Prólogo

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Sangue. Desespero. Revelações. Tudo junto resultava na combinação nada agradável que a fazia tremer. Heloísa buscava se acalmar, mas a descoberta inusitada não colaborava para que seu desejo fosse concretizado, tantos segredos, tantas mentiras, uma vida sem sentido, amores irreais, pessoas interesseiras. Orava para que aquele jogo sórdido acabasse antes que se machucasse, porém era tarde, ela já estava quebrada. Sua respiração tornava-se descompassada, era necessário arfar para o ar não faltar, a mão coberta pelo líquido avermelhado escorria por todo o carpete branco que futuramente seria descartado.

O olhar perturbado da dupla oscilava, eles não esperavam que a francesa reagisse tão mal independente de toda a ocasião envolvendo a revelação perturbadora. Sua mente gritava, o mesmo sentimento que lhe vinha em épocas de premonição, o famoso acontecimento misterioso que agora se tornou verídico. Levou a mão até a cabeça buscando conter o desconforto semelhante a uma enxaqueca forte e poderosa, sua alma implorava por misericórdia enquanto seus músculos estavam tencionados diante a intensidade que a visão surgia. Cerrou os punhos identificando as unhas lhe fincarem na carne, suspeitava que a atitude involuntária resultaria em um machucado, não ligava menos para isso, sangue não faltava em sua vida.

Tentou conter o grito que implorava por eclodir ao mundo, seria forte pelo menos uma vez, mostraria que seria capaz de vencer a máquina maligna que existe dentro de si, venceria sua mente, se tornaria vitoriosa, honraria a si própria. Suas pernas vacilaram tornando o chão seu fiel companheiro, as filetas de madeira do piso rangeram diante a tensão exercida rapidamente. Helô grunhiu constatando que seu corpo, já debilitado, teria mais hematomas do que calculado, não poderia ser avaliado a ardência em suas articulações, apenas demoraria a mexê-las com precisão.

A voz dos personagens se tornou secundária no momento, sua mente gritava implorando por atenção, ela desejava falar:

Harry corria apressadamente com a intenção de encontrá-la, mas a movimentação no exército não facilitava seu plano. Ouvia o som de sua voz, mas não enxergava seu rosto. Heloísa estava longe, bem longe, talvez a distância física fosse menor do que sentimental. Ele precisava tocá-la, beijá-la até relembrar seu gosto delicioso, desenhar novamente o formato magnifico de seu corpo , sentir com exatidão o cheiro maravilhoso que ela liberava, era tão natural, como ele não havia percebido que aquela francesa era tão importante? O general afundava-se no próprio pecado, ele perdia sua memória, as lembranças de Helô.

Admirou a janela constatando que o inferno era a terra, a enorme onda de fumaça crescia consideravelmente se tornando impossível de ver além das fileiras de carvalho. Segurou-se fortemente nas vigas ao seu lado buscando equilíbrio, o tremor foi gerado por uma bomba, possivelmente. A típica cena de filme: armamento, explosões, gente correndo, militares na linha de frente, carros de combate e o famoso Marechal. O responsável por piorar a situação entre as nações, o famoso general do exército assumia o poder diante a guerra diretamente declarada com outro exército, ele estava agindo sem base na experiência, apenas por impulso.

Harry pensou em Heloísa, ela deveria estar bem melhor onde estava. Lembrou-se do sorriso cativante dela, era tão perfeito, tão mágico, tão surreal. Se amaldiçoou por tomar tantas decisões erradas, mas quem esperava que o final de uma história transcorresse em caminhos tão inimagináveis? Apenas desejava vingança, sua mãe no momento deveria estar chorando.

Louise surgiu em seu campo de visão, ela aderia um semblante cansado e triste. Fechou os olhos tentando conter as lágrimas, chorar não era uma opção. Harry se aproximou da amiga lhe estendendo a mão, ele abraçou com força sua fiel companheira ouvindo em seguida a pergunta que tornou sua resposta verdadeira:

- O que vai fazer, general?

- Vou para casa. — disse convicto. Ela o apertou fortemente.

- Diga que eu a amo.

Helô gritou sentindo necessidade em livrar-se do peso em seu corpo. Ao abrir os olhos presenciou dois pares de olhos a encarando com medo e preocupação. Harry foi o responsável por lhe ajudar, buscando compreender o estado físico e mental que ela se encontrava.

Suas visões foram analisadas na perspectiva do general, Helô sentiu com precisão tudo que ele sentia, era um acontecimento inimaginável e surpreendente, mas era tarde... É preciso deixar o sentimentalismo de lado e pensar em como tudo deveria ser.

Underwood agachou-se proporcionando que a conexão entre os corpos fosse mais intensa. Ele a encarou pedindo que ela cedesse e perdoasse, era possível analisar e perceber que seu coração era preenchido pelo arrependimento. Helô ergueu a cabeça constatando que não precisava de homem para ser feliz, se fosse desejo o destino se recarregaria de uni-los novamente, mas algo em sua cabeça lhe dizia que o que aconteceu permaneceria no passado junto com seus demônios.

- O que você viu? — ele acariciou seu rosto com delicadeza.

Ela não respondeu, não era necessário. Os avisos seriam qualificados como falsos, a metáfora estava correta, era desnecessário relatar sobre sua visão, no final do dia ela seria taxada como louca e insana. Quem acreditaria em uma guerra entre nações? Quem julgaria que o general de exército Harry Underwood era capaz de amar? O desastre era certo, bastava esperar, mas como sempre o Complexo de Cassandra atingia sua vida.


Notas: Betagem da linda Emily e do blog Fuck Design.

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