12. Avanços

23.9K 2.2K 274
                                    

"Por que me sinto como se fosse a única pessoa confusa e preocupada a respeito das próprias escolhas e do caminho que está seguindo? Para onde quer que olhe, vejo pessoas apenas avançando. Talvez eu devesse simplesmente fazer o mesmo."
(Cecelia Ahern)

Meus braços estão cruzados em um aperto tão grande que sinto os dedos doerem. Samuel me responde com um meio sorriso e pergunta se eu prefiro copo ou canudo.

Ele só pode estar brincando comigo! Essa é uma brincadeira muito idiota e ninguém merece ter que passar por isso. Acho que preciso apagar qualquer pensamento que já tive envolvendo Samuel, qualquer coisa que me lembre do dia que, equivocadamente, gostei desse sorriso dele ou do jeito como ele fala o meu nome.

Eu deveria continuar com raiva, mas sinto uma vontade quase incontrolável de chorar. Preciso me lembrar do quanto é constrangedor chorar na frente de um estranho.

Samuel pergunta novamente.

E dessa vez quero responder que prefiro voltar para minha vida monótona e cheia de arrependimentos, porque lá não sou a grávida sem emprego que praticamente obrigou o marido a mudar de vida para poder sustentá-la.

A garganta arde quando digo que aceito o canudo.

Você não consegue nem mesmo demonstrar o quanto está com raiva, Dica.

— Se sente melhor agora? — pergunta o loiro. Não sei o motivo de me lembrar disso agora, mas Lili me contou sobre como é perigoso em falar com estranhos. Quero sorrir, então me dou conta de que é muito pior falar com um conhecido que te manda para uma realidade alternativa.

Sei que não pareço bem e é verdade, mas esse cara não precisa ficar perguntando isso o tempo todo. Aliás, ninguém precisa ficar perguntando.

— Não precisa se preocupar — sorrio sem graça, sugando o canudo — Eu estou bem. Estou faminta, na verdade.

Percebo isso quando meu estômago aceita bem o doce da água de coco.

— Minha mulher estava assim como você, antes de descobrirmos que ela está grávida — comenta o estranho.

Ótimo. Até um estranho na rua me acusa de estar grávida! Quero ser gentil, mas preciso que ele vá embora, ou ele vai achar que acabou de ajudar uma louca.

— Que bom pra vocês — digo e me viro para Samuel — Você vai continuar fazendo o Mestre dos Magos ou vai realmente me ajudar?

O constrangimento de Samuel é visível, principalmente por termos esse estranho loiro como espectador dessa conversa que não se desenvolve. Acho que ele não está esperando que eu o exponha, mas não me importo. Quero ir embora daqui, nem que eu precise berrar ou usar um megafone para desmascará-lo aos superiores dele.

Posso começar dizendo que eu sou uma viajante do tempo e que o vendedor de coco é um farsante.

— Qual é o seu nome? — Ouço a voz ao lado chamar.

— Amanda — respondo sem tirar os olhos de Samuel.

— Você quer outro coco, Amanda?

Samuel ergue as sobrancelhas, exatamente do mesmo jeito quando disse que as respostas estavam dentro de mim. Agora percebo que ele pode estar certo, as respostas estão mesmo aqui e gritam palavras de ordem que me fariam ter que doar metade do meu salário ao cofrinho de palavras proibidas de Lili.

— Não, obrigada... — respondo, embora não saiba o nome dele.

— Gabriel — ele diz, puxando o celular de um dos bolsos.

Com tequila e com amor [Concluído] [VENCEDOR DO WATTYS 2017]Where stories live. Discover now