Capítulo 13

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Eu continuei a correr por todo o clube, tentando me afastar o máximo que conseguia da festa. Já não era mais possível ouvir a música, apenas meus pés se chocando contra a grama úmida pelo sereno. Minha cabeça doía pelo esforço e meu tornozelo recém recuperado reclamava. Me ajoelhei e toquei a cabeça, desmanchando boa parte dos meus cabelos, e meu tornozelo como se apertá-lo fosse diminuir um pouco da dor que se instalou ali. Fechei os olhos com força, respirando fundo para que a respiração ofegante se estabilizasse de novo.

O que eu havia feito? Eu beijei o pai do meu melhor amigo! Droga. Ele era velho, era pra ser nojento, mas eu sentia a minha calcinha encharcada pelo simples contato de nossos corpos. Umedeci os lábios, tentando guardar comigo um pouco do sabor do álcool recém consumido que continha nos dele.

O que minha mãe pensaria? Ou melhor, o que Marceline pensaria? Eu com certeza perderia os meus amigos também. Por uma burrice minha, por um desejo bobo que se apossou de mim de uma hora para a outra. Imaginar era algo diferente de fazer. Era absurdo o que eu havia feito, funcionava muito melhor na minha imaginação.

- Blue? - A voz masculina e grave me assustou e eu me levantei em um salto, olhando na direção de Nicholas Hayes.

Eu deveria ter ouvido os passos, por que não os ouvi? Estava perdida demais em pensamentos.

- Senhor Hayes, me desculpe. - Comecei a falar, colocando as mãos espalmadas na frente do corpo. - Eu prometo que iss nunca mais vai se repetir.

Ele pareceu ofendido de repente, franziu o cenho e olhou na minha direção um tanto quanto magoado. Engoli em seco, pensando se havia dito algo de errado. Não era aquilo que ele queria ouvir? Era o que deveria querer ouvir, era o certo a se fazer.

Tocou minhas mãos e beijou os nós dos meus dedos e foi a minha vez de franzir o cenho. Eu senti cada pelo do meu corpo se arrepiar com o toque de seus lábios na minha pele uma vez mais e apertei suas mãos quando seus olhos verdes faiscaram na minha direção.

- Não se desculpe, menina Blue. - Suas mãos foram ao meu rosto e seu dedo acariciou minha bochecha. Eu me senti pequena e frágil ali nas suas mãos. - Você fez o que desejou. - Seus lábios tocaram a minha testa por tempo demais e todo aquele gesto de respeito me machucou de um jeito que não deveria. - Por que não conversamos um pouco?

Olhei para ele que voltava a tocar minhas mãos e me admirava como se eu fosse uma peça de arte. O que estava acontecendo? O mundo não estava certo, tudo parecia ao contrário.

- Ah, claro. Tudo bem. Pode ser. - Murmurei.

Caminhamos mais uma vez pelo clube, chegando na área de lazer arborizada onde era possível que fizessem piqueniques. Nos sentamos em um dos balanços presos nas árvores e ficamos apenas curtindo o vai e vem por um momento. Não tinha coragem de olhá-lo, tinha medo de que tudo aquilo fosse um sonho, que eu tivesse batido a cabeça com força e estivesse em coma.

Por um lado eu queria que fosse verdade, que tudo se transformara de uma hora para outra na nossa vida e que agora eu estava sentada com Nicholas Hayes em um balanço no clube Renovación depois de demonstrações de afeto significativas.

- Então... - Eu comecei, incentivando ele já que havia me chamado ali para uma conversa.


Nicholas

Me sentia como um adolescente novamente, tentando conquistar a garota inconquistável. Tudo bem que a situação era mais complicada ali do que jamais foi e por isso eu me sentia mais nervoso ainda. Isso era idiotice, eu era um homem feito, não deveria me sentir assim perto de uma garota que mal saíra da puberdade.

BlueOnde as histórias ganham vida. Descobre agora