Capítulo 20 - Prestando contas

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POV Cait

A terceira temporada de Outlander estava prestes a ir ao ar. Junto com ela, nossa tradicional tour de divulgação, o que era sempre muito bom e um pouco tenso para mim e Sam.

Era bom porque era a hora que a gente podia receber o carinho dos fãs bem de pertinho, sentir o que estavam achando do nosso trabalho e tenso, porque definitivamente a gente se entregava demais nesses eventos e isso não era nada bom, devido à nossa situação.

A viagem no geral foi boa e mais curta que o normal, o que foi bom porque não ficamos tanto tempo longe de Amélie e acreditei que nós tivéssemos nos saído bem nas entrevistas, sem nos entregarmos muito.

Mas no dia seguinte que voltamos para a Escócia fomos chamados para uma nova reunião, somente eu e Sam.

- Você sabe do que se trata essa reunião? - Eu perguntava a Sam que demonstrava um nervosismo muito grande, parecia que algo o estava sufocando.

Ele pegou minhas mãos, beijou-as e olhou nos meus olhos antes de falar:

- Cait, tem uma coisa que você precisa saber....

Só que antes que ele pudesse terminar a primeira frase, abriram a porta e havia um número considerável de pessoas nos aguardando. Algumas conhecidas da produção, algumas pessoas do marketing e algumas que eu sabia que era da produtora, mas não as conhecia. Entramos e nos sentamos junto aos nossos agentes.

Um homem muito elegante, que eu imaginava ser um dos diretores, atravessou a sala e veio nos cumprimentar, dizendo estranhamente ao Sam que era bom revê-lo!

Revê-lo? Em que ocasião ele conhecia Sam?

Após os devidos cumprimentos, descobrimos que a pauta da reunião era a mesma da primeira que tivemos. Nosso relacionamento.

A verdade é que nós achávamos que estava tudo bem, que havíamos agido normalmente, mas não, nosso suposto relacionamento estava sendo mais falado que a própria série nas redes sociais, havia o contrato e o alerta feito em relação a isso.

Eu sabia que tudo tinha mudado quando anunciamos a gravidez e concordado em esconder tudo, então o que caberia a ser feito agora era a contenção de danos.

Entre uma conversa e outra, o tal diretor, suspirou e disse:

- Teria sido melhor, como eu avisei Sam, que tudo tivesse terminado àquela vez. Mas tudo bem! Estamos aqui para pensarmos no que é melhor para todos nós e para o show.

Eu olhei para Sam que estava de cabeça baixa sem me encarar. Não queria perguntar nada, não queria expor a situação na frente de todos, mas eu precisava entender o que estava acontecendo.

- Desculpe, mas a que vez se refere? - Perguntei fazendo muita força para diminuir um pouco dos tremores que haviam se apossado de mim, que eu não sabia se eram de nervoso ou de raiva.

- Ora, ora! Sam, acreditei que a decisão de terminarem havia sido de comum acordo! - Ele dizia com tom irônico.

- Foi o que me orientou fazer, não foi mesmo? - Sam olhava com raiva para o diretor que parecia ter levado a conversa exatamente para o ponto em que ele queria.

- Aquilo foi um toque de amigo, a decisão sempre foi sua! - Disse para Sam e logo se levantou para se retirar, nos deixando com o restante do pessoal.

Eu não lembro de nada que foi discutido, mas acredito que eu concordava com a maioria das coisas que falavam. Precisava entender o que havia acontecido, que conversa era aquela de amigo, e porque Sam não olhava pra mim desde que entramos naquela sala.

Ficamos ali mais de hora e quando finalmente pudemos sair, eu não podia explodir, precisava respirar e conversar com Sam quando chegássemos em casa.

Como havíamos ido em carros separados, voltamos assim também. Sam já estava com Amélie no sofá quando entrei. Tive a sensação de que ele acreditou que eu, ao ver Amélie, ia adiar nossa conversa, ele sabia que eu jamais falaria nada na frente dela, mesmo ela não entendendo. 

- Pedi Sophie para dar um passeio com Amélie pra gente conversar, tudo bem pra você?

Sam estava com o rosto vermelho e apenas concordou com a cabeça, em silêncio, sem me encarar.

Assim que Sophie, que era madrinha de Amélie, saiu com Marina para passear com nossa filha, me coloquei na frente de Sam no sofá, respirei fundo e então pedi que ele me ajudasse a entender tudo que havia se passado.

POV Sam

Do momento em que entramos naquela sala, até aquele instante eu desejei muito poder encontrar algumas pedras por aí, voltar no tempo e contar tudo para Cait: a reunião com o diretor e com Ana quando ela ainda estava na Irlanda, as coisas que ouvi de ambos, sobre a decisão de terminar com ela para protegê-la, o medo que eu tinha de atrapalhar sua carreira, das decisões que eu tomei sem consultá-la, inclusive afirmando que ela estava ciente de tudo no momento em que fui conversar sobre sua gravidez....

Mas aquilo não era Outlander, era vida real. Não havia círculo de pedras, passagens para o passado ou qualquer justificativa plausível para o que eu fiz.

Então apenas respirei e comecei a contar toda a verdade em detalhes e finalizei com lágrimas escorrendo livremente pelo meu rosto.

- Eu não te traí Cait. Eu só quis te proteger! - Disse e depois me deixei cair na poltrona da sala.

Cait também chorava, estava perplexa com tudo que eu havia contado, não tinha reação, mas eu sabia que, como minha mãe havia me avisado, eu tinha tirado a liberdade dela decidir sobre nós, fazendo tudo por conta própria.

- Porque não me contou antes? - Foi a única coisa que ela conseguiu dizer.

- Eu tentei, eu juro que tentei de muitas maneiras e todos esses anos isso me angustiou, me fez sofrer, mas eu tive muito, mas muito medo de te perder. E cada vez mais que o tempo passava, eu acreditava que as chances de você me perdoar iam diminuindo e minha coragem ia junto.

Ela levantou e andava de um lado para o outro, como se precisasse de algum tipo de ajuda para digerir tudo aquilo.

- Eu não entendo Sam! Somos amigos, somos uma família.... eu não consigo entender. Você tem noção do quanto me fez sofrer? Você não tinha o direito de decidir por mim. - Cait também chorava e se envolvia com os braços em um abraço ilusório. 

O desespero começou a tomar conta de mim, eu fui até ela e pedi perdão, várias e várias vezes.

- Cait eu não sei o que acontece, eu te amo tanto, eu fiquei perdido sem saber como agir.

- Você fez isso por você também não é!? Sua carreira também estava em jogo. - Ela me acusava, talvez tentando encontrar outros motivos para minimizar a raiva que estava sentindo.

- Não posso dizer que não pensei em mim nisso tudo, na verdade eu pensei em nós dois, e Ana, ela me contou como as mulheres ainda sofrem mais nessas situações. Cait, por favor, eu nunca quis mentir pra você, eu... eu te amo!

Assim que terminei de falar, ouvimos Sophie e Marina voltarem com Amélie, Sophie se desculpou, pois percebeu que ainda não havíamos acabado de conversar, mas Amélie estava chorando muito e acharam melhor voltar.

Cait pegou a filha nos braços, agradeceu às amigas, olhou tristemente pra mim, de um jeito que eu nunca tinha visto, e foi para o quarto.

Ela estava com raiva, dilacerada e decepcionada e eu dava toda razão à ela. 

Depois de tudo - Sam e Cait (Outlander)Where stories live. Discover now