Capítulo 12

874 66 38
                                    

A audição foi retornando aos poucos, como uma televisão que estava no volume mínimo e vai aumentando. Ouvi barulho de ambulância e uma grande quantidade de vozes.

Nick se ajoelhou ao meu lado, tocando meus cabelos e eu olhei para os lados. Tentei me levantar para conseguir ver algo além do céu cinzento acima de mim, mas fui impedida pelo meu salvador.

- Fique quieta, menina Blue. - Pediu com um tom autoritário.

Me deitei novamente, olhando apenas pelo canto dos olhos a aglomeração que se formava à nossa volta. Curiosos e mais curiosos, um pouco de trânsito, um carro estacionado de qualquer jeito próximo ao meu corpo, um homem com as mãos no cabelo e me olhando preocupado.

Acho que fora ele quem quase me atropelara e eu queria dizer que estava tudo bem, mas naquele momento eu só conseguia olhar para o homem ao meu lado, que procurava insistentemente por algo à minha volta.

Seus olhos encontraram nos meus e eu percebi o quão sortuda eu fui por ele estar no mesmo lugar que eu naquele instante, constantemente me salvando. Me peguei pensando se tudo não passava mesmo de uma mera coincidência. Será que ele estava me seguindo? Eu não sabia se me importava, na verdade eu até gostava.

Os paramédicos chegaram e me examinaram, Nicholas desconectou nossos olhares para que pudesse dar atenção à eles. Explicou o que havia acontecido e pediu que me levassem para checar se havia algo de errado por precaução, assim como o homem para ver se estava nas suas perfeitas faculdades mentais depois do ocorrido - já que parecia claramente perturbado.

- Meu Deus, o que eu fiz? - O homem repetia a mesma pergunta de novo e de novo.

- O senhor é pai dessa menina? - Um dos paramédicos perguntou.

E a pergunta doeu, profundamente. Um baque dolorido no meu peito que me deixou sem ar.

Ele tinha idade para ser meu pai e eu estava me apaixonando por ele, pelo pai do meu melhor amigo e de repente aquilo deixou de ser uma sensação excitante para ser algo horrível. Eu traía a confiança do meu melhor amigo e mais ainda de Marceline, que era de longe a pessoa que me conhecia melhor do que ninguém. Engoli em seco, com certa dificuldade pelo colar cervical que haviam colocado em mim, e senti uma lágrima escorrer pelo canto do olho e se alojar em minha nuca.

Um relacionamento com Nicholas Hayes agora era um sonho de adolescente idiota e distante.

Olhei na direção dele, que parecia tão abalado quanto eu, e apenas negou com a cabeça, dizendo que era o dono do clube atrás dele. Os paramédicos pediram que ele me acompanhasse já que me salvara e pediu que eu notificasse a minha mãe. Enquanto eu era colocada dentro da ambulância, vi que o homem do carro era atendido por outros paramédicos de uma outra ambulância que havia chego e eu lhe sorri para que se tranquilizasse.

Nicholas mexeu no celular e o levou à orelha, apenas para começar a falar com o que parecia ser Marceline. Ele tinha o telefone da minha casa? Aquilo parecia muito mais esquisito.

- OK, obrigado. - E desligou. - Sua mãe vai ser notificada.

- Como você tem o telefone da minha casa? - Perguntei.

A ambulância corria e meu corpo seria jogado para fora a qualquer segundo se não fosse pelas amarras.

Nicholas arregalou os olhos ainda olhando para o celular em suas mãos fixamente. Aquilo estava extremamente estranho e sabia que uma mentira viria depois de toda aquela reação.

- Ah, eu tenho o telefone de todos os membros do Clube Renovación. - Deu de ombros e engolindo em seco, se contradizendo em seus próprios gestos.

BlueWhere stories live. Discover now