[f(16) = 32 - x] Multiverso místico

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🔮

Splash.

Escuro.

Splash. Splash.

Eu pisco.

Minhas pálpebras se abrem. A imagem clareia. Pisco novamente.

Splash.

Uma imagem humana se forma diante de meus olhos, no horizonte.

Uma voz quase familiar se une à figura borrada do rapaz, que se torna mais nítida a cada segundo.

— Jun!

Pisco mais uma vez. Splash.

A imagem se torna nítida.

Um garoto vestindo um macacão jeans está agachado diante do que parece o bebedouro de um animal, de costas para mim. Ele grita mais uma vez.

— Jun! O bebedouro do Chim tá pingando de novo!

O garoto do macacão vira para trás, o rosto redondo emoldurado por cabelos escuros; os olhos felinos, dolorosamente familiares, adornados por um brilho mais suave que aquele que conheci. O corpo parece um pouco menor, mais rechonchudo, a voz vem acompanhada de manha. Ainda assim, ainda que existam tantas diferenças, eu o conheço.

Aquele é Jimin.

Uma outra versão, definitivamente. Mas é ele.

A surpresa me faz ofegar surpreso, antes que eu chame seu nome numa interrogativa horrorizada. Minha voz não tem som, no entanto. Parece apenas um eco dentro de minha própria mente. Mas essa versão menor, mais manhosa e rotunda de Jimin parece ouvir o chamado, porque logo seus olhos rasgados-pelas-garras-de-um-animal miram em minha direção, assustados. Mas ele não me vê.

— Minha nossa senhora... — Ele esfrega as mãos nos braços, tremendo suavemente antes de balançar a cabeça para os lados: — Tomara que não seja a morte me chamando...

Eu estendo minha mão até deixá-la no meu campo de visão, mas ela não existe. Eu a sinto, como um membro fantasma, mas ela não está aqui. Como se todo o meu corpo fosse composto de energia, flutuante, invisível aos olhos, mas ainda assim, real.

Um miado faz meus olhos, ou o que quer que sejam, voltarem à cena à frente.

Um gato cinza caminha na direção do Jimin de macacão, que o pega nos braços com todo o carinho do mundo.

Quando essa nova versão de Jimin fica de pé, uma outra pessoa surge na cena que mais parece um delírio.

Cabelos negros, cortados e penteados elegantemente, corpo coberto por um conjunto de roupas escuras e arrumadas. Os olhos são confiantes, mas carinhosos quando encontram o garoto com o gato cinza.

Os meus, no entanto, se corrompem com horror.

Não pode ser.

Aquele sou eu.

— Você parece assustado, anjo. — Essa versão minha diz, aproximando-se do outro.

Jimin de macacão se encolhe, procurando abrigo no abraço do homem que se aproxima.

— Acho que a morte me chamou.

Eu rio. Quer dizer, aquele eu ri.

— Ela que não queira te levar tão cedo. Eu a persigo até o inferno se tentar te pegar, meu bem.

A versão manhosa de Jimin ri, erguendo o rosto gordo para pedir um beijo, ainda mantendo o gato cuidadosamente entre os dois quando recebe um toque suave nos lábios.

CEM CHANCES • jjk + pjmWhere stories live. Discover now