CAPÍTULO III - Parte 3

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— Natalie! — exclamou Cecili, assustada. A primeira imagem que veio em sua mente fora dela amarrada a um tronco com uma fogueira ao seu redor, ardendo em chamas febris que subiam pelo seu corpo. Imaginação fértil.

— 2020? Futuro? Sois vós algum tipo de feiticeiras? Saiam de perto de mim e de minhas irmãs! — Natalie dava pequenos passos para trás, seus olhos arregalaram-se por tamanho medo das irmãs Lefebvre.

— Calma Natalie! Não, não somos bruxas. Por favor, só nos ouça. Posso explicar tudo.

Ainda alarmada e com o temor pulsando em suas veias, assentiu e seguiu as irmãs para algum lugar menos movimentado. A escolha fora um corredor silencioso e pouco iluminado. Annelise, da forma mais lisonjeira possível, explicou tudo, desde a ida das jovens ao sótão com Paul. Natalie ouvia tudo extasiada, ainda distante, mas obcecada pela história.

— Imploro-te que não conte a ninguém. Não estamos aqui para fazer o mal. Tudo isso não passa de um erro técnico. Tem que nos entender, seu tio é inventor, assim como o tio de Paul. Se pudéssemos consertar o L'époque... — Annelise tentava explicar enquanto Cecili jazia em silêncio engolindo os soluços.

— Não sei se devo crer em tua história, é tão inacreditável. E não posso omitir para minha família, não posso consentir que duas mentirosas habitem sob nosso teto. — Natalie encarou-as inquieta. Seu estômago embrulhava vorazmente, a raiva compulsiva e a incredulidade se alastravam pelo seu corpo.

— Mas não estamos mentindo! — choramingou Cecili. — Podemos te provar. Cadê o relógio Anne? Ande, mostre! Odeio que me chamem de mentirosa. — irritou-se apalpando a moderna bolsa de sua irmã. A loira observou o objeto, curiosa. Nunca havia visto uma bolsa de material tão liso, tão brilhoso e com tantos pequenos botões de ferro... Cecili encontrou o que buscava e mostrou o L'époque com ar de superioridade. Natalie só analisou, sabia exatamente que aquilo não existia, não que ela soubesse.

— Tudo bem. Guarde isso, não anseio ser tachada como a donzela que anda com feiticeiras de artefatos estranhos. — a jovem resmungou em aceitação retirando um sorriso da face das irmãs Lefebvre.

•••

Natalie adentrou seus aposentos mal podendo acreditar em tudo que ouvira. Sua família corria perigo? É o que mais se passava por sua cabeça. Não podia correr tal risco. As Lefebvres teriam de abrir o jogo se almejassem comprovar boas intenções. Passou as mãos por seus dourados cabelos e abriu a janela para observar o campo. Avaliou as irmãs se divertindo na grande varanda com as jovens Lefebvres. Pareciam tão dóceis e livres de especulações, mas um pensamento súbito passou por sua cabeça. Queria saber com quem estava realmente lidando. Percebeu que a oportunidade era perfeita, notou que Annelise havia deixado a tão estranha bolsa sobre sua cama. 

Natalie sabia o quão errado era o que estavas prestes a fazer, contudo as meninas também omitiram quem realmente era e usufruiu da boa vontade de sua família, então seria por uma boa causa. Aproximou-se do objeto, procurando por alguma brecha na qual pudesse abri-lo. Seu dedo recostou-se sobre um pequeno botão e o apertou, o que fez com que a bolsa se abrisse imediatamente, assustando-a. Revirando a bolsa encontrou um pequeno vidro revestido por, também pequenos, botões enumerados. Desenroscou sua tampa, na qual revelou abaixo de si um pequeno pincel parecido com os dos pintores da época, mas muito menor. Nunca havia visto nada igual aquilo, contudo o vidro lhe lembrava um perfume, então o levou às suas narinas para sentir seu aroma, espirrando logo em seguida, por causa do forte cheiro. Sua primeira sensação fora de que aquilo poderia lhe fazer mal. Seria alguma poção ou ingrediente para bruxaria? E o que seria aqueles botões? 

Natalie movida por sua curiosidade mórbida apertou com o dedo trêmulo o botão número cinco e encarou o líquido viscoso do vidrinho. O mesmo começou a perder o tom escurecendo para a cor vermelho sangue, fazendo a jovem arregalar os olhos. Um leve arrepio na espinha fez com que ela jogasse o artefato dentro da bolsa novamente. Era um esmalte de alta tecnologia, onde ao apertar os botões as cores mudavam, mas como poderia saber, não é mesmo?

Ainda com receio, voltou a remexer nas coisas de Annelise. Ao ver um pedaço de papel, ansiou saber o que estava escrito, contudo não parecia um papel comum. Era duro e não tinha escrita, havia apenas um botão na parte inferior. E acima desse botão havia um quadrado, um grande quadrado que ocupava todo o papel, e que lembrava a um vidro. Mas como podia ser tão fino? Insistente apertou um dos botões, fazendo com que o objeto transferisse uma luz. No mesmo pequeno quadrado havia uma imagem de Annelise. Seria uma pintura? Como a imagem era tão fiel a realidade? Era o smartphone de Annelise. Natalie estava pasma, seu coração batia descoordenado. Tudo aquilo era impossível que existisse. Nem seu tio que inventava geringonças, jamais haveria de fazer algo tão... Estranho. Apertou numa pequena imagem com um nanico símbolo indecifrável e a outra imagem apareceu no quadrado. Dessa vez uma escrita.

— G-o-o-g-l-e. Google! — pronunciou a palavra com dificuldade. Pensando logo em seguida sobre o que poderia significar aquele nome. — Será alguma palavra mágica?

— Falando sozinha Natalie? — uma voz apareceu do nada a assustando. Era Eloise. Natalie rapidamente escondeu o objeto no bolso do vestido.

— Oh! Só não consigo encontrar meu lenço. — inventou a primeira desculpa que veio em mente.

Maman está chamando para ajudar nos afazeres de casa. Venha logo! 

L'ÉPOQUE - O Relógio do Tempo (CONCLUÍDA)Where stories live. Discover now