10. Uma pergunta

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"Um 'sim!' para uma pergunta que pede um 'sim' não pode nunca ser curto demais."
(Daniel Glattauer)

Grávida?

Como assim, grávida?

Quem é que bebe tequila e acorda grávida? Eu sei, essa é uma pergunta totalmente idiota, mas... Puta merda! Essa pode ser uma realidade diferente, mas, de qualquer jeito, eu tenho certeza de que eu, tampouco essa Amanda loira estão prontas para serem mães.

Por que a minha cota de desgraças precisa de um bônus? Já estava muito bem assim.

— Dica? — Henrique me olha embasbacado, mas com aquele brilho de quem acaba de descobrir que realizou um sonho.

Devíamos ser só o casalzinho jovem que brinca de casinha. Já temos Isa e Lili para encher nossas vidas de alegria e atrapalhar tudo. Eu não preciso de um bebê! Não é que eu não goste de bebês. Vejo bebês todos os dias, eles fazem parte do meu trabalho e, talvez, por isso, eu tenha certeza de que não é uma boa ideia.

Eu colo chiclete debaixo da mesa, não posso ser mãe de ninguém.

— Por que não dá para ver o bebezinho, tia Dica? — Sinto duas mãozinhas empurrando minha barriga. Quero dizer que não é uma boa ideia fazer isso em alguém que sofre de refluxo gástrico, mas acho que virei uma estátua viva.

Não posso continuar aqui.

Eu preciso ir atrás da única pessoa que pode resolver essa merda toda, aliás, era exatamente isso que eu estava indo fazer há alguns minutos. Pouco antes de Monstrinha resolver autoafirmar o apelido que ganhou quando tinha a idade de Alicia.

— Eu só preciso... — tento dizer, mas as palavras se dissolvem na minha garganta. Minha cabeça está berrando tanto que estou perdendo o foco.

Grávida.

Você está grávida.

Grávida.

Não sei ao certo do que preciso para acordar. Se de um abraço, um tapa no rosto, um copo de água ou outra garrafa de tequila.

Em uma súbita descarga de adrenalina eu giro os calcanhares e corro. Mel me disse que essa energia instantânea é um mecanismo do corpo para situações de perigo. Essa é realmente uma situação perigosa para a minha sanidade.

Entro na primeira porta que encontro aberta e sinto alguém atrás de mim. Se for Monstrinha eu desisto, vou deixá-la falar à vontade e no final ainda direi que a amo. Escuto o girar da chave trancando a porta e solto a respiração presa. Minha cabeça está tão enevoada que nem consigo enxergar direito. Com delicadeza, um par de mãos me ajuda a sentar na cama e vejo o rosto do meu carrasco.

— Certo — Ele passa as mãos nos cabelos, respirando fundo — Eu te devo um pedido de desculpas. Devia ter avisado sobre essa parte.

Samuel.

Esse deveria ser o momento em que eu começo a berrar todas as coisas que estava planejando dizer a ele, mas não sei o que está havendo comigo. Deve ser o choque.

— Ok — respondo baixinho olhando para ele. Alguma coisa está subindo pela minha garganta, deve ser isso que impede de gritar.

— Eu sei que é um difícil assimilar tudo de uma vez, mas você prometeu que tentaria — Samuel diz sério.

Eu prometi? Eu não prometi nada. Aliás, eu nem pedi para estar aqui!

As respostas urram na minha cabeça, mas trazê-las para fora exige uma energia mental que não possuo no momento.

Com tequila e com amor [Concluído] [VENCEDOR DO WATTYS 2017]Where stories live. Discover now