9. Excesso de informação

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"Mas o que você precisa entender é que todos aqueles clichês e metáforas que as pessoas usam para descrever um estado de confusão ganharam vida subitamente: minha vida era uma montanha russa; tudo estava acontecendo rápido demais; eu não conseguia recuperar o fôlego; minha cabeça estava girando; excesso de informação; dados não computados."
(Marisa de los Santos)

Não sei se é melhor deixar que ela conte. Tenho a impressão de que eu e Monstrinha não estamos falando exatamente sobre contar as mesmas coisas. Se ela estiver mesmo falando sobre viagens no tempo, eu não quero ter que contar a Henrique. Não posso comentar sobre a pessoa estranha que é o meu vizinho, ele não me confirmou se é mesmo um anjo ou qualquer outra coisa, ou sobre esse presente de aniversário macabro. Dizer metade dessas coisas seria motivo suficiente para ele chamar uma ambulância.

— Você está fedendo a vômito, Dica — diz Monstrinha enquanto bate a porta do carro. Só então percebo que paramos bem na frente dos portões do prédio de que saí correndo momentos atrás.

— Eu não acordei muito bem — comento, analisando a altura da torre pela primeira vez. Talvez eu tenha ganhado na loteria ou Henrique se tornou um cirurgião das estrelas, porque acho estamos bem perto da nobreza.

— Por que será? — comenta ela, revirando os olhos.

Certo. Eu deveria retrucar alguma coisa agora ou mandá-la me deixar em paz por alguns minutinhos, só para que eu recupere o fôlego, mas mal tenho forças para falar.

Toda essa história está me deixando bem perto do limite.

E se tudo for mesmo verdade? Quero dizer, a história toda sobre a viagem no tempo e a oportunidade de consertar as coisas? Pode ser mesmo como uma mistura entre De volta para o futuro II e A felicidade não se compra, com o diferencial de Samuel ser uma mistura estranhamente linda de Doc Brown e Clarence? Sem contar as referências a Persuasão, meu encontro com Henrique parece tão dramático quanto o encontro entre Anne Elliot e o Capitão Wentworth e...

Isso é muito louco!

Respira Dica. Você está pirando!

— Você está me ouvindo? — A voz de Monstrinha me faz piscar de volta. Não faço a menor ideia do que ela está falando.

— Não, Monstrinha — admito sem humor e aperto com força todos os botões de dentro do elevador. Eu costumava fazer isso quando era criança. Essa sensação quase transgressora sempre me trouxe uma segurança momentânea.

— As reservas do restaurante são para as oito. Não se atrase e não se esqueça de levar sua identidade. Eles vão querer conferir se é mesmo seu aniversário — continua Elisa a contragosto, quando percebe o painel do elevador brilhando. Como assim, hoje é o meu aniversário? — Espero que converse com Henrique até lá, porque não precisamos fazer uma cena na frente de todo mundo.

 Voltamos com essa coisa de precisa contar a ele. Quero perguntar o que eu preciso contar e acabar de uma vez com esse suspense angustiante, mas Monstrinha não vai facilitar as coisas para mim.

— Meu aniversário foi ontem, Monstrinha — Se Johnny, Mel e Rosa esquecerem o dia do meu aniversário, eu posso até perdoá-los, mas minha irmã não — Não acredito que nem você se lembrou do dia.

Ela se vira para mim, em um estranho impulso irritado e logo em seguida sorri do jeito da outra Monstrinha.

— Vai mesmo continuar com esse joguinho a essa hora da manhã, Amanda?

— Olha, deixa para lá — digo balançando as mãos, em sinal de rendição. Se ela não me dá crédito por isso, como vou contar que não sou exatamente a Amanda que ela está acostumada?

Com tequila e com amor [Concluído] [VENCEDOR DO WATTYS 2017]Where stories live. Discover now