epílogo

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something always brings me back to you
It never takes too long...


— Porra, eles são bons!

— Por Deus, Remi, limpe sua boca.

— Desculpa — murmurou com os braços cruzados, tentando acompanhar com os olhos o puck que corria pelo gelo em alta velocidade. — Pitangas, eles são bons!

Leo jogou a cabeça para trás, sorrindo de orelha a orelha com o comentário do amigo. Era impressionante que mesmo com um corte de cabelo diferente, tatuagens novas em seus braços e um status relativamente superior, Remi Vince continuava o mesmo.

Agora ele era uma estrela da NHL. Ganhava um salário alto, estampava propagandas durante o horário nobre, levantava troféus grandiosos e recebia destaque como uma das mais jovens revelações no gelo. Ainda assim ele estava ali, sentado nas arquibancadas vazias do centro de treinamento com os braços cruzados, um capuz de moletom escondendo seus cabelos loiros e os olhos atentos nas crianças que patinavam de um lado para o outro carregando sticks que eram quase de sua altura.

— O número vinte e dois está dando muito trabalho para o outro time — Remi murmurou e Leo concordou, sorrindo de orelha a orelha.

A número vinte e dois. Becca. Ela é de outro mundo, juro a você — sorriu, desviando o olhar do amigo para seus alunos. Acompanhava as jogadas com atenção, tentando não perder nenhum instante, fazendo anotações mentais no caminho. — Ela deixa todo mundo para trás.

— Seus olhos estão brilhando como os de um pai orgulhoso, Hawkins! — Remi o provocou, empurrando-o com o ombro. — Quem diria, cara?

"Quem diria". Talvez essas fossem duas boas palavras para resumir a vida de Leo Hawkins.

Achava que iria disputar a NHL. Uma carreira profissional, rios de dinheiro e aposentadoria antes dos quarenta. Achou que toda sua vida estava desenhada, traçada, quando ele tinha vinte e dois anos. Ou melhor, até ter vinte e dois anos.

Formou em Silvermount. Se mudou para Boston no mês seguinte, depois de conseguir um trabalho como treinador auxiliar da primeira turma de crianças da cidade. Encontrou naquela profissão um novo amor. Aproveitou um ano inteiro ao lado do seu pai para recuperar o tempo perdido até se mudar para Nova Iorque, aceitando uma vaga ainda mais promissora como treinador oficial de um programa que treinava crianças de cinco a dez anos. Abraçou novos hobbies, recuperou antigas partituras de piano da sua mãe e tocava ao menos três vezes na semana assim que chegava do trabalho. Aprendeu muito sobre hemofilia, participando de vários grupos de apoio que o ajudaram a ver a doença como parte de si. Entendeu suas limitações e trabalhou em cima de cada uma delas, se permitindo patinar uma vez ou outra em pistas de gelo da cidade que ficavam próximas da arena só para não perder a prática.

Conheceu novas pessoas, perdeu contato com outras. Quebrou corações e se permitiu sentir a dor de ter o seu quebrado, a cada dia que passava. Assistiu Nate disputar o Super Bowl. Sorriu igual um idiota quando viu Remi fazer seus primeiros pontos na liga nacional de hóquei.

Ele tinha vinte e cinco agora e não mudaria nada do que acontecera nos últimos anos.

— Droga, preciso ir — Remi anunciou ao olhar para o relógio em seu pulso, levantando em um pulo. — Preciso pegar minha garota no aeroporto.

— Oh, ela finalmente está de volta à cidade? — Leo perguntou, arqueando as sobrancelhas. — Ela terminou aquele curso que estava fazendo?

— Sim, mas provavelmente já deve ter outro em mente. Você sabe como ela é — Remi comentou com um sorriso orgulhoso nos lábios antes de dar de ombros. — Por que não vem jantar com a gente essa semana? Se seu apartamento é silencioso, você sabe que o nosso definitivamente não é...

Dirty Laundry ✅Where stories live. Discover now