23. are you going to age without mistakes?

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— Ah, droga...

Nina praguejou para si mesma assim que fez força nas palmas das mãos para se levantar, apoiando-se na barra de proteção da pista de gelo. Não tinha dúvidas que tinha ganhado um belo roxo na bunda depois daquela queda amadora na tentativa de concluir um lutz — salto que ela já tinha conseguido fazer incontáveis vezes na semana anterior.

— Você está bem? — Anna, uma das veteranas do clube de patinação, perguntou, indo em sua direção. — Eu acho que você se antecipou. Seu corpo estava muito para frente quando você voltou ao chão.

A alemã concordou com um murmúrio, esfregando as mãos pela legging escura que tinha ficado com raspas de gelo. Sabia exatamente onde tinha errado, mas sua cabeça — lotada, caótica, preocupada — não parecia estar muito empenhada para ajudá-la a acertar todos os saltos que praticava no treino daquela quarta-feira. Nenhum, na verdade. Sentia-se novamente como a criança que não conseguia dar dois passos no gelo sem agarrar o corpo da pessoa mais próxima.

Sem agarrar o braço, a perna, o tórax de Leo, em específico.

— Só preciso de um tempo — pediu, balançando a cabeça de uma lado para o outro para retirar aqueles pensamentos da sua vista. Não era hora. — Volto em um instante.

Voltou a se apoiar na barreira de segurança, colocando a proteção nas lâminas dos seus patins antes de desabar na arquibancada vazia. Naquela altura, seu corpo não parecia acompanhar a velocidade da sua mente: ela estava elétrica, ansiosa para patinar pelas próximas duas horas e se sentindo capaz de atravessar o campus inteiro da Oak em uma corrida sem pausa. Mas suas articulações doíam, seus pés latejavam e seus músculos queimavam graças aos grandes esforços dos últimos dias e à inexistência de um tempo de descanso.

Desde o fim de semana, estava ficando na república dos garotos. O clima tinha ficado mais agradável entre Remi e Nate — que já eram capazes de se entreolhar por mais de um segundo —, mas toda a atmosfera ao redor dos três era asfixiante. Todos estavam preocupados com Leo — e com sua saúde mental —, e não faziam questão de esconder isso. Remi entrava no quarto dele pelo menos quatro vezes por turno, todas sem bater. Nate, ao mínimo, batia para avisar sua entrada, oferecendo qualquer coisa que ele estivesse preparando na cozinha mesmo que tivessem acabado de comer.

Era o jeito deles de se preocuparem. Remi, sendo inconveniente. Nate, enchendo a geladeira de uma forma que não havia mais lugar para uma nova torta ou receita que ele resolvera experimentar. O de Nina era não dormir.

Não por não achar uma posição confortável, já que adormecer nos braços de Leo outrora era a canção de ninar mais efetiva que ela conhecia, mas pela incapacidade de desligar suas preocupações. Cochilava e acordava — no susto — após um sonho ruim. Virava de um lado para o outro na cama macia, cuidadosa para não acordar Hawkins nas poucas horas de sono que ele tinha. Apertava os olhos, esperando que isso funcionasse. Contava carneirinhos, porquinhos, cavalinhos, até não existir mais nenhum animal na fazenda que conhecesse para incorporar aos seus sonhos.

Desistia sempre perto das quatro da manhã quando percebia que nada funcionaria. Levantava para tomar um banho, ler alguma matéria atrasada — todas elas estavam, naquela altura — ou descia para tomar um ar, não mais se assustando quando encontrava Remi também acordado na sala.

A notícia parece ter invadido suas entranhas sem pedir licença. Não trocavam uma palavra, mas Nina se ocupava em contar quantos cigarros ele fumava em um curto espaço de tempo, até amanhecer. Nem sabia que Remi fumava até passar tanto tempo em sua companhia.

A falta de sono também tinha um motivo óbvio: Nina estava começando a racionar o número de comprimidos que tomava por dia. Não restava muito depois da semana anterior, mas aquele estimulante começava a fazer falta no seu sistema. Abriu a bolsa, retirando metade de um comprimido de dentro do frasco, suspirando ao ver que só restavam mais dois ali dentro. Engoliu sem precisar de água, estalando seu pescoço de um lado para o outro antes de voltar a atenção ao treino que acontecia bem na frente dos seus olhos.

Dirty Laundry ✅Where stories live. Discover now