CAPÍTULO 4 - BASTIDORES DA PÁTRIA

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Era uma sexta-feira de outubro, fim de expediente na sede da Corporação Horizonte. O mais novo Administrador de Rede se dirigia aos elevadores. Entrara na empresa como Analista de Processos de Primeiro Grau, mas dois meses atrás conseguira sua nova função. Ainda não era a necessária, porém ele acreditava que esta chegaria logo. Precisava acreditar, ou se sentiria ainda pior.

No elevador, encontrou um grupo de colegas da sua antiga equipe.

— Fala aí, Briel. Recebi notícia de que seu projeto vai finalmente ser lançado.

— No início de dezembro — disse Briel.

— Parabéns, parceiro.

— Obrigado.

— Tá sabendo da festa no sítio do Nero amanhã? Ele tá chamando todo mundo. O que você acha?

— Eu acho ótimo, mas nesse fim de semana não rola. É o casamento da minha cunhada, e não tem como eu faltar. Mas fica pra próxima, hein.

No primeiro andar, Briel se separou dos outros, indo em direção ao banheiro. Aliviou-se, lavou as mãos e ajeitou a gravata. Quando se virava para sair, um dos Administradores de Dados, que trabalhava com ele atualmente, entrou.

— Ei, olha quem tá aqui — disse o homem. — Segunda-feira eu ainda vou te ver ou você já vai ter virado presidente dessa porra?

Era um homem simpático.

— Dá licença, por favor — pediu Briel.

O homem continuou em seu caminho.

— Eu ainda não descobri qual é a sua, moleque, mas eu sinto um ar de trapaceiro em você.

Não é um ar, é uma ventania, pensou ele.

— Tá — disse. — Posso sair agora?

O outro liberou a passagem, mas manteve os olhos fixos em Briel enquanto ele saía. Do lado de fora, não houve mais obstáculos no caminho até o carro, na garagem do prédio. Ao entrar, Briel olhou para as flores no banco do carona: antúrios rubros de miolo escuro em um vaso decorado. Comprara-os pela manhã, antes de ir ao trabalho. Prendeu o vaso com o cinto de segurança, cauteloso para não amassar as pétalas, e deu a partida.

O centro de Orlestan era eternamente movimentado, ainda mais àquela hora, em que o trânsito se infestava de pessoas se deslocando do trabalho para suas casas. Briel deveria ir à faculdade, que tivera que mudar para o turno da noite. Entretanto, após uma hora e meia, seu sedan verde-escuro passava por um grande portão preto com detalhes dourados, ladeado por colunas com arbustos redondos em cima.

O carro atravessou a rota de entrada até um caminho circular com uma fonte no meio, parando em frente a uma porta dupla que já estava aberta. Aquela casa era o labirinto mais enfeitado com quadros de moldura de ouro em que Briel já entrara, e ele tinha demorado até aprender o caminho para o quarto. Mas agora, já adestrado, acertava de primeira.

A mulher estava deitada na cama de casal, de camisola, assistindo à televisão em uma tela maior do que o desgosto de Briel. Quando desligou o aparelho, a luz da lua e das estrelas que penetrava pela porta de vidro da varanda passou a ser a única iluminando o local e a face de Iore Eston.

— Oi, meu amor — disse Briel, mostrando-lhe os antúrios.

— Lindo. Pode colocar ali na mesa.

AO NOSSO HERÓI, UM TIRO NO PEITOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora