O ETeCK era uma feira tecnológica anual formulada quinze anos atrás pelo governo em parceria com diversas empresas, que divulgavam e vendiam seus produtos no evento. Além disso, segundo constava no site oficial da feira, havia ali "uma ótima opção de lazer para o público e um modo de integração entre os sete estados de Kailan", visto que a cada ano o encontro se dava em um estado diferente, seguindo uma ordem cíclica.
A partir do terceiro ano de ETeCK, os organizadores criaram um concurso "com o objetivo de descobrir projetos inovadores em vários segmentos do mercado e revelar jovens empreendedores". Esses concursos passaram a acontecer todos os anos durante os ETeCKs. Para se inscrever, o candidato precisava ser estudante do Ensino Médio ou Superior, não estar vinculado a nenhuma empresa e ter um projeto original patenteado. Deveria escolher a categoria que mais se adequasse ao seu projeto, entre "Administração e Logística", "Biologia e Agricultura", "Educação", "Saúde", "Tecnologia do Entretenimento" e outras dez. E, por último, enviar um vídeo apresentando sua ideia em até um minuto.
As ideias eram avaliadas e as dez melhores em cada categoria passavam para a segunda etapa, que ocorria no local do ETeCK. Os participantes deixavam seus projetos em exibição durante um dia do evento, enquanto um júri percorria o pavilhão analisando-os. Quando os jurados chegavam à mesa de um participante, este precisava apresentar seu projeto detalhadamente.
O vencedor em cada categoria ganhava um troféu e um prêmio em dinheiro. O projeto era leiloado entre as empresas parceiras do ETeCK. A empresa que o arrematasse investiria nele e, se quisesse, poderia contratar o criador.
A ideia de vender seu projeto ou de trabalhar em uma daquelas empresas enormes sempre animara Briel, mas nunca por meio do concurso do ETeCK.
- Você mesmo disse - murmurou Kristina.
- É - concordou Briel.
Kristina relanceou para Tiara. Como expulsá-la sem ser rude? Tinha coisas a falar que não poderiam ser ouvidas por uma governista filha de um dos ministros da ditadura, por mais amiga que fosse. Por sorte, Tiara entendeu que a conversa seria particular. Porém, não entendeu o motivo, pois o jeito como olhou para Kristina e Briel sugeria algo como "Tá bem, danados, já saquei a de vocês. Amigos, né? Só isso, né?". Ela não seria a primeira a alucinar segundas intenções entre os dois.
- Acho que eu vou lá no banheiro - disse Tiara. - Encontro vocês mais tarde.
Kristina ignorou o tom malicioso. A sós com Briel, atirou em voz baixa, satirizando a voz dele:
- Participar do concurso é contribuir pro sistema manipulador desse governo hipócrita.
- É, eu sei que eu falei isso. Mas eu repensei. - Falava com naturalidade, como se estivesse certo. - As maiores empresas do país vieram aqui hoje, e o concurso deixa meu projeto visível pra todas elas, mesmo se eu não ganhar. E, se eu ganhar, o dinheiro é excelente.
- Você já tem dinheiro. Seus pais têm um monte de ações na bolsa de valores.
- Meus pais, e não eu.
- Até ontem isso não fazia diferença pra você!
- Kris, você tá gritando...
- Tá. Foi mal. Mas não muda de assunto... Você podia ter me contado que ia participar.
- Eu não falei porque eu sabia que você ia discordar. Mas desculpa.
Os dois ficaram em silêncio. Kristina aproveitou para olhar em volta, onde os outros participantes arrumavam suas invenções para a exibição. A de Briel já estava sobre a mesa: algumas partes de carro, como um eixo, um motor e coisas que Kristina não sabia o que eram, tudo conectado por fios a um pivô com uma esfera e poucos botões. Um arranjo feio de se ver, mas um ótimo projeto. Um controle de automóveis para deficientes físicos.
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AO NOSSO HERÓI, UM TIRO NO PEITO
AdventureEm um país chamado Kailan, governado por uma ditadura militar, a jovem Kristina Lan Fer está mais preocupada com o autoritarismo que sofre dentro de casa. Filha indesejada de uma mãe controladora e um pai indiferente, Kristina encontrava alívio no a...