Premonição

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A brisa gélida perturbava os pensamentos da jovem. O miúdo vestido amarelo flutuava enquanto a pequena Heloísa Marchand forçava para deixá-lo no corpo. O parque apresentava-se sombrio e terrivelmente assustador. A garota não entendia ao certo qual o motivo da vinda inesperada para o local. Imaginou que o convite para passear e brincar era verdadeiro, mas estava começando a suspeitar.

Seus pais assemelhavam-se a personagens assustados de alguns filmes aos quais assistira; o olhar incerto e repleto de dúvidas não permitia que a garota se sentisse melhor. As mãos oscilavam enquanto soprava:

- Mamãe, aonde estamos? – A jovem agarrou-se às vestes da mais velha.

- Querida, viemos visitar uma amiga da mamãe. – Com doçura, a morena dispôs do melhor sorriso.

- Papai havia me dito que iríamos brincar. Ele mentiu? – Uma lágrima solitária se formava nos olhos negros da garota.

- Não menti, meu amor. Eu te prometo que amanhã te compro o maior e mais gostoso sorvete. – O pai respondeu, afagando o cabelo dourado da filha.

O casal observou a cabana logo a frente se movimentar. Talvez fosse o vento, mas ansiavam para ser uma indicação sutil sobre o início do encontro... A mãe segurou firmemente as mãos da jovem, que insistia em permanecer no local iluminado.

- Está tudo bem, okay? – Novamente a genitora emitiu um olhar cúmplice, tentando manter a criança tranquila. – A amiga da mamãe só vai conversar com você.

Era realmente estranho visitar um local aonde uma velha maluca garante achar a resposta para todos esses acontecimentos, todas as gritarias e as previsões inexplicáveis. O casal esperava que hoje tivessem uma explicação plausível para o acontecido com sua filha. Nenhum médico foi capaz de encontrar uma solução para o caso; apenas falavam em internação porque acreditavam que a jovem Heloísa estava sofrendo e encontrava-se totalmente desequilibrada, mas não era verdade, não poderia ser. A única alternativa foi consultar uma empata que solucionou casos surpreendentes sobre pessoas que se sentiam mal ou eram invadidas por algum "outro eu". Tudo parecia bizarrice, e talvez fosse, mas a pequena estava sofrendo demais e não existia mais nada que adiantasse. Era a última opção.

Um empata é capaz de sentir e perceber sensações por meio de energias alheias. São pessoas sensíveis que não estão limitadas apenas às emoções. Conseguem sentir o outro e, no melhor dos casos, relatar as motivações e intenções do indivíduo.

A velha tinha seu ponto de encontro em um antigo parque, praticamente isolado de todos. Por meio dos galhos e vegetação abundante era possível avistar a construção arcaica que continha uma intensidade incomum. A porta não passava de longos panos que cobriam a passagem. A leveza dos tecidos foi fundamental para a passagem dos três personagens amedrontados.

- Senhorita Riviere... – O som hesitante da voz do Sr. Marchand era marcante.

- Estava esperando pela sua chegada, doce Heloísa.

Heloísa teve certeza que sentiu sua barriga gelar. Ela olhava para os lados à procura da voz que invocava seu nome. O interlocutor parecia ser uma Senhora com mais idade, mas mesmo assim um tanto indecifrável.

Havia um banco de madeira envelhecido no fundo da cabana. O casal sentou-se no móvel enquanto deixou que a pequena se acomodasse na grande almofada que estava no chão juntamente com algumas velas que exalavam um odor agradável no ambiente, deixando-o de uma forma um pouco menos sombria. Havia uma pequena mesa de centro e logo atrás outro assento, um pouco maior que o de Heloísa, que estava vazio, pronto para receber a presença ilustre da empata Megan Riviere.

Complexo de CassandraWhere stories live. Discover now