Capítulo 9

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Fechei o portão, arrumei o chinelo no pé que eu tinha calçado de mal jeito e dei uma corridinha pra alcançar Daniel que seguia a frente.

- Ae Mané, está sabendo da festa que o Alemão vai dar aí na goma? - Daniel começou a falar.

- Nem. Que porra de festa é essa? - Perguntei.

- Como o Negão se forma esse ano, ele quer fazer tipo uma festa de despedida, saca?

- To ligado. Da hora. Quando vai ser?

- Se pá na última semana de aula, cara. Porque depois a turma some e aí fode tudo. Ele quer fazer a festa na última semana, depois da entrega do TCC do Negão. - Daniel explicou.

- Nem estava sabendo de nada. Eles que te falaram?

- O próprio Alemão. Não faz muito tempo não. A gente estava indo dormir e ele começou a trocar ideia e tal.

Daniel dormia no mesmo quarto que o Alemão desde que se mudara para a goma. Somente o Negão tinha o quarto só para ele e com uma cama de casal ainda por cima. Mas já ouvi dizer que ele também dividia o quarto com o Japa antes de migrar para o quarto VIP. Quem ia se formando ia saindo da casa e os mais velhos de casa podiam ocupar o tão almejado quarto com a cama de casal. Eu dormia com o Japa, mas nem ligava. Era até bom porque por ser filho único me acostumei a ter um quarto só para mim. As vezes era legal dividir o quarto, ter alguém pra conversar e tal.

Mas aquele não era o assunto que o Daniel queria tratar comigo. Eu já desconfiava sobre o que seria, mas deixaria que o cara falasse. Só dei uma provocadinha:

- Ah...então você fica trocando idéia com o Alemão de madrugada? O que mais vocês ficam fazendo?

- Vai tomar no seu cu, Mané. - Ele disse, me cotuvelando.

Dei risada. Ele não agüentou e riu também.

Chegando na padoca, Daniel pediu um x- salada e um suco de laranja. Eu fui de coca com limão e gelo mesmo. A gente tinha começado a falar sobre o final de semana, falei que fiquei assistido filmes e acabamos entrando nesse assunto. Ele já tinha assistido Jogos Mortais e tinha gostado tanto quanto eu. Quando o x- salada dele chegou, nós estávamos sentados em umas mesinhas de plástico na calçada debaixo de um toldo azul.

Enquanto ele comia, eu esperava pelo tal assunto que ele queria tratar comigo. No mínimo ele iria me pedir em namoro. Se ele fizesse isso a nossa amizade acabaria ali. Na pior das hipóteses jogaria o suco na cara dele e mandaria ele enfiar o x- salada no rabo como sobremesa. Mas ele não falava. E aquilo era agonizante. Não existe coisa pior do que uma pessoa me dizer "depois te conto". Depois o caralho! Odiava esses mistérios bestas. Não curto surpresas, pelo contrário.

Decidi dar o primeiro passo:

- E ai leke, qual a parada que você  queria tratar comigo?

Ele parou de comer e largou o lanche no prato, engoliu o que estava na boca e disse:

- Tá dando pra ver que eu to enrolando pra falar, né?

Fiz que sim com a cabeça e com a boca torta. Ele respirou fundo e disse:

- Promete ficar de boa depois que eu falar?

Fiz que sim com a cabeça.

- Nada entre a gente vai mudar, bele? - Ele perguntou.

- Pára de bichisse e fala logo carai.

Ele olhou pra baixo e disse:

- Sabe o que é...

Era agora. Mordi o canto da boca. Meu coração disparou. Fechei o punho.

- ... eu to ficando com a Tábata.

2 HÉTEROS NUMA BALADA GLS (2016)Where stories live. Discover now