Capítulo 19

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Adão e Eva. Se existem culpados por toda a merda, os culpados são: Adão e Eva. Hoje me pergunto se tivesse sido Adão e Adão ou Eva e Eva se as coisas não teriam sido diferentes. "Não coma a maçã" lhes foi dito. Porra, porque não comeram pedra? Galho de árvore? Pedaços um do outro? Mas nããão...tinham que comer... a maldita maçã! Creio que se tivesse sido Adão e Adão eles se preocupariam em fazer um troca-troca e a maçã não seria comida. No máximo seria usada para por na boca um do outro na hora do vamos ver como fetiche, sei lá. E se fosse Eva e Eva? Elas iam ficar se comparando, ficar medindo o tamanho dos melões, iam ficar escovando o cabelo uma da outra, iam ficar "tocando o tamborim" uma da outra, mas a maçã não comeriam. Eram capazes de pegar a serpente maligna e usá-la como um brinquedinho no fim das contas. O fato é: será que se a base tivesse sido feita por gays o mundo seria do jeito que é hoje?

Ah...mas aí não teria como se reproduzir...alguns pensam. Mas talvez fosse melhor que não fossemos reproduzidos através do coito. Seria melhor se nascêssemos de árvores. Nossos pais fossem lá, plantavam uma semente e pronto...dali nove meses lá estava o rebento pendurado de cabeça pra baixo, preso a um galho de árvore. Ou então pra gente ter filhos a gente enfiasse uma semente no cu de uma cegonha e pronto. Ela teria o trabalho de gerar e depois voltava com um pirralho preso no bico.

O "problema" é nós precisarmos um do outro para reprodução. Isso nos obriga a ter um convívio que os outros acham comum, natural, o correto. Se fôssemos todos seres providos de pinto na frente e buceta atrás seria mais fácil...transaríamos com nós mesmos e geraríamos filhos quando quiséssemos e se quiséssemos. Mas se fosse assim, onde o cu ficaria? Bom, o cu podia ficar na testa...ou no lugar da boca, já que tem gente que adora falar merda. Para alguns creio que seria indiferente.

O fato do ser humano precisar um do outro nos leva a crer que essa convivência que deveria ser pacífica, torna-se desagradável e injusta. Em uma comunidade onde todos deveriam andar sorridentes e saudáveis, na verdade é formada por famílias onde o filho caçula é ladrão e viciado, a filha engravidou com 15 anos porque não sabia que o pinto do amigo cuspia quando agitado por muito tempo, a mãe apanha do marido, mas se satisfaz com a rola do cunhado e o pai, chefe de família, é bêbado, irrita a todos com comentários desnecessários e quando sai pra trabalhar é forçado a dar o cu porque era tudo o que tinha pra apostar na roda de truco depois de perder todo o dinheiro do mês com a "outra" que a mulher dele não sabia que ele tinha.

Mas como a música diz: don't worry, be happy! E vamos tentando ser felizes do jeito que dá. Se não fosse a convivência eu não teria minhas crises de consciência. Não precisaria nem de Paulo e nem de Daniel em minha vida. Assim como uma família totalmente feliz e unida nos dias de hoje é uma grande mentira, foi uma mentira que me levou a tomar uma decisão drástica.

Paulo havia mentido para mim. Disse que ia visitar uma tia doente da namorada, mas a própria namorada me disse que eles estavam indo para um show sertanejo lá na puta que pariu. E era na puta que pariu que eu iria encontrá-los. E quando eu chegasse lá, ao invés de quentão, Paulo ia tomar no cu e a namorada dele eu ia mandar pra casa...pra casa do caralho! Queria pegar o Paulo no flagra. Eu queria ver até onde ele era capaz de ir com aquela mentira. Eu estava com raiva e muito revoltado. Lembro que aquilo mexeu comigo.

Eu tinha que ser frio, eu tinha que me acalmar para conseguir trabalhar. Tinha que respirar, fazer yoga...yoga é bom. Eu tinha que conversar comigo mesmo, com o meu "eu" interior, com minha alma. Eu tinha que me equilibrar. Inspira...expira...isso. Fui caminhando até chegar na loja tentando me acalmar. A minha calma era tanta que eu tinha vontade de pegar a primeira velha com sacola e correr com ela debaixo do braço e bater com a cabeça dela numa vitrine até estourar o vidro. Mas eu não faria isso...coitada da vitrine. Inspirava e expirava. Tentava manter a calma. Eu tinha que ter auto-controle. Tentava me convencer disso.

2 HÉTEROS NUMA BALADA GLS (2016)Where stories live. Discover now