Capítulo 18

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Eu só voltei a falar com o Daniel depois do ano novo, mas com o Paulo a coisa era diferente. Do Daniel eu não sentia tanta saudade quanto eu sentia do Paulo, embora várias vezes no dia eu me pegava pensando no Daniel. Queria saber o que estava fazendo, se estava bem. Mas era melhor eu não ligar para perguntar por que com certeza ele iria interpretar aquilo de uma forma equivocada. Ele me mandou um convite para o seu aniversário por e-mail, como eu não vi a tempo, acabei nem indo. O Paulo no decorrer daquela semana não deu sinal de vida. Fiquei com o celular ligado 24h e nada dele sequer dar uma satisfação. Por mais que eu quisesse aceitar o fato que para mim era bem mais fácil gostar de alguém como o Daniel que já estava afim de mim, o Paulo não saía da minha cabeça. Talvez esse jeito de moleque arteiro, que faz coisas escondidas, me chamava atenção. Aquilo me irritava e me excitava ao mesmo tempo.

Eu e a Danielle pegamos uma amizade bem forte depois do segredo que contei a ela. Embora ela soubesse de algumas coisas, não me julgava e não me pressionava a tomar uma atitude. Ela respeitava o fato de eu ser cueca e ter minhas fraquezas com os lekes. Na sexta a gente almoçou juntos lá no shopping e ela me convidou para ir a uma festa country que teria no Estância Alto da Serra no sábado a noite. A namorada dela amava música country, ela nem tanto. O Estância é um local enorme, no meio do mato na cidade Rio Grande da Serra onde são realizados shows. Era o reduto dos sertanejos. Todos os babacas que curtiam música sertaneja tinha o selo do Estância fixado na traseira do carro. Óbvio que eu recusei, afinal de contas eu curto até hoje rock e música eletrônica. Música sertaneja com aquelas letras de corno que perdeu alguém ou que procura alguém não me desce pela garganta. Ela tinha um convite sobrando e queria me vender. Eu recusei. Teria que me contentar em passar o fim de semana em casa.

As vezes eu queria ter aprendido a tocar algum instrumento musical nessa época, ajudava a relaxar. Nada melhor do que um rock para extravasar a raiva e música eletrônica para ficar viajando. Confesso que um tempo depois aprendi a tocar um instrumento musical...mas isso é uma outra história, para um outro momento. Quem sabe eu conto...

A vida na casa do meus pais por um lado era boa e por outro era péssima. O lado bom é ser filho único e curtir a paparicação da minha mãe. Me trazia leite, bolo, comida que eu pedia. Não comi o meu tradicional arroz, feijão com carne de hamburger nenhuma vez enquanto estive na casa dos meus pais. Acabei engordando um pouco por causa disso. O bom foi a reaproximação com os meus camaradas, meus vizinhos. Crescemos juntos e jogávamos bola na rua, usávamos a garagem do vizinho como gol. A gente sempre colocava o gordinho da rua de baixo para ser goleiro, coitado. Eu dava cada chute que a impressão que tinha era que o gordinho ia entrar com bola, portão e tudo pra dentro da casa do vizinho. Os vizinhos que restaram da minha época de infância foi o Danilo (morava na frente da casa dos meus pais) que estava com 25 anos e tinha um filho com a Paola. E o Gustavo que morava do lado direito da casa dos meus pais. Ele estava com 23. Ambos eram mais velhos que eu, mas nunca fizeram pouco de mim. Quando crianças jogávamos vídeo-game em dia de chuva um na casa do outro, fazíamos sessão pipoca de madrugada assistindo filmes do Freddy Krueger e Sexta-feira 13. 

Gustavo tinha uma piscina de 1000 litros, de montar. No verão os pais dele montava a piscina e a nossa diversão era ficar debaixo do sol e dentro da piscina com um monte de bonecos dos Comandos em Ação, o tempo foi passando e os bonecos dos Comandos em Ação viraram minas de verdade. Levávamos as cocotinhas e ficávamos pagando de gatinho exibindo os pelos pubianos que estavam crescendo e tentávamos esconder as espinhas do rosto com protetor solar. Era uma época muito boa.

Quando mudei pra goma para poder estudar e trabalhar no ABC, nosso contato foi ficando cada vez mais difícil. Nos falávamos por emails que eu lia raramente na faculdade e por torpedos, mas como os dois nunca tinham crédito para mandar torpedos, era raro eles responderem os que eu mandava. Quando souberam que eu ia passar uns dias na casa dos meus pais, já armaram um jeito de fazer um churrasco na casa do Danilo, o mais velho. Gustavo, o mais novo, foi quem veio me avisar que não era para eu sair.

2 HÉTEROS NUMA BALADA GLS (2016)Where stories live. Discover now