Capítulo 10

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POV ELIJAH

Vou explicar para ela o que teremos que fazer daqui para frente, e meio que estou torcendo para que ela não me odeie pela bola de neve que nos meti.

Chary está sentada em uma das poltronas de perto da janela, ela observa tudo ao seu redor como uma raposa com medo de ser caçada, pigarreio para chamar atenção, ela tira os olhos de um dos quadros da parede.

– Vieram de Napoli com meu avô, foram feitos pela irmã dele – Explico sem muita importância, mas ela presta atenção com um pouco de desconfiança. – Foram passados para mim após a morte dele.

– São lindos. – Elogia com uma cordialidade excessiva, ela levanta da poltrona e para à minha frente, em uma distância grande demais. – Quando posso ir para casa?

Pigarreio novamente, dessa vez pelo desconforto da situação.
Como explico que ela não vai poder voltar para casa durante um longo tempo?
Como explico que agora a casa dela deve estar cheia de funcionários de Alexei?

– Está tarde demais para voltar a cidade, durma aqui essa noite. – Explico com uma calma falsa, acho que ela percebe, porque cerra os olhos para mim.

– Acho que é melhor eu voltar para casa. – Responde com cautela, como se estivesse testando minha reação.
Respiro fundo, pensando em como responder da melhor maneira sem que ela pense que está sendo sequestrada.

Que se foda.

– Você está me prendendo aqui? – A voz dela sai tensa, completamente séria, Chary já percebeu exatamente o que está acontecendo.
Vejo-a levar a mão até o bolso da saia, onde vejo o relevo retangular do celular.

Não faz isso. Vai se arrepender de revelar sua localização para qualquer um. – Explico calmamente, sem transparecer a dor de cabeça que tudo isso está me causando.

– Vou ligar para a polícia, já que você meio que me sequestrou.

Ouço a risada e só depois de uns segundos percebo que é minha.

– Boa sorte, Chary. A polícia não pisa aqui. – Revelo sem importância.
O que realmente me atrapalharia é se ela ligasse para aquele amigo dela, mas não deixo isso transparecer também.

Chary? – A raiva pintada em sua face deixa-a cada vez mais linda.

– Sim, Chary, meu amor. – Sorrio ao ouvir como o apelido soa em voz alta, e nem sei o que seria capaz de fazer se ouvisse esse apelido na boca de outro homem.

– Você me sequestrou, babaca.

– Não sequestrei, não. Você entrou no carro por vontade própria, e está aqui com o mesmo sentimento. – Minha calma fingida a deixa ainda mais irritada, dou dois passos para frente, meu sorriso aumenta quando ela dá dois para trás, com cautela. – Dá o celular para mim.

– Nem fudendo. – Responde, rio baixinho enquanto dou mais passos em sua direção, dessa vez ela se recusa a recuar. – Vai arrancar de mim, é?

Cerro os olhos, ainda sorrindo.

– Claro que vou, lindeza. – Estou próximo o suficiente para pegar o que quero, mas paro, esperando para ver se ela vai correr. – Fuja de mim, Chary, eu adoro.

– Você é maluco para caralho, sabia disso? – Diz com raiva, mas vejo um brilho diferente nascer em seu olhar, quase como interesse... Reconhecimento.
Ela também quer que eu corra atrás dela.

Quer brincar de pega-pega, Chary? – Pergunto uma vez, ela arregala os olhos, surpresa com minha destreza.

– Vai se foder.

Rio alto, me divertindo como não me divertia fazia anos. Arranco o celular dela com facilidade, ela tenta pegar de volta com uma mão, agarro seu pulso com firmeza o suficiente para assustá-lá.

– Não vou passar a noite aqui. – Ela pronuncia cada palavra com ódio, dou de ombros, sem dizer uma palavra.
Com o canto do olho, vejo Talita aparecer na sala, ela encara por muitos segundos a forma que seguro o braço de Chary, mas escolhe não comentar.

– Seu pai está subindo, acho que descobriu o que você fez. – Ela completa, ainda encarando o mesmo ponto.
Reviro os olhos e respiro fundo por muitos segundos antes de voltar o olhar para Chary.

– Vai ter que fingir muito bem, lindeza.

Ela franze o cenho, mais de irritação do que confusão.

– Fingir o quê, exatamente?

Fingir que está doida para sentar no meu primo. – Talita intervém com um sorriso maldoso, ouço a risada forçada de Chary.

– Nem fudendo. – Responde como se fosse a coisa mais engraçada do mundo, estou começando a perceber que é a resposta que ela mais usa.

– Já pode ir, Talita. – Resmungo de mal humor, ela sai da sala, bufando.

– Vai por uma coleira em mim, Verdetto? – Chary sussurra com raiva, se referindo a força que estou fazendo para segurar o braço dela, mas percebo que ela não pediu para ser solta.

– É uma oferta tentadora, lindeza. – Finalmente solto o braço dela, o brilho em seu olhar fraqueja. – Vai ter que ser minha namorada de mentira se quiser que sua dívida seja paga.

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Intocável - Dark Romance Where stories live. Discover now