15. Estranho, divertido e mágico

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"E acabou sendo tudo estranho, divertido e mágico que, assim que voltei para o meu quarto, senti saudade de você. Eu queria voltar e ficar mais um pouco com você, conversar, mas já havia decidido ir embora, então eu não podia recuar"
(John Green)

Eu posso lidar com isso.

Tudo vai dar certo, muito certo. Acho que usar mais uma vez a palavra certo torna as coisas mais seguras. Então, certo, Dica, respira e curte a sua festa de aniversário, porque tudo vai dar certo. Por essa vez eu não vou me arrepender de nada. Todos se lembram do dia certo; as pessoas que gostam de mim estarão lá no restaurante e eu só preciso aproveitar.

Encaro a porta fechada e inspiro com um pouco de esperança. Ao menos estou tentando.

Isso, Dica.

Assim que volto ao apartamento, esbarro em Alicia e Isadora no corredor. Elas estão vestidas e prontas para sair. Lili voltou a usar o vestido de casinha de abelha, o mesmo que ela queria tirar e não consigo deixar de sorrir. Tínhamos escolhido uma calça jeans e uma bata colorida, mas é claro que Elisa iria fazê-la trocar de roupa novamente. Tudo isso apenas para não fazer a vontade da filha caçula.

Isso me faz pensar em que tipo de mãe essa Amanda seria. A que obriga a filha a sair com uma roupa que a deixa desconfortável, apenas para mostrar quem manda, ou a que dá liberdade para fazer as próprias escolhas? Mesmo que as opções estejam entre pijamas de cachorrinhos ou fantasia de princesa?

Eu não devia pensar nisso.

— Nem pense que vamos esperar você se arrumar, Dica — sobressalto com a voz de Monstrinha, sem saber onde ela está — Precisamos segurar a mesa, mas, por favor, coloque alguma maquiagem — Ela finalmente aparece, saindo da cozinha.

Ouço Isadora rir baixinho. Isso deveria me deixar ofendida, mas eu já decidi que não vou me aborrecer.

— Ótimo, podem ir! — respondo forçando um sorriso — E pode ficar tranquila, Monstrinha, vou fazer algo tão elaborado que ficarei irreconhecível. Vou estar tão maravilhosa que vão me expulsar do restaurante por estar deslumbrante demais.

— É o que eu espero — responde Elisa semicerrando os olhos e arrastando a filha mais nova pelo braço.

Sigo até o quarto para calçar os sapatos e imediatamente me lembro de Johnny e Quim. Eles pareciam tão felizes juntos. Não sei se finalmente Joaquim resolveu dar uma chance a ele, seja lá o que tenha acontecido nessa realidade alternativa. O que importa é que eles estão juntos e se João está sorrindo daquele jeito lindo que adoro.

Sento na beira da cama e arrasto com uma das mãos a sandália que escorregou para debaixo da cama, enquanto tento alcançar a outra sem sair do lugar. O par estava bem aqui, quando escolhi o vestido e simplesmente elas se teletransportaram para a dimensão que existe aqui embaixo. Estou tão perto das tiras que posso senti-las entre os dedos, mas não tenho forças para puxar.

Pode ser culpa da minha elasticidade ruim. Sinto os meus ombros queimarem com manobra. E meu coração disparar com a visão no final do corredor. Um par de olhos castanhos está me encarando. O mesmo par que senti queimar sobre a curva do meu pescoço dentro do elevador na manhã de ontem; o mesmo que me pediu para abrir o portão, pois precisava de uma ambulância e o mesmo que dissera que me amava momentos atrás.

Ajeito a minha postura, sentada na cama, porque sei que a visão de alguém tentando bancar a contorcionista do Cirque du Soleil não é nada agradável, especialmente quando não há nenhum talento para isso. Mas Henrique sorri. Não é uma risada de chacota, pela minha posição desengonçada e constrangedora, é o sorriso de quem acaba de reencontrar alguém de que estava com saudades.

Com tequila e com amor [Concluído] [VENCEDOR DO WATTYS 2017]Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt