CAPÍTULO 19 - RECOMPOR

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— Entra. Estamos te esperando — disse a voz pelo interfone e o portão se abriu.

O sedan verde-escuro passou pela piscina, pela quadra de vôlei, pela horta. O motorista estacionou e entrou na casa, onde o grupo já se encontrava reunido, esperando por ele. Tinha ensaiado um pedido de desculpas. Na realidade, tinha ensaiado vários, para ouvintes diferentes, pois aparentemente o plano do universo para ele era um ciclo interminável de errar e se desculpar, errar e se desculpar, ser errado e se desculpar. Tudo isso sem jamais se sentir satisfeito.

— Obrigado por não voltarem sem ela — começou Briel diante de sua plateia, que, disposta nas cadeiras e sofás da grande sala, olhava-o de cara feia. Nem todas por ódio, ele sabia. Apenas por cansaço mesmo.

Depois de retornar a Orlestan com o pessoal da Horizonte no outro dia, Briel entrara em contato com o grupo, que estava escondido ainda no Fígado. Usara um celular descartável contrabandeado da própria empresa para contar sobre a situação de Kristina, implorando que eles aguardassem por ela para fazer a viagem de volta. Sabia que ela conseguiria escapar da câmara. Era assim que ela era.

Franke tinha sido o primeiro a reclamar:

— Tu acha que a gente vai se arriscar ainda mais pra salvar a puta que levou três soldados atrás da gente? O Marko falou sobre o primo militar da sua amiga. Foi por sorte que a gente conseguiu derrubar os dois porcos que entraram no nosso quarto. Tu acha que alguém aqui é otário?! Aquela traidora já deixou a Elinor morrer, agora ela vai foder a gente, vai entregar tudo pros porcos! E mesmo se por um milagre ela não falar nada e escapar, nunca vai ser a tempo da invasão!

— Não, Franke — dissera Adriana. — Querendo ou não, ela é parte da equipe.

— Ela não deixou a Elinor morrer, ela nunca faria isso — Briel tinha insistido. — E ela não vai entregar nada. Eu tenho certeza. Vocês podem até não confiar em mim, mas vocês sabem que eu confio na Kris com a minha vida.

— Você não tem nenhuma moral — cuspira Marko. — Nem ela. Ela se vingou da Elinor por causa do pai, que motivo ela tem pra não se vingar do resto?

— Para, galera — dissera Tone. — Parem com essas acusações. Óbvio que é pra gente ficar abalado, mas vocês tão afirmando coisas sem ter certeza. Se deixando levar pela dor. Eu acredito no bem das pessoas e na união, sem falar que a gente pode, sim, esperar pelo menos até amanhã. É dia oito, dá tempo, sim, de voltar pra Cabeça. Por favor, galera.

— Por favor — repetira Briel. — Enquanto eu tava na câmara de tortura, ela resistiu e inclusive não me deixou falar nada, mesmo com a violência que ela tava sofrendo. E ela tem, mesmo, motivo pra sentir raiva de todos nós, mas ela nunca se vingaria da Elinor e nunca entregaria a gente. Eu daria minha própria vida pra provar isso!

Por fim, Tone, Adriana e Briel venceram, e o grupo esperou. Até que Kristina tinha ligado, quase sem conseguir falar, avisando que estava em um beco fora da prisão e pedindo socorro. "Keiton fingiu que ia me matar e me salvou". Concluindo o salvamento, o grupo a buscara e partira para Orlestan, onde chegaram havia pouco tempo, naquela manhã do dia nove. Segundo eles, Kristina dormira durante toda a viagem e, até o momento, permanecia adormecida em um dos quartos da mansão. Enquanto isso, na sala, Briel continuava sua desculpa:

— Eu sei que fui um babaca com todo mundo. Eu sei que não mereço o perdão de vocês, então eu vou pedir só o entendimento. Só o entendimento de que eu não queria ser o cara que eu sou. Eu não queria sentir tanto medo a ponto de arruinar não só a minha vida, mas a de todo mundo à minha volta. Eu me sinto um merda por isso.

AO NOSSO HERÓI, UM TIRO NO PEITOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora