CAPÍTULO 22 - PEDRAS NA POÇA DE ÁGUA (final)

1.1K 109 96
                                    


Você não tem noção do que acabou de fazer...

Mas aquilo não tinha sido um Sinto informar que você acabou de me matar. Obviamente, no entendimento de Sarto, Kristina planejara aquilo. Afinal, como alguém podia esfaquear o presidente sem saber que a faca estava envenenada?

Depois da invasão, a parte do grupo que pegara a ambulância tinha voltado para a casa dos Lan Paker, satisfeitos após ouvirem no rádio que nosso grande herói, o destemido Marechal Sarto, após lutar bravamente contra os hediondos terroristas que invadiram o Palácio Presidencial, para a mágoa de Kailan recebeu um perverso tiro infeliz em seu majestoso coração, deixando seu áureo corpo de átomos e seguindo sublime em espírito rumo à magnífica eternidade dos Guerreiros.

Já amanhecia, àquela altura. Ao chegarem, priorizaram os socorros à Marko e Tone, que foram atendidos na casa mesmo, por médicos e enfermeiros discretos como deveriam ser. Ter os dois em um hospital com ferimentos de bala seria perigoso, ainda mais quando noventa por cento das pessoas baleadas que estavam chegando aos hospitais naquela área tinha acabado de sair do Palácio Presidencial.

Depois de resolvida a emergência, foi possível, pelo menos, respirar. Eles se reuniram no quarto onde Marko e Tone repousavam. Briel e Esteban ainda não tinham chegado. Kristina, Adriana e Franke, que ainda estavam sujos e criminosos, sentaram-se no chão como se dissessem em silêncio: agora acabou. Quando Adriana foi pegar uma garrafa de água e copos na cozinha, Kristina se ofereceu para ajudá-la. Foi quando finalmente confirmou aquilo que tanto a intrigava:

— A faca... Ela tava envenenada? — Era a única explicação plausível.

— Todas estavam — disse Adriana, a princípio fazendo careta à pergunta. Só depois entendeu. — Você não atirou?

— Não.

— E aí você achou que não tinha conseguido matar?

Eu não queria matar ninguém! berrou ela por dentro. Ou será que queria, mas tinha falhado? Nem mesmo ela sabia. Porém, querendo ou não, agora era a agente direta do maior ato revolucionário na história recente de Kailan e consequentemente uma assassina.

— É — respondeu ela, olhando para baixo.

— Então eles mentiram no rádio. Típico. Uma morte por veneno não seria heroica o bastante.

— Vocês podiam ter me contado do veneno.

— Na correria a gente acabou não falando, já que você ainda tava desmaiada quando a gente começou a arrumar as armas.

Na sala, todos conversaram sobre o que tinham acabado de fazer. Cada um narrou, a partir de seu ponto de vista, os acontecimentos quando estavam separados. Kristina teve que inventar a história de como intencionalmente matara Sarto.

Você não tem noção do que acabou de fazer...

As palavras do Marechal tinham sido uma declaração de perigo. Você não tem noção do que acabou de causar, com a minha morte. De fato, ela não tinha total noção. Não tinha controle do que poderia acontecer. Ninguém tinha. Este era um dos motivos pelos quais Kristina hesitara em matar: por medo das consequências.

Marko, meio grogue de anestésicos, narrava sua noite de homicídios quando Briel e Esteban finalmente entraram apressados pela porta. Já eram seis e pouca da manhã. A primeira coisa que Briel fez foi abraçar Kristina, gesto que se estendeu por um longo tempo sem que nenhum dos dois emitisse uma palavra. Bastava sentir o aperto, as respirações que logo se puseram no mesmo ritmo, o conforto de se terem novamente depois de tudo.

AO NOSSO HERÓI, UM TIRO NO PEITOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora