Capítulo 11

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POV CHARLOTTE

Elijah me jogou em um quarto enorme antes que seu pai entrasse no apartamento, agora estou parada no meio do cômodo, ouvindo e prestando atenção em cada palavra que os dois gritam lá da sala.
Tenho certeza que é o quarto do Elijah, porque o cheiro dele está em tudo aqui.
O quarto é muito chique, escuro e estranhamente aconchegante, a cama é um amontoado confortável todo preto, e, definitivamente, o que mais chama atenção são as janelas até o teto, cobrindo uma parede inteira.
Da para ver a cidade toda daqui, e é uma vista magnífica, eu encararia por horas, mas me concentro em outra coisa.

Você fodeu com o acordo de quarenta anos por uma garota? – O pai dele pergunta, está muito irritado, mas não me surpreende, já que ele não parece ser uma pessoa que tem outra emoção além de raiva.

Ela é minha noiva. – Elijah cospe de uma vez. Me afasto da porta como se tivesse sido pega no flagra.

Epa.
Noiva?

Ele me disse que eu era a namorada de mentira, não a noiva.

Puta merda.

A porta batendo é a última coisa que ouço da discussão.

Quais as chances de Elijah me jogar em um beco mal iluminado, considerando que ele me odeie com todas as forças?

Me jogo para trás quando a porta do quarto é aberta, cambaleio por segundos vergonhosos antes de me estabilizar, vejo um sorriso babaca nascer na expressão do Verdetto.

– Me espionando? – Ele pergunta com malícia, cerro os olhos, já completamente fora de mim, ele me deixa assim.

– Quando vou poder ir para casa? – Pergunto finalmente. Ele cruza os braços e se apoia no batente da porta, parece cansado demais para revidar as provocações.

– Você não vai para casa hoje – Responde, seco. – E vê se não reclama feito uma mimadinha, estou tentando te manter viva.

A seriedade do assunto faz um nó nascer em minha garganta, mas decido não transparecer.

– Devo me reverenciar? – Uso o tom de humor mais falso que já ouvi. – Por que não posso ir para casa?

– Sua casa já deve estar rodeada de Violas, entendeu? – Ele desencosta da porta, dá dois passos em minha direção e abaixa o rosto para falar comigo. – Seria burrice demais aparecer lá, até para você.

Como assim até para mim?
Maldito.

– Minha mãe mora comigo, preciso tirar ela de lá. – Mantenho a voz calma, mas por dentro estou sufocando de desespero.
Torço muito para que ela não tenha voltado para casa hoje, torço para que ela tenha apagado em uma vala bem longe.

– Olha só, Chary, eu me meti em uma encrenca gigantesca para salvar sua pele, então vê se não fode com tudo sendo uma mimada do caralho.

– Eu não pedi para você fazer porra nenhuma. – Rebato na defensiva, ele cerra os olhos e aproxima o rosto do meu mais um pouco.

– É. Mas eu fiz.

– Eu podia me virar sozinha.

– Não foi isso que vi na boate. – Começa, de mal humor. É a minha vez de cerrar os olhos. – Quer me dizer como você pretendia se livrar do cara te agarrando?

Meus ombros caem com todo o peso guardado, não consigo esconder as lágrimas pencherem meus olhos, ele percebe, porque por um segundo, seu olhar raivoso fraqueja, o brilho em seus olhos demonstram uma nova emoção, preocupação e um pouco de culpa.

A verdade é que eu estava desesperada, implorando para que alguém viesse me ajudar. E Elijah veio, sou muito grata por ele.

Elijah pisca uma vez e toda a emoção em seu olhar some, ele se afasta para pegar alguma coisa no cômodo dentro da suíte, é um closet.
Em alguns segundos ele volta com uma camiseta branca na mão e a oferece para mim.
Encaro-o, sem entender.

– Por mais que eu fique excitado para caralho ao te ver nessa saia, imagino que não seja tão confortável para dormir.

Evito demonstrar minha reação de surpresa.
São tantas perguntas...

– Você é nojento. – Solto, irritada, mas um pouco intrigada com o que mais ele acha de mim que não deixa transparecer.

– Não é o que a maioria das mulheres dizem, lindeza. – Rebate com um sorriso.

– Acho que você só sai com mulheres cegas e surdas, então.

Ouço uma risada alta saindo dele.

– Adoro que me trate como eu mereço. – Ele murmura mais para si mesmo, faço questão de revirar os olhos em sua frente.

– Vai sair para eu me trocar ou sou uma prisioneira sem privacidade? – Pergunto como uma farpa, ele dá de ombros, indiferente.

– Já estou saindo. – Diz, mas não mexe um músculo, em vez disso, me analisa de cima a baixo. – Me explique como herdou a dívida do seu pai.

Meus ombros ficam tensos. Eu sabia que essa pergunta viria, afinal, é ele quem vai quitar tudo o que devo, e é mais que justo que ele saiba exatamente o que aconteceu.

Vou contar a verdade sobre meu pai para alguém, isso é novidade.

– Ele não consegue pagar agora. – Respondo, sinceramente.

– Por quê? – Insiste como uma ordem silenciosa.

– Porque meu pai está preso.

Elijah cerra os olhos para mim, como se duvidasse.

– Por que ele foi preso? – Ele não parece surpreso e nem impressionado.

– Sequestro infantil. Ele me sequestrou, na verdade. – Dou de ombros, indiferente. Ele cruza os braços, ainda sem expressão. – Eu tinha onze anos, ele estava bem chapado e paranóico quando me tirou de casa durante a madrugada, ele ligava para minha mãe pedindo dinheiro e dizia que me mataria se ela não desse a quantia que ele precisava.

Puta merda. – Ouço murmurar, agora está um pouco surpreso.

– Minha mãe, obviamente, não tinha o dinheiro. Ela ligou para a polícia e me acharam... Ela começou a beber logo depois disso.

Não pensava em minha mãe sóbria fazia muito tempo.
Percebo que é muita informação para Elijah absorver, mas mesmo assim, continuo:

– Eu digo para todo mundo que ele se matou, as pessoas ficam horrorizadas e isso evita as milhares de perguntas... Acho que nunca contei para ninguém, na verdade. Nem para Jason.

– E por que me contou, Chary? – Pergunta, desconfiado.
Dou de ombros, sem me importar se ele está ouvindo ou não.

– Pode ir agora.

...

Quando o quarto está em um escuro ensurdecedor, percebo que talvez Elijah não pague dívida alguma.
Talvez ele só queira me levar para os homens de Alexei, para que resolvam o que devo.
As luzes da cidade iluminam boa parte do quarto, mas mesmo assim, me sinto cega pela escuridão.

Tenho que sair daqui.

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Intocável - Dark Romance Where stories live. Discover now