não tinha nos abandonado. Uma chama de esperança começou a se abrir em meu coração. Eles agora sabiam que estávamos vivos e estavam fazendo o possível para se contatar conosco. Finalmente alguém que me ama está vivo, mas tomara que não acabe sendo morto como todos os outros.


Distrito 9. O recomeço do inevitável.Where stories live. Discover now