Capítulo 3

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No outro dia deu minha hora de sair da loja e eu já estava arrumando as coisas quando a Vilma, a gerente, me chama e diz que tinha um amigo meu me esperando na loja. Nem sabia quem era, a última pessoa que eu pensei que me procuraria era o Paulo. Senti um frio no estômago. Sei lá porque. Saí da loja e ele estava me esperando no corredor do shopping.

— E aí, velho, firmeza?

— Beleza. — Falei bem seco.

— A gente precisa conversar.

— Iiiii Paulo, está me estranhando, caralho?

— Não é nada disso, Cabeção. Vim te pedir desculpas. Estou com vergonha de você, cara, e a gente é brother. Não quero que as coisas mudem. Entendeu?

— Você já pediu um milhão de desculpas, cara. Mas quer saber, estou muito fodido com você.

— Tem alguma coisa que eu possa fazer?

— Fica na tua. Vamos fingir que nada aconteceu. Beleza?

Quando ele sentiu que estávamos nos separando ele disse:

— Meu carro está pra lá.

— Eu vou de busão.

— Se liga Fabinho, eu estou de carro, caralho.

— Foda- se que você está de carro, mano, dá um tempo vai. Que porra! — E saí fora. Fui de busão.

Na aula não conversamos. No intervalo saí rapidão e fui conversar com o Daniel, meu amigo que me ajudou a arrumar um lugar pra eu morar mais perto da facul. Fui trocar uma ideia com ele e aproveitava e me distanciava do Paulo. Os dias foram passando e a raiva foi dando lugar a um sentimento estranho. Eu me pegava pensando na porra do beijo. E eu falava pra mim mesmo: pára com isso, moleque! Não conseguia pegar uma mina, não me excitava mais com porra nenhuma, só pensava na porra do Paulo, não literalmente (risos). O semestre voou, fiz alguns trabalhos com Paulo, mas só em grupo, não conseguíamos mais ter intimidades. Até que um dia...

Até que na última semana de aula eu estava conversando com a Dani, aquela sapata que fodeu tudo. Estava na hora do intervalo, ela veio e me disse:

— Faz um favor pra mim, Fabinho?

— Diga.

— Fala pro Paulo que a galera confirmou, está tudo certo pra sábado.

— Ok. — Eu disse meio puto de ter que fazer papel de pombo correio, está ligado?

Cheguei nele e disse na lata:

— Ae, Paulo.

— E ae, Fabio.

— A Dani disse que está tudo certo pra sábado e que a galera confirmou, firmeza? Só vim te dar o recado.

— Beleza, valeu!

Aff que raiva, o puto estava fazendo indiferença de mim. O foda é não ter contido a minha curiosidade, dei dois passos para trás e acabei perguntando:

— Que parada é essa ae? Vocês vão sair?

— Não, cara. É que eu tranquei minha matrícula. Essa é a minha última semana de aula. Não vou ter como pagar o semestre que vem, nem sei se quero continuar esse curso, acho que isso não é pra mim não, irmão. A gente combinou de ir pra praia fazer uma festinha de despedida na casa da minha avó. Se quiser ir...

— Ah..é..ok. Vou ver.— Disse pensativo. Até parece que eu ia em festinha de despedida daquele viado enrustido.

Aquela semana eu não dormi direito e não comi direito. Estava morando com os caras na república há pouco tempo, estava naquela fase de adaptação. Até o Daniel percebeu que eu estava bolado, tentou ver se eu desabafava, mas era inútil. Não conseguia me abrir. Na verdade já fazia um tempo que eu só pensava no Paulo, as trocas de olhares, essa coisa de ficar meio nas pazes e meio brigado de certa forma me animava, sei lá, aquele beijo vivia me martelando as idéias, mas quando ele disse que ia sair fora me deu um gelo. Não curti essa idéia não. Mas fazer o que, né? Não falei sobre isso até sexta. Na sexta eu perguntei a ele:

2 HÉTEROS NUMA BALADA GLS (2016)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora