Capítulo 19

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POV CHARLOTTE

Observo Jason retirar a camisa e se preparar para a luta, não apoio de forma alguma que meu melhor amigo se ponha em risco por dinheiro, mas não tenho como negar que é fascinante vê-lo lutar.
Quer dizer, eu sempre soube que ele era muito forte, mas agora tenho a confirmação visual.

Solto um grito de susto ao sentir alguém agarrar meu braço com muita força, o homem me arrasta para fora da multidão e só depois de longos segundos percebo que é Elijah. Empurro-o para longe com meu braço livre, e tento me soltar com o outro.

– Que porra, Elijah! Você me assustou para caralho. – Grito, ainda tentando me soltar, ele aperta meu braço com mais força. Ele finalmente para de me arrastar pela academia abandonada, quando finalmente posso me equilibrar, vejo que o rosto dele está coberto de manchas de sangue, percebo que a maioria não é dele, mas mesmo assim, ele tem um corte médio em seu lábio que está jorrando sangue.

– Você está sangrando. – Puxo meu braço mais uma vez, sem sucesso.

– Sim, porque me distraí – Ele aproxima o rosto do meu, seu olhar carrega bastante raiva. Por que ele está tão irritado se ganhou as duas lutas? – Graças a você, Chary.

– Que porra eu tenho haver com isso?

Ele ignora minha pergunta, em vez disso, me encara com mais raiva.

– Onde está o lenço que te dei? – Pergunta entredentes, dou de ombros, mostrando indiferença. – Sem ele você é um peixinho na isca para que qualquer um te pesque.

– E mesmo assim, quem está me agarrando é você. – Respondo, seriamente. Ele suspira, cansado, e finalmente me solta.

– Vamos voltar. – Ele impõe, como sempre. Cruzo os braços, e permaneço imóvel.

– Não voltar com você.

Ele ergue as sobrancelhas para mim.

– Sua casa não é mais segura, esqueceu? – Sua voz sai mais rude que o normal, olho para o ringue mais uma vez, Jason está por cima do outro homem, mas não vejo direito daqui o que está acontecendo.

– Não que seja da sua conta, mas vou para casa do Jae. – Completo com seriedade, ele me encara por um segundo, depois ri sem humor.

Jason! Jason! Jason! – Sorrio ao ouvir os gritos de comemoração da multidão, ele ganhou.

– E qual a diferença entre ir para a casa dele e ir para minha casa? – Elijah pergunta, está sério novamente.

– Você quer uma lista dos motivos? – Pergunto ironicamente, mas ele espera pela resposta. – Para começar, ele não me agarra pelo braço e me puxa para onde bem entende como se eu fosse uma bonequinha de pano.

Ele revira os olhos, está um pouco mais irritado do que quando chegamos, embora eu também esteja com raiva dele, só consigo olhar para o corte profundo em seu lábio inferior que ainda sangra.
Ricardo, o amigo ou treinador de Elijah, aparece ao meu lado com um sorriso para o vencedor, ele oferece uma toalha branca e limpa para Elijah, pego da mão do homem antes que ele aceite.
Ricardo me olha torto quando tomo a toalha de sua mão, mas logo volta a atenção para Elijah, que parece cada vez mais de mau humor.

– Foi uma boa luta, Roccio – Ele começa com gentileza e bastante humor, sendo assim o completo oposto do Verdetto. – Você utilizou boas táticas e...

– Podemos conversar depois, Ricardo? – Elijah interrompe. – Estou resolvendo uma coisa primeiro.

Ricardo não precisa de mais nada para desaparecer do campo de visão.
Suspiro audivelmente antes de ajeitar a toalha, com a mão, posiciono o tecido fofo e branco no corte de Elijah, ele faz uma careta, ou pela dor, ou pela surpresa do meu gesto.
Passo com delicadeza o pano em seu lábio, ele me encara durante o processo, mas nem ousa encostar em mim.

– Onde tem água para limpar seu corte? – Pergunto, ainda de mau humor.
Não suporto ver sangue, e é só por isso que estou cuidando do desgraçado.

– Não se preocupe com isso, alguém vai fazer um curativo depois. – Ele retira minha mão, reviro os olhos.

– Me esqueci que você possui um exército de mulheres dispostas a fazer tudo por você. – Rebato, completamente irritada por toda a situação.

– Você não cansa de ser insuportável? – Elijah resmunga, logo depois, pega em meu pulso, dessa vez com delicadeza, e me puxa para além da multidão.
Entramos em um pequeno cômodo que depois de alguns segundos percebo ser um vestiário abandonado, já quase todo destruído.
De alguma forma, eu e ele estamos sozinhos aqui dentro.

– Vai me assassinar nesse banheiro? – Ironizo, sou ignorada.
Ele aponta para a única pia intacta do local, caminho até lá e abro a torneira, a primeira corrente de água vem suja de terra, mas depois de alguns segundos, fica límpida. Molho a toalha, agora vermelha pelo sangue.
Viro e Elijah está sentado em um banco empoeirado, caminho até ele e me sento ao seu lado, inclino a coluna para que consiga passar o pano novamente em seu lábio, não faço força, apenas uso minha delicadeza natural.

Eu meio que gosto de cuidar das pessoas, mesmo as que eu odeio.
Fazia exatamente isso com meu pai após as lutas dele.

– Volte para casa comigo. – Ele sussurra na escuridão do banheiro.
Continuo meu trabalho com a limpeza.

– Não. – Respondo simplesmente, quando acho que está bom, me levanto e vou lavar o tecido novamente. – Passe alguma coisa em seu corte quando for dormir.

– Você pode passar para mim se vier comigo. – Ouço o segundo sentido em sua voz, bufo de raiva.

– Acho que você consegue se virar sozinho. – Respondo, simplesmente.

– É mais divertido com você.

Uma raiva nova borbulha em minha pele, encaro-o por alguns segundos na escuridão.

– Se quer foder com alguém, não me use para matar essa tensão! – Grito, deixando a raiva sair. – Vá atrás de alguma das mulheres que você sempre usa.

– E se eu quiser só você por agora? – Ele pergunta com ironia, está zombando de mim.

– Então sugiro fazer um voto de castidade, seu babaca presunçoso. – Jogo a toalha nele e me viro para ir embora, sem olhar para trás, digo: – Vou dormir na casa do Jae, quer você queira ou não.

...

Jae me levou para casa dele em seu carro, não fez perguntas, para o meu alívio, mas sei que fará amanhã.
Entro no quarto dele e sinto uma felicidade genuína por ver tudo exatamente igual, parece que fazem anos desde a última vez que estive aqui.
Me jogo em sua cama sem nem esperar permissão, sinto o cheiro dele e algo em mim se acalma.

– Vou tomar banho, já volto. – Ele diz enquanto tira a camiseta, não consigo evitar olhar para o abdômen dele, que parece cada vez mais definido. – Pode pegar uma roupa na gaveta para você dormir.

Levanto da cama assim que ele sai do quarto, vou até a gaveta encostada na parede e escolho uma blusa azul para passar a noite, me troco sem pressa, e quando termino de me vestir, Jae reaparece no quarto, já de banho tomado.
Me jogo na cama novamente, enfio um travesseiro no rosto para dar privacidade para ele se trocar, em alguns segundos, sinto um peso afundar no colchão, ele deita ao meu lado e rouba o travesseiro de mim.

– Como fui na luta? – Jae pergunta com um sorriso convencido, reviro os olhos de brincadeira.

– Não quero falar sobre isso agora – Seguro um bocejo enquanto falo, deito minha cabeça no peito dele e logo caio no sono, no conforto do abraço do meu melhor amigo.
É inevitável lembrar de quando passávamos todas as noites juntas quando éramos adolescentes.

...

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