Reencounter | P. Coutinho

37°

Marianna Belmontt

"Se em um instante se nasce e um instante se morre, um instante é o bastante pra vida inteira."
__ Cecília Meirelles.

Instantes. Acho que não existe variante melhor para classificar o que é a vida, como o instante. Afinal isso é tudo o que somos, tudo o que fazemos, tudo o que pensamos e lembramos.

Pelo menos a minha vida tem se resumido a essa palavrinha de nove letras nos últimos meses, já que em um momento está tudo bem e calmo, mas quando eu abro os olhos de novo as coisas estão todas fora do lugar.

Mandei mensagens para minha mãe e pra Bea explicando onde eu estava e o porquê e recebi apoio de ambas, elas sabem quem eu realmente estava precisando disso.

Me retirar e me isolar de tudo foi uma decisão difícil para mim, mas eu sei que preciso disso, não só pelo que aconteceu na noite do bar há dois dias, mas por todos os últimos quatro anos.

Desde o dia 22 de dezembro de 2015 uma outra Marianna assumiu o controle da minha vida e dentro de mim coisas foram enlutadas, trancadas dentro de caixas e esquecidas no fundo do quartinho sujo, mas como tudo na vida funciona, isso não duraria tranquilo para sempre.

Quando eu descobri minha gravidez, eu não tive apenas uma gestação, eu tive duas. O nascimento da Anna's e da Maria foram dois eventos grandiosos e traumáticos na minha vida, pois ambos vieram no meu momento de dor, frustração, mágoa e eu simplesmente tive de engolir a seco tudo isso e focar nas duas.

Minha filha e minha empresa se tornaram meus únicos objetivos e alvos, desde então eu tenho vivido no piloto automático, como um cavalo de carroça, sendo guiada por rédeas que não eram controladas por mim. Elas ocuparam todos os espaços da minha vida e da minha mente e outras versões minhas se foram dando lugar a Marianna mãe e a Marianna empresária.

No entanto eu não sou só isso, eu sou mãe e sou chefe, mas eu também sou amiga, sou filha, sou mulher e essas versões se perderam, em algum lugar aqui dentro eu deixei de ser meu equilíbrio e me tornei minha ruína, então eu necessito de tirar esse momento para me reconectar comigo mesma.

Eu estou na casa do lago há três dias e acho que nunca me senti tão em paz como agora. Eu fui correr de manhã todos os dias, iniciei a leitura de um livro - algo que eu sempre amei e tinha perdido o costume -, fiz Yoga, cozinhei pra mim mesma aquilo que eu gosto de comer, dei um mergulho no lago, assisti série até de madrugada rindo alto sem medo de acordar alguém, sentimento de liberdade é tudo o que está me resumindo nos últimos dias.

Levantei do sofá e resolvi fazer um café da manhã antes de ir correr. O cheiro da bebida junto com o barulho do vento nas árvores ao redor da casa me traz a sensação de lar, eu vinha sempre para cá com a família do Philippe nos finais de semana.