Capítulo 6

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Eu estava só de cueca, e o que era pior, uma cueca velha e zoada. Fiquei com vergonha, acho que o Paulo percebeu.

Coloquei o shorts do Japa que ele tinha deixado em cima da cama dele e fui cumprimentar o Paulo.

— Firmeza, mano?

— Opa...podia está melhor, né? Esqueceu de ir lá pro Shopping, Cabeção?

— Esqueci nada mano, é que aconteceu uma fita errada ae que eu não quero nem lembrar.

— E porque não me ligou?

— Por que não deu, caralho. Interrogatório agora? — Já chutei o pau da barraca, queria saber muito já e eu não ia contar que os cuecas da casa tinham me feito de mictório, mijado em cima de mim e que eu tinha deixado barato ainda por cima.

— Beleza, beleza. To vendo que você está de cuca quente. Relaxa, outro dia a gente se fala.

Ele já estava indo embora. E com razão. Marcamos um encontro, eu não fui, não dei satisfação, o cara foi até a minha goma me pegar e eu ainda dou uma patada dessa. Eu no lugar dele já tinha me mandado ir tomar no cu.

— Foi mal ae Paulo. É que aconteceu uma parada desagradável, mas se quiser sair ainda, por mim beleza.

— Se troca ae então, Cabeção. — Ele disse medindo meu corpo de cima em baixo — Eu te espero lá na cozinha. Vou beber água.

— Vai lá.

Assim que ele saiu eu passei a mão no rosto, no cabelo e respirei fundo. Que merda era aquela que acontecia comigo quando eu via o Paulo? Que buceta do caralho era aquele sentimento? Senti raiva de mim mesmo, mas abri o guarda— roupas, peguei uma calça jeans bonita pra caralho, coloquei meu all star  velho de guerra, coloquei uma camiseta branca super transada.  Passei pomada no cabelo, arrumei a minha franja desfiada e coloquei um óculos de sol com as lentes prateadas. Me olhei no espelho que tinha na porta do guarda-roupas e me senti muito viado. Tirei os óculos e baguncei o cabelo. Pronto, estava natural. Passei desodorante e perfume, peguei minhas coisas e saí.

O Daniel tinha chegado e estava conversando a sós com Paulo na cozinha. Será que ele tinha falado alguma coisa? Se tivesse...afff Maria...eu ia matar ele bem matado. Se tinha uma coisa que eu tinha me arrependido de fazer foi contar as minhas paradas mais íntimas para o Daniel. Até então meus pensamentos só ficavam dentro de mim. O meu receio era sempre saber que o Daniel tinha aberto a boca para alguém. Franzi o cenho e entrei com a cabeça erguida com meu ar de folgado e metido que todo mundo diz que eu tenho e foda-se.

— Vamo ae? — Perguntei, cortando o papo.

— Ae, Cabeção, o Daniel está pegando o nome da galera que vai no sábado para uma chácara que eles alugaram em Rio Grande da Serra. É para saber quantas pessoas vão e quanto cada um vai ter que pagar.

— A chácara é show de bola. — Daniel complementou me olhando. Aquele olhar dele era penetrante, isso não tem como negar.

— Quem vai? — perguntei, se o Negão e o bando de mijões que moravam em casa fossem, eu não iria. A menos que o Paulo fosse e insistisse para eu ir. Insistisse muito.

— Vai a galera da sua sala, do segundo de PP e o primeiro de rádio e TV. Vai dar mais de cem pessoas, fácil. — Daniel respondeu.

— Você vai? — Perguntei pro Paulo.

— Não vai dar, cara. Sábado eu vou descer com a minha mina lá pra casa da praia. Vamos comemorar aniversário de um mês de namoro.

Na hora broxei. Daniel olhou para mim, olhou para o Paulo. Parecia que tinha visto na minha cara a decepção. Mas não deixei por menos não.

2 HÉTEROS NUMA BALADA GLS (2016)Where stories live. Discover now