CAPÍTULO II - Parte 1 -Date erronée

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Anoitecia naquela cidade, as cigarras e os pássaros já se despediam com suas breves canções que traziam alegria durante o decorrer do dia, e davam boas vindas aos grilos que farfalhavam em tom suave aumentando a cada minuto que se passava. Até o fim da noite, com certeza o som aumentaria. O verde claro do campo começava a escurecer e as folhas vibravam com a força do vento.

Annelise e Cecili encontravam-se deitadas e inconscientes no chão arenoso. A primeira a acordar fora Anne, abriu os olhos lentamente e deparou-se com a bela paisagem, só não fazia ideia de onde estava. Chamou por sua irmã que logo despertou também.

— Onde estamos? — indagou Cecili se espreguiçando.

— Em algum lugar da França, talvez na própria cidade de Versalhes. Não me recordo desse campo, mas acredito que o centro seja pra lá. — Annelise apontou para o Norte.

— Então vamos, pela data que colocamos no L'époque, ainda dá tempo de impedir a viagem de nossos pais. — sorriram entusiasmadas.

Caminharam por vinte minutos até avistarem um aglomerado de pessoas trabalhando. Uma feira ao ar livre, cogitou Annelise. O que as intrigou fora o modo como era aquela feira, e a maneira como as pessoas se vestiam. Eram vendidos objetos antigos, talvez relíquias, e suas vestimentas eram compridas. Todas as mulheres usavam longos vestidos, um mais lindo que o outro, mesmo que simples. Lembrava um filme de época, foi aí que tiveram a sensação de não estarem no tempo certo.

— Por favor, poderia nos informar em que ano estamos? — Anne perguntou preocupada para o primeiro senhor que passou.

— Quem sois vós, loucas? Como podes esquecer o ano em que tu te encontras? — o mesmo lhe deu as costas e se afastou como se as duas apresentassem algum tipo de doença contagiosa.

— Ótimo! Estamos perdidas no tempo. E ainda somos chamadas de loucas, chega a ser cômico.

— Não há nada de cômico nisso, Cecili. Só preciso descobrir em que ano estamos depois tentaremos voltar. Pelo visto esse L'époque ainda não podia ser usado mesmo. — Anne suspirou tristemente. Tinha medo que não conseguisse voltar. — Por favor, poderia nos informar em que ano estamos? Não somos loucas, só temo que minha irmã precise se lembrar dessa data, que não seja vinda de minha boca. — mentiu para um jovem sem atrativos que passava. Cecili a olhou com reprovação.

— Não entendi muito bem o porquê, mas estamos em 1551. O ano do Reinado de Louis IV. É tão triste vê-lo sofrer a perda de nossa digníssima, que Deus a tenha, Rainha Charlotte Rousseau, não é mesmo? — respondeu tristemente. Falava de seus governantes com amor.

— Pobre Rei! Como ela morreu? — perguntou Cecili comovida, mas Annelise lhe pisou o pé.

— Claro que nós já sabemos como Vossa Majestade morreu Cecili. — Anne desconversou.

— A doença do suor já suprimiu tantos inocentes. Malditos Ingleses! Surgiram só para trazer desgosto para o nosso país. Concordam?

— Inteiramente, nunca foi novidade a briga entre a França e a Inglaterra. — Annelise afirmou pelas duas, usando de seus conhecimentos sobre História, temeu que a irmã dissesse algo que as colocariam numa pior.

— Bem, não fomos apresentados. Chamo-me Jules Northin, sou o maior inventor de Versalhes e as senhoritas? — gabou-se.

— Annelise Lefebvre, e minha irmã Cecili.

— Northin? Como o Paul Northin? — Cecili intrigou-se com o sobrenome igual ao do amigo de Anne. Mais uma vez sua irmã quis que calasse a boca e não falasse mais nada.

— Não conheço. Talvez seja um primo distante. — respondeu pensativo. — Peço-lhes que me expliquem suas vestimentas. Desde que as vi, sinto-me curioso. Jamais vi panos tão estranhos e formas tão vazias. Digo, vós estais vestidas como homens? Homens muito estranhos, por sinal.

— Minha roupa não é estranha! Foi desenhada pela maior estilista da França, Marie Vu. — Cecili esbravejou, mais uma vez, deixando a irmã em grande aflição.

— Não conheço esta senhora. Quem faz minhas vestes é minha mãe. Venham comigo, ninguém pode as ver vestidas dessa maneira. Trajes de homem e pouco tecido na parte superior! — bufou — Arranjarei vestidos para vós. Mas precisam me contar o porquê de estarem vestidas desse modo.

Jules as levou para um lugar onde ninguém pudesse vê-las, sua pequena cabana. Lá tinha algumas vestimentas de sua irmã, a mesma não as usava mais, então ele juntou os melhores vestidos e entregou para as irmãs Lefebvre.

— Então, contem-me. Qual foi a peça? — o rapaz perguntou, ainda intrigado.

— Que peça? — Cecili não entendia nada que aquele homem dizia. Anne tomou a frente.

— "Estranhos do campo de Versalhes." Estou certa de que nunca ouviu falar, pois é totalmente nova, e é bem provável que nem seja apresentada. — mentiu mais uma vez.

— Realmente, não conheço. — respondeu, estranhando aquela história sem pé nem cabeça. As peças de teatro eram muito valorizadas na época. Dificilmente, por mais estranhas que fossem, ficavam para trás. — Mas gostei do nome, qualquer dia me conte mais sobre o assunto.

Deixaram a conversa de lado, e foram dormir, pelo menos tentaram. Na manhã seguinte, Anne e Cecili foram para a grande varanda, enquanto o rapaz fazia outras coisas. Precisavam conversar.

— O que faremos agora? — indagou Cecili, preocupada.

— Vamos tentar voltar, pegue no meu braço, tentarei reativar o L'époque para o ano de 2020. — Anne retirou o artefato da bolsa e girou seus ponteiros para a data e hora certas.

Nada aconteceu. Esperaram um minuto, dois, três... Quinze minutos, e nada. Uma lágrima desceu pelo rosto de Cecili e com a raiva lhe subindo pela espinha, apanhou o objeto das mãos de sua irmã e o atirou contra a árvore.

— Cecili! Se aquela coisa não funcionava, agora é que não vai funcionar mesmo. — repreendeu-a e correu até a árvore recolhendo o artefato, que agora tinha apenas dois ponteiros. Annelise procurou pelos outros quatro, mas fora em vão. Desapareceram. — Satisfeita? Teremos que esperar que Paul consiga nos buscar de volta. Se conseguir! Você é muito mimada e impulsiva!

— Senhoritas! Espero que me perdoem, mas agora que já lhes dei roupas, não poderei deixá-las que fiquem aqui em minha morada. Se descobrirem que acolhi duas mulheres, começará o falatório. — Jules veio agitado ao encontro das garotas.

— Entendo, somos-lhe gratas por tamanha hospitalidade para conosco sem ao menos nos conhecer. Todavia, não temos onde ficar. — agradeceu Annelise num vocabulário impecável, parecia ter nascido naquela época.

— Sim, claro! Eu sabia que vós não tínheis onde repousar, então achei conveniente conversar com minha irmã por qual tenho grande afeto e pedi-lhe que vos arranjassem um ambiente propício para ao menos se deitarem e esquivarem-se da garoa e do sol.

— Fico muito grata. Que Deus lhe pague! Podes-me dizer para onde vamos? — Anne tentava ao máximo se encaixar no tempo.

— Claro. Levar-lhes-ei para a casa de minha irmã Francesca, lá vós podereis residir até que obtenham outro lugar.

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L'ÉPOQUE - O Relógio do Tempo (CONCLUÍDA)Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang