Capítulo Cinco

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Horário? Uma e meia da manhã. Local? No meio de uma rua vazia, escura e silenciosa, caminhando a passos rápidos em direção a lugar nenhum.

A única coisa que sabia é que não queria mais ficar naquela festa e nem poderia, uma vez que fiz o que fiz.

Quando percebi que andava sem direção, decidi procurar um ponto de ônibus por perto. Meu celular estava descarregado, era impossível chamar um UBER. 

Encontrei um ponto daqueles que você quase não identifica se não estiver prestando atenção. Era um pedaço de madeira estancado no chão pendendo para a esquerda. A tinta com a palavra "ônibus" estava quase invisível. Em frente ao ponto deprimente, um bar charmoso.

Sentei no meio fio e esperei a chegada do ônibus. O dito cujo não apareceu: nem em dez minutos, nem em vinte minutos, nem em meia hora. Como se alguma coisa estivesse conspirando para tornar a noite ainda mais desagradável.

 A chuva começou a cair sem aviso. Corri para dentro do bar. Estava quentinho e aconchegante, um local onde eu provavelmente não me importaria de passar o resto da noite.

Sentei-me em uma mesa com quatro cadeiras e logo veio o garçom me atender. Para não ser expulo, pedi uma latinha de Coca-Cola.

Eu estava encharcado. O som ambiente era ótimo e as pessoas que conversavam entre si pareciam muito satisfeitas com as suas próprias vidas.

Quando a música ambiente parou de tocar, as conversas foram se encerrando uma a uma. Algo iria acontecer. As luzes do palco se acenderam em tom de vermelho...

... Foi então que eu a vi...

Ela subiu no palco segurando o seu violão que parecia grande demais. Deveria ter uns dezoito anos de idade.

Com certeza era descendente de asiáticos, seus olhos puxados não deixavam dúvidas. Seu cabelo estava solto e era lindo. 

Ela era linda.

— Boa noite — disse ao microfone.  — Meu nome é Samaris e eu... Bem... Eu vou cantar para vocês.

Começou a tocar o seu violão. A tímida japonesa pouco a pouco deu espaço a uma grande cantora de voz doce e suave.

 Todas as músicas eram de sua autoria. Eram puras e, de alguma forma, um pouco ingênuas.  Algumas eram em inglês, outras em português.

As pessoas pareciam apreciar o show, mas duvido que algum deles reparou no jeito em que ela arrumava o cabelo com o indicador, ou na forma como o seu rosto ficava quando ela fechava os olhos. Eu era o único a reparar em todos os detalhes.

 No meio do show, Samaris parou, respirou e disse:

— Agora vou cantar uma das minhas músicas preferidas. Meu pai costumava cantá-la para mim quando eu era criança, antes de dormir. Espero que ele possa me ouvir de onde estiver agora.

Começou a tocar Let it Be.

 Não existia mais nada, não conseguia enxergar as outras pessoas, não conseguia ouvir as outras pessoas, não sentia as minhas roupas molhadas, não me lembrava do que havia feito naquela noite, da raiva, da frustração, de nada, só havia eu e ela no mundo inteiro. Eu, ela, e uma música... Uma linda música.

Até que acabou:

— Obrigada a todos. Espero que tenham gostado, aproveitem o resto da noite.

Ela se retirou do palco em meio aos aplausos, deixando para trás um garoto perplexo... Eu.

Mas já acabou? Assim rápido? E agora? Algo no meu inconsciente me pedia para agir. 

***

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A VIDA DESENCAIXADA DE ICK FERNANDES (história completa)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora