Eu sou poderosa

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Joseph segurava em sua mão o embrulho singelo que revestia a caixinha rosa. Ele esperava que o presente fosse amenizar o coração de Heloísa e talvez diante essa atitude, ela entendesse que era amada, de uma forma errada, mas era. Ele não desistiria de tentar mostrar para ela que seria possível construir, novamente, um futuro juntos.

A jovem andava, sem rumo, pelos corredores da sede do exército francês. As paredes eram revestidas por flores que tentavam amenizar o clima mórbido que aquele lugar emanava. Era improvável que conseguissem, mas a intenção era boa. Heloísa olhou além. Algo fez com que a mesma permanecesse estagnada. A suspeita era maior que o medo quase inexistente, porém continuar era quase impossível; alguma forma sobrenatural a chamava.

- Engraçado, Joseph. – Ela gargalhou.

Voltou a caminhar. Admirou o enorme relógio que marcava 02h00min. Ninguém se encontrava acordado, ela supunha. Isso era incrivelmente bom, pois certamente nesse horário ninguém a incomodaria. A forma descompassada com que seu coração palpitava era trágica. Heloísa acreditava que não seria capaz de libertar-se do choque proveniente da premonição, que fora incrivelmente forte e poderosa.

Ela não estava louca, pelo menos não nessa circunstância. Era óbvia a movimentação simplória que acontecia atrás da jovem. Perseguição, talvez? Porém, não se tratava de uma brincadeira infantil de aniversário. Nenhum palhaço surgiria do nada com o pretexto de lhe cantar parabéns. A situação era bem mais complexa que essa. Heloísa olhou de relance, tentando arduamente encontrar respostas, mas o vulto preto misturava-se com a caída noite francesa. Era impossível distinguir os objetos. Ela se apressou. Correr era a melhor opção, pois sua mente lhe alertava que os episódios posteriores não seriam agradáveis.

Seu aniversário de vinte anos.

Ela se lembrava das premonições de horas atrás, não poderia ser. Seria coincidência. Era ridículo tentar traçar semelhança entre os fatos, pois não existia nenhuma. Marchand acreditava que não. O salão inferior guardava consigo algumas armas que serviriam para uma invasão surpresa: era a única opção de fuga. O passo aumentou consideravelmente, era claro e notório a presença de outro indivíduo. Sim, era perseguição.

Heloísa apressava-se, quase tropeçando nos próprios pés. Gritar era a única opção, mas quando pensou em realizar o ato fora impossibilitava por uma mão que lhe tocou os lábios. Era a perdição lhe chamando.

- Helô, está tudo bem. Sou eu. Amélie – a ruiva falava pausadamente.

Heloísa reprimiu os olhos buscando por meio de alguma força cósmica não surtar com a cena bizarra que acabara de acontecer. Ela queria gritar com a ruiva enquanto lhe informava sobre as consequências do ato impensado. Apenas um louco não notaria a gravidade de tais atitudes. Marchand segurou-se na parede ao lado, simplesmente ignorando o chamado da "amiga". Amélie provavelmente havia notado a arrogância inusitada da sensitiva.

- Me desculpe. Minha intenção não era te assustar. – Amélie franziu o cenho.

- Tudo bem – ela disse simplesmente.

- Só gostaria de te desejar feliz aniversário. – A ruiva libertou um sorriso tímido.

- Sério? Eu achei que ia ser sequestrada e na realidade era só você com a intenção de me desejar parabéns? – Heloísa deu de ombros – Boa noite, Amélie.

- Não, não, não. – Amélie puxou levemente o braço de Marchand, que repugnou a atitude. – Tenho outra coisa para lhe contar e acredito que você vai gostar.

As duas permaneciam paradas no centro do pátio na calada da noite. Se Heloísa não fosse acometida pela curiosidade, a mesma provavelmente estaria relaxando os músculos em sua cama extremamente macia. Mesmo sendo mantida presa pelo exército, Marchand dispunha de hospedagem significativa e minimamente proveitosa. Não seria ruim se as intenções não surgissem para lhe despertar das fantasias.

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