Eu quero você, Joseph

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A extensa mesa era composta por excessivos alimentos que Heloísa desconhecia, a aparência não a agradava e muito menos o cheiro desagradável. Possivelmente o cardápio maluco integrava a dieta regrada que os militares aderiam, o valor nutricional deveria ser superior a qualquer um que ela acreditava ser saudável. Por sorte, era notória a região isolada do refeitório que compreendia as comidas comestíveis, sua fome gritou e ela não fora capaz de cessá-la. As pessoas praticamente atacavam o alimento disposto nos pratos, Heloísa considerava que boa parte dos indivíduos eram semelhantes a homens das cavernas sem nenhuma polidez.

O humor da francesa não era agradável, provavelmente atacaria qualquer militar que lhe enviasse comentários engraçados e desrespeitosos, porém a ânsia por machucar aqueles idiotas era praticamente inexistente diante da falta de disposição que Marchand sentia. Pesadelos envolvendo a noite anterior lhe corriam a mente, e provavelmente as consequências de horas chorando ainda estavam aparentes, mas ela orava para que não.

Ela admirava a praça de alimentação enquanto buscava alguma mesa que estivesse vazia, por sorte o universo decidira lhe ajudar. Sua aspiração era comer em paz sem interferência de segundos; Heloísa desejava que o dia transcorresse dessa mesma maneira monótona, ninguém lhe incomodando. A gargalhada dos militares era ouvida claramente e a felicidade matinal chegava a ser desagradável, ela jamais julgaria que os homens fardados dispunham de senso de humor, pois sempre aparentavam a carranca diária para tudo.

Em épocas de escola, a mesma apenas ligava o MP3 cinza e ouvia sua playlist, mas, dada as circunstâncias, nem mesmo música poderia ouvir.

― Bom dia, bela adormecida. ― Harry divulgava sua ironia constante. ― Dormiu bem?

Heloísa havia criado inúmeros insultos para combater o falso bom humor do general, mas sua mente impossibilitava que as sentenças fossem proferidas. O ânimo da sensitiva não beirava nem mesmo o aceitável, criar intriga com o moreno a sua frente não entrava realmente em seu plano do dia, por isso a opção foi ignorar a presença insignificante de Harry.

― Estranho, você não usou de nenhum adjetivo que me insultasse. Nunca sei decifrar seu humor instável. ― Ele sentou-se na frente de Marchand. ― Você me parece bem ruim, querida.

Harry inclinou-se para ter a visão total do rosto de Heloísa, o olhar intimidador era enviado com a intenção de atingi-la, mas a imparcialidade da sensitiva combatia qualquer investida do general. Ele não aparentava que desistiria, sua real intenção era desvendar o que Marchand sentia.

― Muito contato físico. ― Heloísa se manifestou, utilizando da força para acabar com a proximidade de Harry.

― Isso nunca foi problema para você, sensitiva. ― Ele mordeu o lábio, tentando provocar sensações em Heloísa.

― Seu charme barato não me convence, Underwood. Não sou outra na lista do general.

― Um dia vai ser, e tenho certeza que sua posição será invejável. ― Harry deu uma piscadela.

Ela bufou. Heloísa não gostava do modo como a conversa estava sucedendo, sua disposição era mínima. Dando de ombros, a sensitiva se retirou do ambiente, porém a análise de Harry não havia terminado, ele desejava descobrir sobre aquela garota incompreensível.

― Abra os olhos, Heloísa. Aqui você é ninguém. ― Ele aumentou a voz com o pretexto que ela ouvisse.

***

― Você parece estar nervosa...

Heloísa olhou de automático para sua porta que mostrava seu segurança. Ela nunca projetou nenhum diálogo com o militar que era encarregado por vistoriar o cárcere, apenas seguia com sua vida sem ligar para a presença quase insignificante dele. O rapaz sorriu sem manter muito contato visual, ele permanecia recostado no batente da porta, enquanto a mesma permanecia aberta.

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