Capítulo 12

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Parei diante de meus pais e disse:

- Sou gay.

Foi simples assim.

Meus pais estavam sentados no sofá de casa. Entreolharam-se e me olharam de volta.

- Como é que é? - Meu pai disse levantando e arrumando a calça na cintura.

- Sou gay mesmo. É o que é.

Minha mãe se levantou e foi segurar meu pai que já estava vindo para cima de mim.

- Ele está brincando, meu bem. - Minha mãe disse segurando meu pai e olhando pra mim, ordenou: - Pede desculpas pro seu pai, moleque. Mas o que é isso agora?

- Não era essa a dúvida de vocês? - Perguntei.

Meu pai passou a mão na cabeça. Minha mãe me olhava fixamente.

- Meu bem, isso é uma fase. Todos os adolescentes passam por isso. Logo ele vai ver que ele gosta mesmo é de menina. Ele sempre namorou menina, não é Fábio?

- Namorei, mas agora eu estou curtindo um cara aí.

- Quem é esse Paulo? - Meu pai perguntou diretamente.

- Ele é meu...na...namo...meu namorado. - Respondi fechando os olhos. Meu estômago estava um nó. Estava até com enjôo.

- Namorado na casa do caralho! - Meu pai berrou - Sua mãe não pariu uma menina. Eu pus um macho no mundo! Se você não respeita nem eu e nem sua mãe, honre pelo menos o que você carrega no meio das pernas!

Aquilo iria ficar gravado em minha memória para sempre.

- Calma, bem. - Minha mãe dizia - Fábio, porque você está fazendo isso com a gente? A gente sempre tentou dar tudo pra você, meu filho!

Eu não sabia mais o que falar.

- A gente vai dar um jeito nisso. Isso é falta de igreja, quantas vezes eu tenho que te falar que você precisa cuidar mais da sua parte espiritual, Fábio?

- Eu não acredito nessas parada, mãe.

Minha mãe abaixou a cabeça. Meu pai virou-se para mim revoltado.

- Some da minha frente, Fábio. Desaparece, vai!

Fechei os olhos e quando abri eu estava em um parque com o Paulo na minha frente.

- Falei, cara.

- E eles? - Paulo perguntou.

- Tão malzão.

- Mas porque você foi fazer isso antes de me falar, Cabeção?

- Sei lá, meu. Não sei o que me deu, caralho. - Eu disse - Mas e ae, você vai falar pros seus pais também?

- Eu!? - Ele perguntou rindo - Claro que não! Aliás, nem sei se é isso que eu quero, Fabinho. Amo minha namorada, cara. Nem sei o que me deu pra fazer aquilo contigo na praia. Acho melhor a gente não se vê mais, bele?

Abri os olhos, assustado. Foi um pesadelo do inferno. Aquele dia eu acho que dormi tão perturbado que esse foi o sonho mais real que eu já tive em toda a minha vida. Lembro até hoje disso.

Levantei e estava descoberto. Daniel ainda dormia ao meu lado. A gente apagou. Meu coração ainda estava disparado. Olhei pro Daniel, ele estava dormindo de barriga para cima, o peito e uma perna estavam descobertos. Eu tinha dormido abraçado com um cara. Mas que merda eu estava fazendo com a minha vida? Se meus pais suspeitassem disso...não queria nem imaginar. Eu não era gay. Não podia ser gay. Se falar que eu era gay em sonho já me deixava mal, imagine um dia isso saindo de verdade da minha boca. Nunca! Esse viados tinham mais é que sumir da face da Terra pra parar de ficar fazendo a gente pensar merda. Olhei para o Daniel novamente. Parecia um anjo dormindo. Quieto. Olhei seu rosto. O lado direito do rosto estava inchado e um machucado no canto da boca. Eu tinha feito aquilo. Tinha agredido uma pessoa. E por quê? Porque o cara foi falar que gostava de mim. O fato de uma pessoa do mesmo sexo gostar de mim me incomodava tanto assim? Amor gerando violência? Onde eu estava com a cabeça? Aquilo estava me fazendo pirar.

2 HÉTEROS NUMA BALADA GLS (2016)Where stories live. Discover now