[f(5) = 2x - 5] Friedrich Nietzsche

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Desde pequeno, eu me pergunto se Deus existe.

Quando tive um pouco mais de idade, passei a acreditar que a resposta era não. Mas, um tempo depois, eu percebi que afirmar a inexistência de um deus era tão presunçoso quanto afirmar o oposto.

A humanidade sequer conhece todos os segredos do planeta que ocupa, quem dirá conhecer todos os mistérios do universo.

Até mesmo o homem ou a mulher mais geniais que já pisaram na Terra são ignorantes diante da imensidão na qual nos inserimos.

Por isso, logo após minha fase de puro ceticismo, eu aceitei que nunca teria propriedade suficiente para negar ou afirmar a existência de criaturas divinas, e resolvi deixar o questionamento em aberto.

Agora, no entanto, eu tenho certeza.

Deus existe. E ele me odeia.

Eu gostaria de estar brincando, inferno, como gostaria. No entanto, não me resta sequer um traço de humor para isso, porque os últimos acontecimentos destruíram completamente qualquer leveza que poderia existir em mim, já que quatro dias se passaram, mas de acordo com o calendário ainda é 21 de outubro.

— Anda... — Eu digo no escuro e silêncio do meu quarto enquanto olho fixamente para o único ponto de luz que é a tela de meu celular, onde observo o relógio marcando 23:59.

Então... 00:00.

Imediatamente eu deslizei meus olhos para baixo do relógio digital, onde está exibida a data. E não que eu tivesse esperanças, porque toda ela já foi tirada de mim, mas ainda assim fico frustrado como o inferno ao ver o que está escrito no visor.

Segunda-feira, 21 de outubro. De novo.

Talvez frustração não seja o sentimento que me domina agora. Desespero parece melhor. Ou ódio.

Eu estou com ódio, porque nada disso faz sentido.

Sabendo que não vou conseguir pegar no sono, eu saio da cama ocupada por lençois bagunçados e abro meu armário para pegar uma jaqueta, jogando-a por cima de meu conjunto de moletom antes de observar meu reflexo por um instante, com olheiras acentuadas abaixo dos olhos.

Então, fechei a porta e peguei as chaves de Belinda e meu capacete. Na porta de casa, enfiei meus pés no primeiro par de sapatos que apareceu e em seguida rapidamente subi em minha moto, percebendo que o barulho de seu motor parece ainda mais alto agora que o bairro está silencioso.

Angustiado, eu saí pelas ruas, sentindo a rotação do motor fazer Bee vibrar sob meu corpo assim como minha garganta vibra com o grito que tento prender.

Isso não está acontecendo.

Isso não pode estar acontecendo.

Talvez seja um sonho ruim. Apenas um pesadelo que parece real demais, mas não passa disso. Um pesadelo. Eu só não sei como acordar.

Mas enquanto minha mente se conforma com minha impotência, meu corpo assume o controle, ou talvez seja justamente o oposto, e eu giro o acelerador, fazendo Belinda correr ainda mais rápido, cantar ainda mais alto.

Seu barulho corta o ar e o vento gelado maltrata as poucas partes expostas de meu corpo, mas eu não me importo.

Eu já vou acabar com isso. Eu já vou acordar.

Com o ponteiro do velocímetro apontando 120 quilômetros por hora, eu fecho os olhos e acelero ainda mais.

Só preciso colidir em algo com força o suficiente e então o impacto vai me fazer acordar em minha cama, assustado, mas livre desse sonho ruim.

CEM CHANCES • jjk + pjmWhere stories live. Discover now