CAPÍTULO 21 - O HOMEM QUE USURPOU A NAÇÃO

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O quarto era grande, com carpete e papel de parede escuros. Havia um sofá de um lado, uma mesinha com cadeiras de outro, um móvel de televisão acoplado à parede, com um aparelho de pelo menos setenta polegadas, e uma cama de casal desarrumada no centro do cômodo.

Não parecia haver ninguém lá. Porém, a não ser que o herói tivesse usado seus superpoderes para voar da janela do terceiro andar, aquele quarto estava, sim, habitado.

— Kris, o mapa não mostra ninguém — disse Briel. — Ou ele tá sem capacete ou tá com um capacete fora do sistema. Cuidado.

Ao lado da televisão, havia uma entrada estreita que dava acesso ao closet e ao banheiro. Se o Marechal aparecesse, com certeza seria por ali. Ou, se não aparecesse, seria por ali que Kristina iria buscá-lo. Afinal, para sobreviver, ela precisava conduzir aquela dança hostil, e que jeito melhor de fazer isso do que ela mesma tirando a fera para dançar?

Ninguém entra — sussurrou pelo intercomunicador e, metendo a mão por dentro do capacete, arrancou o aparelho. Agora sim seus ouvidos estavam atentos à movimentação ao redor.

Deixou o fuzil no chão e sacou a pistola. Na ponta dos pés, avançou pelo caminho estreito. À direita, a porta do banheiro estava fechada. À frente, já se via as inúmeras peças de roupa penduradas nos cabides ou dobradas nas prateleiras e os sapatos dispostos em sapateiras no closet. Se eu fosse um presidente, onde eu me esconderia? Ela ficou parada, concentrada. Deu um passo para frente. Um sorriso surpreendeu a extremidade de sua boca quando ela notou que fazia a pergunta errada.

Se eu fosse um Marechal e herói de guerra, onde eu esconderia minha arma?

Adentrou o closet, tomando cobertura na lateral de uma cômoda.

Silêncio

Silêncio

Silêncio...

E então um ruído perto de uma das sapateiras.

Kristina esticou o pescoço para espiar pelo lado de sua cobertura, mas nesse momento um tiro retumbante simplesmente destruiu a cômoda, espalhando pedaços de madeira. Ela deu dois tiros mais ou menos na direção de onde viera aquele, depois se arrastou, de costas, para fora do closet. Virou-se e correu cambaleante de volta para o quarto, onde se agachou com as costas na parede, esperando o Marechal passar pelo caminho estreito para ir atrás dela.

E ele se aproximou devagar. Ela não ouvia os passos — provavelmente estava descalço —, mas ouvia sua respiração, e de algum modo até sentia sua presença. Deixou que ele chegasse mais e mais perto. Até que ele enfim colocou uma perna à vista dela, e foi nessa perna, na altura do joelho, que Kristina disferiu uma coronhada. O berro de dor do presidente foi abafado por seu capacete. Ele tirou do chão a perna ferida. Kristina agarrou sua outra perna e a puxou, derrubando-o de vez. Mesmo caído, ele ainda tentou se posicionar para atirar mais uma vez com sua escopeta de cano curto, mas Kristina foi mais rápida: se jogou em cima dele e golpeou a dobra de seu pulso, tirando-lhe a arma. Chutou-a para longe, na direção do closet.

Com Sarto desarmado, Kristina tentou se levantar, mas ele chutou suas pernas e ela, para não cair, agarrou-se à cortina da janela. No entanto, caíram ela, a cortina e o varão da cortina. No meio da confusão de pernas e panos, ela apontou a pistola para Sarto e gritou:

— Me solta! Me solta!

Assim, conseguiu se levantar e se distanciar alguns passos, sem afastar a mira. Ele se desvencilhou da cortina e se levantou, menos intimidado do que Kristina esperava, mas com as mãos para cima.

AO NOSSO HERÓI, UM TIRO NO PEITOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora