16. dry your smoke-stung eyes so you can see the light

1.4K 144 226
                                    

— Ele não foi ao seu aniversário?

— Não — Claire respondeu, sorrindo tristemente. Era difícil falar sobre Remi. Era muito difícil confessar que ainda se importava. — Depois disso, eu só ficava sabendo dele pela Liv e ela parou de falar depois de um tempo, quando ele resolveu aparecer com outras pessoas. E depois teve o prêmio de mérito também. Ele sabia o quanto eu queria isso, Nina.

A alemã suspirou, abaixando seus olhos. Remi era uma pessoa complicada, ela podia dizer isso só de olhar para o seu rosto. Não fazia ideia que ele e Claire — que pareciam tão diferentes — tivessem passado por tanto juntos. Eram como fogo e gasolina. Entendia agora o motivo de sempre manterem os dois afastados.

— Ninguém sabe? — perguntou, juntando as sobrancelhas enquanto esperava por uma resposta. — Leo, Nate...

— Leo sabia no começo, mas duvido que saiba a história toda. Nate não faz ideia e eu deixei tudo pra trás quando descobri que eles estavam indo morar juntos — Claire murmurou, dando de ombros. — Nunca entendi isso. Ele se afastou, mas deixou marcas em todos os lugares. Vez ou outra eu encontro... Esses desenhos nas minhas coisas. Eu sei que é ele que deixa.

A assinatura não deixava espaço para segundas interpretações. Era óbvio que aqueles desenhos eram feitos por Remi, mas nenhuma das duas conseguia formular uma teoria boa o suficiente para explicar isso.

— Você ainda sente algo por ele? Lá no fundo?

Claire titubeou antes de responder. Não sabia se, algum dia, conseguiria não sentir. Tudo com Remi foi intenso e talvez isso que tornou aqueles meses os mais inesquecíveis da sua vida. Gostava do que tinha conhecido de Remi Vince. Gostava de quem ele era quando só estavam os dois, espalhados na casa dele ou no apartamento dela. Ainda tinha muita mágoa, mas o carinho do que sentira naquele tempo talvez pra sempre ficaria ali, dentro dela.

— Não sei e... Não sei se quero saber — respondeu, sorrindo ao deixar o porta-retrato de volta na sua mesa de cabeceira. — Agora sobre a sua roupa suja... Como ninguém pode saber da overdose?

— Meus pais fizeram um bom trabalho mantendo isso longe dos jornais — Nina respondeu, dando de ombros. Ainda havia muita coisa no mundo que o dinheiro podia comprar e o silêncio era só mais uma dessas. — Aconteceu há um ano, mais ou menos. No começo foi insuportável, eles checavam de minuto em minuto se eu estava bem e eu não podia dar um passo para fora de casa. Depois, nós começamos a trabalhar na reconstrução da confiança na terapia.

Não tinha sido um caminho fácil. Demorou muito tempo para seus pais entenderem que perdê-la de vista não significava perdê-la para sempre. O excesso de proteção e as milhares de perguntas por segundo desencadearam episódios de crises de pânico que às vezes eram tão ruins quanto aquelas que ela tinha quando estava tomando Adderall. Nina sabia que não era culpa deles e que o comportamento era válido pela proporção da situação, mas odiava a preocupação absurda que vinha dos pais depois do acontecido.

Foi quando a oportunidade de ir para Silvermount surgiu e, depois de longas conversas com sua psicóloga e sua família, seus pais a permitiram sair de casa com uma lista de obrigações.

Tinha que ligar para eles a cada quatro horas. Ainda continuaria com suas consultas semanais. Não se encheria de tarefas como tinha feito em Dortmund. Ficaria longe de qualquer medicamento. Teria todos seus cartões vigiados e se testaria a cada três meses.

Ainda estava na janela dos primeiros três meses, mas sabia que teria que parar com o Adderall logo depois do teste no gelo ou seria pega no exame. Tinha contado tudo. Planejado cada detalhe. Isso, por si só, já a entregava que não estava bem.

Dirty Laundry ✅Where stories live. Discover now