Capítulo Vinte e Dois

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É obvio que engravidar na adolescência é um erro. Mas eu sinceramente não consigo julgar esse erro com a mesma severidade com que as pessoas estão acostumadas a fazer.

 Adolescência já é famosa por ser aquela fase da vida em que estamos sob os conflitos internos, formação de personalidade e todos aqueles clichês escritos nas revistas de nossas mães. A gravidez também é uma fase de mudanças, no corpo: o útero cresce, as mamas mudam, assim como o psicológico.

No final das contas, uma grávida adolescente deve estar demasiadamente perdida num momento desses para ser criticada. Você não precisa de um dedo apontado na cara quando está nessas situações.

 O erro já foi feito, e ninguém se arrepende mais do que essa pessoa de tê-lo cometido. Então é hora de guardar suas armas imaginárias que zelam pela moral e os bons costumes e fazer com que essa fase não seja pior do que já é para a pessoa que você ama. Espero que os pais da Jéssica também enxerguem a situação dessa maneira. Mas acho difícil.

Horário: Onze da manhã. Local: Escola. Sentimento: Raiva. Lucas anda pelos corredores do colégio calmamente com o seu boné de aba reta, quando uma mão o agarra ferozmente pelo ombro e o prensa contra a parede. Esta mão era minha e era para o meu rosto que ele olhou assustado:

— Porra, Ick! — Disse ele com uma risadinha. — Que susto cara.

— A Jéssica está grávida. — Digo sem rodeio nenhum.

Ele tenta sair da minha frente sem sucesso, as minhas duas mãos ainda estão no ombro dele, o prensando contra a parede de forma ameaçadora:

— E eu com isso? — Ele pergunta.

— Lucas. Eu sei que você tem chances de ser o pai da criança.

 — Ela te falou?         

— Não. Está abalada demais para falar. Mas foi fácil deduzir que foi você.

 Estamos mais calmos, então eu o solto. Ele senta num banquinho que tem no meio do corredor e continuo falando:

— O Matheus me contou que você tem ficado com ela desde o dia da festa. O jeito com que ela falou do pai do bebê, também me fez pensar que é você.

— Ela não me disse nada.

— E não vai falar, por isso cabe a você ir até ela e tentar achar um caminho para isso... Juntos.

— Esse bebê pode não ser meu.

— Tem grandes chances de ser seu.

— Que provas você tem?

— Podemos fazer um exame de D.N.A e...

— Não.

— O quê?

— Não.

— Como assim?

 — EU NÃO VOU FAZER EXAME NENHUM!!

Ele se levanta do banco. Parece muito mais corajoso agora do que parecia alguns minutos atrás:

— O que me garante que eu sou o pai da criança? O que me garante que ela não saiu dando para metade da escola? Eu não duvidaria nada. E quanto a você, Ick?

— Eu o quê?

— Vocês não se odiavam? Agora tá com essa preocupação toda com ela? Qual é a sua? Aposto que vocês andaram fazendo alguma coisa também! Aposto que ela também se aconchegou para o seu lado! Acho que você ta é com medo do bebê ser seu! Ta querendo empurrar a cria da vagabunda para mim agora?

A VIDA DESENCAIXADA DE ICK FERNANDES (história completa)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora