CAPÍTULO 2 - AMIGO DE LONGA DATA

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O ETeCK era uma feira tecnológica anual formulada quinze anos atrás pelo governo em parceria com diversas empresas, que divulgavam e vendiam seus produtos no evento. Além disso, segundo constava no site oficial da feira, havia ali "uma ótima opção de lazer para o público e um modo de integração entre os sete estados de Kailan", visto que a cada ano o encontro se dava em um estado diferente, seguindo uma ordem cíclica.

A partir do terceiro ano de ETeCK, os organizadores criaram um concurso "com o objetivo de descobrir projetos inovadores em vários segmentos do mercado e revelar jovens empreendedores". Esses concursos passaram a acontecer todos os anos durante os ETeCKs. Para se inscrever, o candidato precisava ser estudante do Ensino Médio ou Superior, não estar vinculado a nenhuma empresa e ter um projeto original patenteado. Deveria escolher a categoria que mais se adequasse ao seu projeto, entre "Administração e Logística", "Biologia e Agricultura", "Educação", "Saúde", "Tecnologia do Entretenimento" e outras dez. E, por último, enviar um vídeo apresentando sua ideia em até um minuto.

As ideias eram avaliadas e as dez melhores em cada categoria passavam para a segunda etapa, que ocorria no local do ETeCK. Os participantes deixavam seus projetos em exibição durante um dia do evento, enquanto um júri percorria o pavilhão analisando-os. Quando os jurados chegavam à mesa de um participante, este precisava apresentar seu projeto detalhadamente.

O vencedor em cada categoria ganhava um troféu e um prêmio em dinheiro. O projeto era leiloado entre as empresas parceiras do ETeCK. A empresa que o arrematasse investiria nele e, se quisesse, poderia contratar o criador.

A ideia de vender seu projeto ou de trabalhar em uma daquelas empresas enormes sempre animara Briel, mas nunca por meio do concurso do ETeCK.

- Você mesmo disse - murmurou Kristina.

- É - concordou Briel.

Kristina relanceou para Tiara. Como expulsá-la sem ser rude? Tinha coisas a falar que não poderiam ser ouvidas por uma governista filha de um dos ministros da ditadura, por mais amiga que fosse. Por sorte, Tiara entendeu que a conversa seria particular. Porém, não entendeu o motivo, pois o jeito como olhou para Kristina e Briel sugeria algo como "Tá bem, danados, já saquei a de vocês. Amigos, né? Só isso, né?". Ela não seria a primeira a alucinar segundas intenções entre os dois.

- Acho que eu vou lá no banheiro - disse Tiara. - Encontro vocês mais tarde.

Kristina ignorou o tom malicioso. A sós com Briel, atirou em voz baixa, satirizando a voz dele:

- Participar do concurso é contribuir pro sistema manipulador desse governo hipócrita.

- É, eu sei que eu falei isso. Mas eu repensei. - Falava com naturalidade, como se estivesse certo. - As maiores empresas do país vieram aqui hoje, e o concurso deixa meu projeto visível pra todas elas, mesmo se eu não ganhar. E, se eu ganhar, o dinheiro é excelente.

- Você já tem dinheiro. Seus pais têm um monte de ações na bolsa de valores.

- Meus pais, e não eu.

- Até ontem isso não fazia diferença pra você!

- Kris, você tá gritando...

- Tá. Foi mal. Mas não muda de assunto... Você podia ter me contado que ia participar.

- Eu não falei porque eu sabia que você ia discordar. Mas desculpa.

Os dois ficaram em silêncio. Kristina aproveitou para olhar em volta, onde os outros participantes arrumavam suas invenções para a exibição. A de Briel já estava sobre a mesa: algumas partes de carro, como um eixo, um motor e coisas que Kristina não sabia o que eram, tudo conectado por fios a um pivô com uma esfera e poucos botões. Um arranjo feio de se ver, mas um ótimo projeto. Um controle de automóveis para deficientes físicos.

AO NOSSO HERÓI, UM TIRO NO PEITOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora