Era uma sexta-feira de outubro, fim de expediente na sede da Corporação Horizonte. O mais novo Administrador de Rede se dirigia aos elevadores. Entrara na empresa como Analista de Processos de Primeiro Grau, mas dois meses atrás conseguira sua nova função. Ainda não era a necessária, porém ele acreditava que esta chegaria logo. Precisava acreditar, ou se sentiria ainda pior.
No elevador, encontrou um grupo de colegas da sua antiga equipe.
— Fala aí, Briel. Recebi notícia de que seu projeto vai finalmente ser lançado.
— No início de dezembro — disse Briel.
— Parabéns, parceiro.
— Obrigado.
— Tá sabendo da festa no sítio do Nero amanhã? Ele tá chamando todo mundo. O que você acha?
— Eu acho ótimo, mas nesse fim de semana não rola. É o casamento da minha cunhada, e não tem como eu faltar. Mas fica pra próxima, hein.
No primeiro andar, Briel se separou dos outros, indo em direção ao banheiro. Aliviou-se, lavou as mãos e ajeitou a gravata. Quando se virava para sair, um dos Administradores de Dados, que trabalhava com ele atualmente, entrou.
— Ei, olha quem tá aqui — disse o homem. — Segunda-feira eu ainda vou te ver ou você já vai ter virado presidente dessa porra?
Era um homem simpático.
— Dá licença, por favor — pediu Briel.
O homem continuou em seu caminho.
— Eu ainda não descobri qual é a sua, moleque, mas eu sinto um ar de trapaceiro em você.
Não é um ar, é uma ventania, pensou ele.
— Tá — disse. — Posso sair agora?
O outro liberou a passagem, mas manteve os olhos fixos em Briel enquanto ele saía. Do lado de fora, não houve mais obstáculos no caminho até o carro, na garagem do prédio. Ao entrar, Briel olhou para as flores no banco do carona: antúrios rubros de miolo escuro em um vaso decorado. Comprara-os pela manhã, antes de ir ao trabalho. Prendeu o vaso com o cinto de segurança, cauteloso para não amassar as pétalas, e deu a partida.
O centro de Orlestan era eternamente movimentado, ainda mais àquela hora, em que o trânsito se infestava de pessoas se deslocando do trabalho para suas casas. Briel deveria ir à faculdade, que tivera que mudar para o turno da noite. Entretanto, após uma hora e meia, seu sedan verde-escuro passava por um grande portão preto com detalhes dourados, ladeado por colunas com arbustos redondos em cima.
O carro atravessou a rota de entrada até um caminho circular com uma fonte no meio, parando em frente a uma porta dupla que já estava aberta. Aquela casa era o labirinto mais enfeitado com quadros de moldura de ouro em que Briel já entrara, e ele tinha demorado até aprender o caminho para o quarto. Mas agora, já adestrado, acertava de primeira.
A mulher estava deitada na cama de casal, de camisola, assistindo à televisão em uma tela maior do que o desgosto de Briel. Quando desligou o aparelho, a luz da lua e das estrelas que penetrava pela porta de vidro da varanda passou a ser a única iluminando o local e a face de Iore Eston.
— Oi, meu amor — disse Briel, mostrando-lhe os antúrios.
— Lindo. Pode colocar ali na mesa.
ESTÁ A LER
AO NOSSO HERÓI, UM TIRO NO PEITO
AdventureEm um país chamado Kailan, governado por uma ditadura militar, a jovem Kristina Lan Fer está mais preocupada com o autoritarismo que sofre dentro de casa. Filha indesejada de uma mãe controladora e um pai indiferente, Kristina encontrava alívio no a...