Capítulo 37

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POV CHARLOTTE

Atendo a ligação só depois de pensar muito se deveria.
Jason fica em silêncio durante alguns segundos, penso em desligar.

– Lotte, me desculpe. – A voz dele parece cansada do outro lado da linha.
Suspiro audivelmente e me remexo no sofá da sala de Elijah.

– Pelo o que, exatamente? – Minha língua sai afiada, quero ouvir da boca dele que estou certa.
Mas porra, tenho tantas saudades do meu melhor amigo.

– Eu não entendia a história toda, e... – A voz se perde no silêncio, espero-o terminar. – Não podemos deixar isso nos destruir... Lotte, sei que não concorda em entrar para os Viola, mas eu posso te proteger se estiver ao meu lado.

O perigo está do seu lado, Jason.
Me impeço de dizer, em vez disso, lembro de Elijah me pedir para aceitar o acordo com os Viola.
Não sei se quero confiar em Elijah nesse momento, mas se eu aceitar, o que de pior pode acontecer? O que de tão ruim e diferente dos Rosso vai acontecer?

– Então diga para Raffaello que aceito o acordo dele. – Minha voz sai sem emoção, Jae demora bastante para me responder.

– Não vai se arrepender, Lotte. Vou te proteger, eu prometo. – Concordo com a cabeça mesmo sabendo que ele não pode me ver.
Talvez eu devesse parar de escutar a porra do Verdetto.
Um arrepio percorre meu corpo todo ao lembrar das mãos dele em mim, tenho até que segurar o gemido nos lábios quando lembro da forma que ele me fodeu.
Porra.
Ele é o filho da puta mais babaca que já conheci.

– Eu e você estamos bem? – Saio dos meus devaneios ao ouvir a voz preocupada de Jason.

– Estamos bem. Eu e você contra o mundo, lembra? – Antes que eu possa sequer terminar de falar, a porta do apartamento é aberta com certa brutalidade, Talita e Elijah chegaram.
Elijah passa o olhar pela sala até parar em mim, continuo parada, encarando-o com o celular na orelha.
Ele está vestindo um sobretudo preto com uma camisa branca por baixo, que agora está manchada com sangue respingado.
Está tão lindo com a cara de mau humor que meu peito dói só de observá-lo.

– Preciso desligar. – Digo para Jae e nem espero a resposta.

Vejo Talita resmungar alguma coisa, provavelmente um xingamento, ela passa pela sala como um vulto e bate a porta do quarto.
O que aconteceu com eles?
Elijah tira o sobretudo dos ombros e o dobra cuidadosamente sobre o encosto da poltrona, faz o movimento todo sem me olhar.

– Você ainda está aqui. – Sua voz sai seca, como se não quisesse ter que falar.
Mas falou.
Ergo o queixo para ele, mesmo que não tenha sua atenção.

– Pensou que eu fosse fugir? – Pergunto com um humor ácido, ele finalmente me olha. – Você já fez isso.

Seus olhos brilham com a implicância óbvia, ele ainda me olha com malícia, mesmo depois do que me falou hoje mais cedo.
Engulo o seco lembrando da frase que tem me assombrado faz horas.
"Eu só queria sexo, e você já me deu isso."
Ele percebe minha mudança de humor.

– Você está bem? – Pergunta seriamente, dou de ombros sem conseguir olhá-lo.

– Estou dolorida.

Sinto o silêncio dele como uma tentativa de se controlar para o que ele tem a dizer.
O meu também.
Levanto do sofá, desconfortável.

Elijah vira de costas para mim, tento não encarar suas costas enormes e rígidas, mas falho miseravelmente. Ele vai até o bar no canto da sala e se serve de uma dose do que chuto ser uísque.

– Estava falando com quem? – Novamente, sua voz sai seca como se fosse difícil as palavras saírem.

– Não te interessa. – Digo de uma vez, ele se vira para mim e se senta na poltrona à minha frente.
Cruzo os braços sobre os seios na intenção de esconder meu frio, ele segue meu gesto com o olhar, depois, vira a dose na boca.
Ele encara o copo vazio como se fosse muito interessante.

– Deixe-me apostar: A porra do seu amiguinho?

