Capítulo 29

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Nós andamos de bicicleta no parque durante uma tarde. Não vi sequer um olhar torto, mas temi os seguranças que circulavam por ali. Será que eles poderiam ter alguma informação?

Nicholas percebia a minha tensão e a todo momento tentava fazer daquele um passeio divertido, de um casal finalmente assumidos para o mundo. Não dizia nada, apenas chamava a minha atenção e me distraía. Eu percebia as suas intenções, é claro, e tinha mais certeza a cada segundo de que aquele era o amor da minha vida.

Nós tomamos sorvete, mesmo que não estivesse tão quente assim, e sentamos próximos ao lago que havia ali. Logo as bicicletas deveriam ser devolvidas, já que eram alugadas, e nós assim fizemos.

Voltamos pra casa entre contar sobre o que havíamos passado há pouco e ouvir Nick reclamar de dores era engraçado. Ele não era tão velho assim, mas provoquei:

- Está ficando velho. Quer consultar um quiroprático? - Toquei seu ombro e vi seu olhar fulminante em cima de mim, o que me fez cair na gargalhada.

- Você fica esperta, menina. - Provocou.

- O vovô não gostou da piada... - A minha voz foi ficando cada vez mais baixa e eu me sentei ereta no banco, ficando em silêncio.

Sabia que Nicholas estava me observando com o cenho franzido, sem entender bem a minha reação.

- Blue? - Tocou minha coxa e eu continuei a mexer nos meus dedos repousados nas minhas coxas.

Me permiti perder em pensamentos. Pensar que tempos atrás eu achava que havia perdido o meu avô, mas na verdade aqueles eram meus pais. Eu nunca poderia realmente sentir o amor de uma verdadeira mãe, nunca poderia sentir o ciúmes do meu pai, nunca teria pais orgulhosos. Era por isso que Aimée me tratava com tanto desdém Ela era minha irmã e não minha mãe e nunca tivera vocação para tal.

Por que ela fizera aquilo? Por que não dissera logo de uma vez que era a minha irmã? Por que me deixou pensar esse tempo todo que eu não tinha o amor da minha própria mãe? O que deu nela ao pensar que tinha algum direito de mentir para mim? Eu era só uma criança, mas cresceria sabendo que era criada pela minha irmã vinte anos mais velha.

Mas tudo estava desmoronado e a culpa era dela. Dela e da sua ideia idiota de fingir ser minha mãe.

Eu sabia que deveria estar chorando àquela altura, mas pensei que era um choro silencioso. Não notei que meus soluços estavam tão altos até Nicholas me aninhar em seu colo dentro do carro. Quando ele havia estacionado mesmo? Agarrei sua camisa e me permiti molhá-la enquanto derramava as minhas lágrimas.

Sabia que não era pra eu ficar daquele jeito, sabia que já tinha que ter chorado tudo o que tinha pra chorar nos braços dele quando ambos desabafamos um com o outro. Mas não, alguma mísera lembrança tinha que vir no meio de uma frase e me fazer refletir sobre toda a minha vida.

- Vai ficar tudo bem, meu amor. - Beijou minha cabeça. - Não chora.

Assenti uma vez, sentindo os soluços diminuindo pouco e pouco enquanto eu sentia seu cheiro e ouvia sua voz. Ele era o remédio pra dor que assolava o meu peito e sabia que ele sentia o mesmo em relação à mim.

Com a mão na sua nuca e a cabeça erguida na sua direção, eu reivindiquei seus lábios nos meus. Entrelacei nossas línguas em uma dança ensaiada e perfeita. Ele tinha os braços na minha cintura e me abraçava contra si. O ar faltou em nossos pulmões cedo demais, eu não tinha fôlego pelo recente choro.

Toquei seu rosto e passei um dedo por seus lábios, desejando-os como nunca antes. Era assim com Nicholas agora que o tinha em tempo integral, uma avalanche de sentimentos, uma montanha russa que nunca parava.

BlueWhere stories live. Discover now