21. tell me I've been lied to, cryin' isn't like you pt. 2

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Leo nunca pensou muito em sua mãe até completar doze anos de idade. Quando as festas do colégio se tornaram estranhas e a pergunta 'onde está sua mãe' estava em todos os lugares.

Quando isso aconteceu, ele começou a pensar em Emma com muita frequência. Sempre que via uma foto dela pela casa — com olhos escuros como os seus e um sorriso que o recordava muito do seu próprio — imaginava o contexto em que tinham sido tiradas. Sua preferida era a que sua mãe sorria para câmera — ou para Sean, atrás dela — com os olhos quase fechados e um vestido florido no corpo. Adorava aquele sorriso. Gostava de vê-lo no reflexo e sempre se perguntava o que mais tinha em comum com Emma. Alguma mania? Gosto musical? Senso de humor refinado? Eram perguntas sem respostas.

Aos treze, os pesadelos começaram. Foi quando Leo começou a pensar sobre como tinha sido o fatídico dia que ele tinha chegado ao mundo — e que Emma tinha deixado. A cena era sempre a mesma: uma sala de operação como nos filmes — era o único cenário que conhecia —, um bebê quieto nos braços de Emma — que tinha as feições das fotos — e Sean parado ao seu lado, observando os dois. Tudo acontecia rápido demais. Alguém puxava Leo dos braços de Emma, um choro agudo explodia na sala — dele, obviamente — e retiravam Sean da sala antes que ele pudesse chegar até a esposa. Às vezes, Leo se questionava se tinha como aquela ser uma memória do seu subconsciente ou se aquilo era impossível. E, mesmo ao descobrir que era impossível para ele guardar qualquer memória logo após ter nascido, era a cena que ele jurava ter acontecido.

Toda vez que acordava daqueles pesadelos — muito suado e com as mãos trêmulas —, Sean estava parado ao lado da sua cama. Nunca fora bom com palavras, mas colocava o filho de volta na cama, o cobria com seu cobertor favorito e deixava a luz do abajur acesso prometendo que aquilo manteria os pesadelos longes. Quando Leo tinha aqueles pesadelos, porém, havia sempre uma pergunta na ponta da sua língua que sempre saía com pouquíssima força em direção ao pai: "onde está ela, papai?"

A resposta de Sean era sempre a mesma. "No céu, Leo. Sua mãe é uma estrela. Sua estrelinha".

Sempre repetia as palavras do pai em silêncio quando ele deixava o quarto. E, ao encarar as estrelas luminosas do seu quarto, sorria sozinho e voltava a dormir em paz. Não tinha o que temer. Sua estrelinha estava ali. Sua estrelinha sempre estaria ali.

Leo encarava, agora, as mesmas fotos da mãe na parede, enquanto Sean esperava que ele falasse alguma coisa — qualquer coisa. Não era só o sorriso que Leo carregava da mãe. Nem os olhos escuros. Ele também carregava aquela doença que o impediria de realizar todos os sonhos que um dia ele tivera.

— Ela sempre soube? — Leo perguntou, sem encarar o pai sentado no sofá a sua frente. Era amargo que aquele segredo tinha sido guardado por tanto tempo. — Você sempre soube?

— Sua mãe descobriu quando era pequena — Sean explicou, engolindo em seco. As palmas das mãos suavam e suas sobrancelhas estavam arqueadas em preocupação. — Ela me disse desde o começo. Em uma das primeiras vezes que nós saímos, na verdade. Ela me disse 'eu tenho uma doença e provavelmente vou passar para nossos filhos, então fique a vontade para dar um passo para trás agora'.

A simplicidade da frase — e o peso que ela carregava — fez Sean sorrir, incrédulo, no momento. Quando percebeu que não era uma brincadeira de Emma, sua expressão ficou séria. Apertou a mão dela e a avisou que não iria a lugar nenhum.

O caso de Emma não era tão grave como o de Leo. Ela precisava tomar as injeções recomendadas periodicamente, mas sua grande paixão não trazia risco a sua vida: Emma gostava de tocar piano, cuidar das flores da sua casa e tirar fotos. A hemofilia não impedia que ela fizesse todas essas coisas e ainda beijasse Sean durante os intervalos.

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