Capítulo 4

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Nicholas

Mais um dia cansativo de trabalho. 

Meu corpo todo parecia ter sido moído, mas minha mente fazia questão de trabalhar como se estivesse no começo do expediente. Eu era viciado em trabalho e tinha plena consciência disso. Também sabia dos motivos para eu o ser. 

Não fora sempre assim. Pelo contrário, antes eu fazia questão de desocupar a minha agenda para ter um momento saudável em família, nunca deixando que o trabalho influenciasse na minha vida pessoal. Mas isso foi antes.

Não tinha pelo que me culpar. Eu só tinha que viver em paz como ela iria querer, mas eu não conseguia, sentia que devia ter passado mais tempo com eles, que eles mereciam isso, que não tinha feito o bastante. Parece que nenhum tempo foi o suficiente. Era como se cada segundo que eu tivesse passado longe dela antes fosse um castigo para mim, para a minha dor. Uma dor que nunca ia passar. O tempo era meu inimigo. 

Eu só sobrevivia por Noah, meu filho adolescente que precisava de mim, precisava de suporte. Mesmo que já não tivéssemos mais a mesma ligação, mesmo que eu soubesse que ele precisava do pai, eu simplesmente não conseguia. Ele me lembrava ela, não pelo físico, mas pelo caráter, pela personalidade. Ele era ela, com a minha aparência.

Chequei meu celular para ver se haviam emails e mensagens, passando os olhos rapidamente por cada mensagem sem vontade nenhuma de responder. Noah estava ali também, dizendo que iria dormir na casa da amiga - que eu desconfiava ser mais do que isso. Eu queria que ele fosse mais aberto comigo, mas como poderia se eu não dava abertura? Era culpa minha, eu sabia disso. 

Deixei o celular de lado e fui tirando minha roupa em direção ao banheiro da suíte. Ter aquela casa imensa só para mim não mudava em nada, já que era como se morássemos sozinhos. Não nos falávamos muito e mal nos encontrávamos. Quando ele se levantava, eu já havia saído para uma longa jornada de trabalho.

Por mais que eu soubesse que não precisava disso, eu preferia ocupar minha cabeça do que enlouquecer com a dor. Sentia pena do meu filho por ter um pai tão covarde como eu, um pai que se preocupava com a própria dor e não ajudara o filho em plena formação do corpo e do caráter. Tive sorte por ele ser um bom menino, mas não podia ser diferente contando com quem o havia gerado. Aquela mulher era um poço de bondade e talvez seja por isso que se fora tão cedo.

Deixo que a água esquente enquanto entro aos poucos embaixo dela, sentindo cada um dos meus poros se relaxando com o contato. Quente, o mais quente que puder para causar a vermelhidão na minha pele. E eu já não sentia dor, não como deveria, não como uma pessoa normal deveria sentir.

Tento me lembrar de como era ser feliz, sorrir abertamente, sentir. Mas não sou capaz de me lembrar, não depois desse tempo todo sem isso.

Já tentei me relacionar com outras mulheres, preencher esse vazio dentro de mim, mas parece que nenhuma era boa o bastante como ela foi. Todas pareciam interessadas demais no meu patrimônio líquido e menos no sentimento, mais no prazer e menos no coração.

Talvez ela tenha me estragado já que eu nem sempre fora assim romântico. Era do tipo garanhão da escola, que todas as meninas queriam para si, o tipo que escolhia as garotas e que fora o rei do baile. Até ela aparecer.

Eu tinha um objetivo: continuar meu legado na universidade. Mas tudo mudou quando ela apareceu em uma aula de economia internacional. Aquela garota tão bonita, meiga, doce. O que fazia ali no meio daquele mundo corporativo? Não podia ser real, tinha certeza de que era um anjo.

Não demorei a me aproximar dela, querendo abdicá-la para mim como nunca. Me repreendia quando pensava em algo além de uma noite com ela, mas como poderia ser diferente se todas as minhas suspeitas se confirmaram quando ela proferiu o seu nome pelo lábios muito bem pintados por um batom líquido rosa claro - do qual eu nunca fora fã, mas que eu abria uma exceção se ela prometesse deixar os meus lábios melados com aquela coisa -: Angelique. Angel. Anjo. O meu anjo.

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