Capítulo 4

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Quando entrei para a faculdade, não sabia, mas a minha vida estava prestes a mudar definitivamente.  Tenho dezenove anos e namorei apenas duas garotas em toda a minha adolescência. Com uma fiquei um ano e nove meses e a outra onze meses. Nunca fui ligado nessas paradas de amor e juras de fidelidade eterna, pelo contrário. Sempre que podia dava uma escapadinha com a galera para me divertir, eu era novão, tinha um corpão e seria muito desperdício passar pela melhor fase da vida vivendo com uma pessoa só, comendo sempre a mesma buceta. Era assim que eu pensava.

Tudo em minha vida estava acontecendo normalmente, como mandava o figurino. Eu não me sentia diferente dos meus colegas. Sentia atração por garotas, normal. Beijava algumas quando eu saía. Mas eu nunca consegui ficar atrelado a um sentimento avassalador por nenhuma. Nunca. Por ninguém. Bom, até o Paulo me roubar um beijo naquela balada.

Depois daquilo, eu sentia que aos poucos uma certa curiosidade e tesão cresciam dentro de mim. E também um certo nojo de mim mesmo.

— Acho que vou tomar uma ducha. — Eu disse me levantando da cama.

Dois cuecas na mesma cama, ambos de pau duro. Se alguém chegasse, eu estaria acabado de vez. Seria a mesma coisa de pegar um ferrete e marcar na minha testa "bicha".

— Fica aí, fica aí. — Daniel me disse, me segurando.

— Larga eu, caralho. Sou cueca, velho, te contei essas paradas porque é caso isolado, morou?

— Porra Fabinho, deixei de ir com os caras pra ficar trocando ideia aqui com você.

— Affe mais que papo de boiola é esse, meu velho? To começando a achar que você é meio estranho...

— Se liga, manezão. Não sou boiola não! Mas é que aqui só mora cueca, a gente vai ficando com a cabeça perturbada.

— Sai com essa perturbação pra lá, meu irmão.

Abri a gaveta peguei uma cueca e o silêncio era perturbador. O Daniel era um cara muito gente boa. No fundo senti que era errado dar um fora meteórico no camarada.

— Foi mal, Dan. To perturbado. Releva aí, bele?

— Deveria ter ido pro churrasco. — Ele disse levantando — E você deveria me agradecer, viu. — Apontou o dedo na minha cara, fiquei putão.

— Agradecer o que?

— Os malucos aqui de casa iam te zoar quando chegou.

— Zoar o que?

— Eles zoam todo mundo que chega para morar aqui. Eu fui zoado, o Rodrigão e o Alemão também. Até o japa foi zoado pelo negão. Todos, menos você. Eu que segurei a fúria, mano. Pedi pros caras aliviarem pro teu lado.

Continuava apontando o dedo na minha cara.

— Que mané zoar o caralho, se esses comédias tivessem folgado comigo eles iam ver o pau come solto aqui dentro. Eu tô pagando essa porra também. Esqueceu?

Desviei do Daniel e fui para o banheiro. Tirei a berma (bermuda), a camiseta, joguei o chinelo perto da porta, liguei o chuveiro e entrei no cubículo, puxei a cortina de plástico e fiquei lá de boa.

Só pra você entender, caro leitor, a república era uma goma (casa) velha. Tinha sala, cozinha e três quartos. O veterano e o mais velho da gente era o Negão, seu nome era André, ele se sentia o chefinho porque estava a mais tempo na goma. Depois tinha o Alemão, seu nome era Ricardo, seguido do Daniel. O Japa chamava Eduardo e eu. Rodrigão era camarada, não morava lá, ia lá só pra foder com as cocotinhas no quarto do negão, o único quarto com cama de casal. Eu dormia com o Japa em um dos quartos, Daniel dormia com o Alemão e o negão dormia sozinho. Todo mundo trampava e a gente dividia as atividades de casa, mas sempre tinha um filho da puta que empurrava a responsa pro troxa ao lado. No começo eu me fodi porque era novato e eles meio que se aproveitavam da minha boa vontade, mas depois conquistei meu espaço e não deixei nenhum mané levar uma comigo.

2 HÉTEROS NUMA BALADA GLS (2016)Where stories live. Discover now