– O que você tem contra ele? – Minha voz sai como uma ameaça defensiva, Elijah dá de ombros sem se importar.

– Para começar, ele se tornou um Viola e você sabia – A voz dele sai de mau humor enquanto me encara com a mesma expressão, tento segurar o arregalar de olhos. Merda. – Mesmo assim, não me disse nada porque queria proteger o seu amigo de mim.

– Jae nunca... – Começo, mas as palavras irritadas de Elijah me calam.

Jae isso, Jae aquilo... – Ele levanta da poltrona em um único movimento, recuo um passo quando sua presença se torna amedrontadora demais para mim, meu corpo reage ao corpo dele de muitas formas, e definitivamente não quero ficar excitada agora. – Estou cansado de te ouvir dizendo esse nome perto de mim.

Cerro os olhos, planejando xingá-lo com mil palavras diferentes, mas quando ele dá mais um passo em minha direção, fico muda.
Ergo o pescoço para olhá-lo nos olhos, tentando mostrar confiança, mesmo estando tremendo inteira, sei que se ele escolher me tocar, vou deixar.
Merda.
Elijah leva a mão até meus lábios, afasto sua mão com um tapa, ele ergue uma sobrancelha para mim e sorri de maneira selvagem, ele usa a mesma mão para me pegar pelo pescoço, solto um gemido baixinho pelo gesto bruto e tão prazeroso, o sorriso dele aumenta porque fez de propósito, sabe que quando ele pega em meu pescoço é meu ponto fraco.
Elijah aproxima o rosto do meu e finalmente tomo consciência, ergo a mão e o acerto com um tapa forte o suficiente para fazê-lo cambalear, ele finalmente me solta com um sorriso.
Meu coração aperta ao ver os longos arranhões que minhas unhas deixaram em seu rosto, uma gota vermelha escorre pelo corte do meio.

– Chega, Elijah. – Minha voz sai séria como nunca antes, ele me encara da mesma forma. – Não aguento mais isso. Você não tem o direito de me jogar fora e ir buscar quando quiser. – Ergo a voz de maneira controlada, a mágoa em minha voz é mais evidente do que eu gostaria, mas ignoro tudo isso. – Não pode agir como se eu fosse sua quando deixou bem claro que não me quer.

Encaro-o sem nem ousar desviar o olhar, ele parece atordoado o suficiente para ficar sem palavras, para pensar no que dizer.
Deixei Elijah sem palavras.
Uma parte minha, talvez uma parte muito grande, se pergunta se Elijah está apenas fingindo se importar com o que estou dizendo ou fazendo.

– Você ainda se importa comigo? – A pergunta me atinge de surpresa.
Descarto a ideia de ser brincadeira porque ele parece tão sério.
Engulo o seco e finalmente deixo minha máscara cair, a raiva escorre pelo meu rosto, dando lugar apenas para a mágoa profunda e humilhante dentro do meu peito.
Se eu me importo com ele? Porra, me importo tanto com ele que nem sei como consegui respirar quando ele saiu com Talita para cumprir uma missão perigosa, me importo tanto com ele que meu coração se estilhaça toda vez que ele volta de alguma luta machucado, me importo tanto com ele que entro em pânico junto com ele em toda crise, me importo tanto com ele que mesmo depois de todas as merdas que ele me disse, ainda me importo.

– Vai se foder, Elijah. – É tudo o que consigo sussurrar, ele pisca, depois confirma com a cabeça, absorvendo a informação que acabou de ver em meu rosto.
Ficou bem mais que óbvio pelo meu rosto que ainda me importo com ele.

Vejo com o canto dos olhos Talita voltar para a sala, está tensa com um monte de papel na mão.
Pisco e me afasto de Elijah, ele faz o mesmo.

– Preciso que me ajude em uma coisa. – Ela diz para o primo, ele confirma com a cabeça, passa o olhar por mim pela última vez antes de virar para a prima, que arregala os olhos ao ver o rosto dele.

– Que porra...?

– Minha mulher tem garras, prima. – Ouço-o murmurar seriamente, ela me encara antes de seguir caminho até o escritório.

Minha mulher?
"Minha mulher", não "minha noiva de mentira".

...

Intocável - Dark Romance Where stories live. Discover now